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Economistas cobram medidas efetivas do governo contra a crise

Analistas do cenário veem posições contraditórias em relação à valorização do dólar, por exemplo, e alertam que falta de clareza é perigosa

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Uma semana que teve início com bolsas despencando no mundo todo, com direito à maior queda em um pregão no Brasil desde 1998 (-12,17%); dólar comercial quase atingindo a marca dos R$ 5; e tombo no preço do petróleo puxando para baixo vários outros mercados mundiais foi vista pela equipe econômica do governo federal com “tranquilidade”.

A posição segue a mesma linha de pensamento expressada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, há cerca de um mês, quando o “posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro naturalizou também a possibilidade de hipervalorização da moeda norte-americana. Analistas econômicos, contudo, apontam problemas que complicam a calma aparente do chefão da economia brasileira e de seus assessores mais próximos.

Para o economista André Perfeito, por exemplo, a política de câmbio do governo de Jair Bolsonaro pode não ser eficiente diante do cenário de baixíssima atividade econômica mundial.

Ao mesmo tempo que o dólar alto em relação ao real pode ser um estímulo à exportação de produtos brasileiros, a demanda mundial está em baixa. “Exportar para quem?”, questiona Perfeito, economista-chefe da corretora de valores Necton.

“Ao se colocar de forma serena, Paulo Guedes está sendo o ministro da Economia, não esperava uma fala diferente do ministro. O fato do dólar subir mais pode ajudar a exportar mais. De fato, ele tem alguma razão nisso. O problema é que tem que combinar com os russos, porque a gente identifica uma atividade econômica baixa. Em função disso, a gente vai exportar para quem?”, explica Perfeito. “Esse nível de câmbio não ajuda necessariamente, porque o resto da atividade global está muito fraca.”

Perfeito alerta ainda que o próprio governo e o Banco Central emitem sinais contraditórios ao mercado e que isso não deixa clara a política econômica a ser seguida.

“O Banco Central está se esforçando muito para diminuir a volatilidade. Se o ministro aponta que está confortável com isso, é como se ele sinalizasse para o mercado: olha, até pode subir mais”, destacou o economista. “O Banco Central e o governo têm que decidir se eles querem deixar o câmbio flutuar ou não. Isso é uma decisão deles que não está clara.”

“Sinais trocados”
Para o economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), os sinais contraditórios emitidos pela equipe econômica e pelo Banco Central lançam mais incertezas no mercado brasileiro.

Todas as vezes que há uma declaração como esta do ministro da Economia nesse sentido é como se incitasse ainda mais uma desvalorização da moeda nacional. Aí se vê o Banco Central trabalhando no sentido contrário. Um toca fogo no parquinho e o outro vem para tentar apagar”, destacou.

Para Marques, no entanto, a posição de Guedes, de tentar dar um ar de normalidade ao cenário, acaba passando muito mais a ideia de que o governo não tem remédio para um enfrentamento eficaz de uma crise motivada pelo cenário internacional.

“O momento não é para fazer cara de paisagem”, destacou. “Uma autoridade não pode tratar uma situação crítica, com altíssima desvalorização da moeda nacional, como algo normal. Eu estou perplexo. Assim, demonstra ao mercado que não se tomará nenhum tipo de atitude. Ninguém sabe para onde vai e se há ou não uma preocupação com o fato de a moeda nacional se desvalorizar tanto”, avaliou.

“Mostrar que está acompanhando, que a crise está no radar, seria o mínimo para esperar o que realmente vai ocorrer”, disse o economista.

Ambiente político
Marques alerta ainda para o fato de que a reação do governo aponta para reformas que ainda precisam passar pelo Congresso. Em sua opinião, além de não se ter uma certeza de que as mudanças na estrutura do Estado e na forma de cobrança de tributos trarão benefícios suficientes para a economia, o próprio presidente cria um clima de animosidade com o Congresso, como ao chamar manifestações para o dia 15 de março.

Embora o presidente não fale de modo explícito, os protestos e os chamamentos nas redes sociais dão o caráter antiparlamento, servindo para arruinar ainda mais a relação do Planalto com lideranças da Câmara e do Senado.

“O próprio presidente já falou que ele não entende de economia. Se ele está sendo orientado pelo Paulo Guedes a falar isso, não é algo construtivo”, criticou. “As reformas são importantes, mas não são suficientes. Não existe essa certeza. Se fossem feitas todas as reformas, a administrativa, a tributária, nada nos garante que elas seriam capazes de criar um novo ambiente para o investidor.”

Infraestrutura
Para Newton Marques, o governo não tem feito nada muito efetivo para resolver o problema do endividamento das famílias e pouco investido na infraestrutura. “Apesar de os juros terem caído, ainda estão muito elevados e as famílias, endividadas”, observou.

“A curto prazo, o governo deveria investir em infraestrutura. A ideia era dar condições ao setor privado de investir, no entanto, as privatizações não andaram e, nesse clima de embate com o Congresso, não vão andar. Algumas coisas precisam ser feitas. Se o governo tivesse condições de implementar obras de infraestrutura, incentivando o setor privado, seria o ideal”, defendeu.

Circuit breaker

Nessa segunda, a Ibovespa desabou 10% logo na abertura, provocando o circuit breaker, ou seja, a interrupção das negociações. Na volta das operações, os índices permaneceram em queda – e fecharam com queda de 12,17%, o maior tombo em quase 22 anos.

Para tentar conter a disparada do dólar, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões à vista das reservas internacionais. No início da manhã, o BC cancelou o leilão de US$ 1 bilhão que faria e triplicou o valor. A decisão se deu por “condições do mercado”, de acordo com a assessoria de imprensa do BC.

Às 9h53 a moeda americana era cotada a R$ 4,7482, com aumento de 2,47%, depois de ter atingido a máxima de R$ 4,7927. No fim do dia, a divisa fechou o pregão a R$ 4,727.

O tombo no preço do petróleo se deu por falta de acordo entre a Arábia Saudita e a Rússia em relação ao valor da commodity e a possíveis cortes na produção.

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