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Debandada na cúpula econômica do governo já soma 12 nomes

Desde o início do governo, entra e sai na economia é grande. Principal motivo apontado é o abandono da agenda de reformas

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Ministro Guedes coletiva economia
1 de 1 Ministro Guedes coletiva economia - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Na última quinta-feira (18/3), o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, entregou o seu cargo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Com essa baixa, já são 12 os integrantes da área econômica que batem em retirada desde o início do governo. Em comum, alegam descontentamento com os atrasos nas reformas administrativa e tributária e desconfiança de que as agendas de privatizações e a pauta liberal mais ampla serão mesmo tocadas.

O próprio ministro já reconheceu os desfalques constantes no seu time ao comentar no fim do ano passado a saída de dois secretários. “Houve uma debandada. Salim (Mattar) falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade”, lamentou em entrevista coletiva na época.

Mattar e Uebel eram responsáveis pelas áreas de privatização e desburocratização, respectivamente.

Passados sete meses da sua saída do cargo, Uebel revelou ao Metrópoles seus motivos. Disse que conversou com Paulo Guedes diversas vezes sobre sua insatisfação com a não priorização por parte do governo das privatizações e das reformas. A partir disso, avaliou que seria mais útil fora do governo. “Acredito que cumpri minha missão de deixar a parte de compras públicas mais dinâmica e espero que isso se mantenha”, afirmou.

Pelo Twitter, onde tem 15,6 mil seguidores, o ex-secretário segue demonstrando sua insatisfação. Recentemente, um dos seus posts, que questionava justamente a interferência do governo em empresa pública, foi rebatido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

“Dia muito triste para o Brasil. Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, será substituído por estar fazendo o trabalho certo: blindar uma empresa estatal contra o uso político, contra o populismo”, escreveu.

“Todo respeito, Uebel, mas não há interferência para ganhar votos. Não pode a todo momento um governo ser acusado disso quando troca pessoas em uma empresa”, rebateu o filho “03” de Bolsonaro.

Assim como Uebel, Rubem Novaes deixou a presidência do Banco do Brasil incomodado por ver a agenda liberal naufragando. “Há toda uma cultura política em Brasília que me desagrada, assim como me desagradou perceber que a privatização, que tanto poderia beneficiar o banco, não estava nas cogitações do governo”, contou ao Metrópoles.

A economista Elena Landau, que foi diretora do BNDES no governo de Fernando Henrique Cardoso, disse que “não é normal essa quantidade de gente sair de seus cargos”. “Isso é reflexo do erro de ter juntado tantos ministérios em um só. Com isso, as pessoas passam a ser desvalorizadas e perdem autonomia”, avaliou a especialista.

Para cumprir a promessa eleitoral de reduzir o número de ministérios, Bolsonaro fundiu as pastas da Economia, do Planejamento, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e também parte do Ministério do Trabalho. O que antes era comandado por quatro ministros passou para o controle de Paulo Guedes, razão pela qual ganhou o economista apelido de “superministro”.

Até agora, já deixaram suas cadeiras Joaquim Levy (presidente do BNDES), Marcos Cintra (secretário da Receita Federal), Marcos Troyjo (secretário de Comércio Exterior), Rubem Novaes (presidente do Banco do Brasil), Caio Megale (secretário da Fazenda), Mansueto Almeida (secretário do Tesouro Nacional), Salim Mattar (secretário de Desestatização), Paulo Uebel (secretário de Desburocratização), Wagner Lenhart (Gestão e Desempenho de Pessoal), Fernando de Holanda Barbosa Filho (Políticas Públicas para o Emprego), José Ziebarth (Programa de Desburocratização) e André Brandão (Banco do Brasil).

“Essas pessoas entenderam que trabalhar na Economia é um projeto furado. Geralmente se tem no ministro da Economia a resistência. Quando vemos que nenhuma reforma está sendo implementada já nota-se essa fraqueza. Os demissionários deviam ter percebido antes que o Bolsonaro não mudou de opinião em relação às privatizações, as quais sempre se manifestou contra, e que Guedes nunca teve nenhuma experiência na governança política”, afirma Landau.

9 imagens
Joaquim Levy (BNDES)
Marcos Cintra (Receita Federal)
Marcos Troyjo (Comércio Exterior)
Rubem Novaes (Banco do Brasil)
Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual
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Salim Mattar (Desestatização)

FIESP/Divulgação
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Joaquim Levy (BNDES)

Elza Fiúza/Agência Brasil
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Marcos Cintra (Receita Federal)

José Paulo Lacerda
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Marcos Troyjo (Comércio Exterior)

Divulgação/FecomerciSP
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Rubem Novaes (Banco do Brasil)

Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual

Reprodução/Youtube
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Paulo Uebel (Desburocratização)

Reprodução/Twitter
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Wagner Lenhart

Edilson Rodrigues/Ministério da Economia
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André Brandão (Banco do Brasil)

Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Lentidão do Estado

Uma das saídas mais sentidas na economia foi a do empresário Salim Mattar, apoiador de Bolsonaro desde a campanha. Em entrevista ao G1, o ex-secretário de Desestatização disse que decidiu deixar o cargo “porque é um animal do setor privado que não se adaptou à lentidão do Estado”.

Logo após sua demissão, o secretário publicou um vídeo em seu Instagram dizendo que foi para o governo com uma agenda liberal. “Nosso objetivo era proteger o cidadão pagador de impostos. O que a gente pretendia fazer era vender estatais, o que nós encontramos foi um estado cheio”, criticou.

A demissão de Mattar teve efeito no Planalto. Bolsonaro chegou até mesmo a se manifestar na época defendendo a privatização de empresas públicas. “O Estado está inchado e deve se desfazer de suas empresas deficitárias, bem como daquelas que podem ser melhor administradas pela iniciativa privada”, escreveu, em publicação nas redes sociais.

No entanto, para o ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério de Planejamento do governo de José Sarney, o economista Raul Velloso, a expressiva presença de militares indicados por Bolsonaro para o comando de estatais representa a real preferência do presidente.

“Essa ideologia pró-privatização acredito que seja uma convicção do ministro da Economia (Paulo Guedes), não do presidente. Nunca ouvi Bolsonaro falar de privatização e das vantagens disso, em comparação com as empresas públicas. Na prática, na hora em que Bolsonaro enche estatais de militares, ele não está querendo preparar uma empresa para a privatização”, disse Velloso ao Metrópoles.

Entre os nomes da Economia que pediram as contas, Mansueto Almeida é uma voz isolada. Ele afirmou ao Metrópoles que se impôs um prazo para ficar no cargo combinado com Guedes. “Eu não me decepcionei com ritmo de privatização, porque é uma agenda que requer tempo para andar, e o governo parece que pode conseguir privatizar Eletrobras este ano. Não saí por decepção. Eu estava no governo desde maio de 2016, e fui o único da equipe anterior que ficou. Acabei ficando mais tempo do que havia originalmente combinado.”, disse.

Procurado, o Ministério da Economia não se manifestou e orientou o Metrópoles a buscar no Diário Oficial da União os nomes de todos os exonerados até agora.

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