Crise gera perda do poder de compra e endividamento
Pesquisa aponta que 57% da população precisou mudar hábitos de consumo
atualizado
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A crise econômica vivida no Brasil é plenamente percebida pela população e, como consequência dela, os brasileiros veem seu poder de compra cair e seu nível de endividamento aumentar. Além disso, 57% da população precisou mudar hábitos de consumo para sobreviver às turbulências. É o que mostra o estudo ‘Retratos da Sociedade Brasileira’ divulgado nesta quarta-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Realizado em parceria com o Ibope, o levantamento ouviu mais de 2 mil pessoas de 141 municípios no período de 18 a 21 de julho sobre três questões: mercado de trabalho; renda e endividamento; e inflação e consumo.
A pesquisa mostra que, ao serem questionados se concordavam com a frase “O Brasil está vivendo uma crise econômica”, 86% dos entrevistados responderam sim, que concordavam. Mais do que isso, o número de pessoas que enxergam a situação econômica do País como ruim ou péssima aumentou consideravelmente. Agora, 66% da população tem essa avaliação, contra os 21% verificados em setembro de 2013.
O impacto da perda do emprego é mais sentido pelas famílias do Sudeste, onde 46% dos consultados relataram demissão de pelo menos um familiar. O impacto é menor no Sul (39%), mas também é alto no Norte/Centro-Oeste (43%) e no Nordeste (44%).
Segundo a pesquisa, diante da perda do emprego, nos últimos 12 meses, 48% dos brasileiros buscaram trabalho extra para complementar a renda e, em 40% das famílias, pessoas tiveram que voltar a trabalhar para ajudar com as contas da casa.
Um dado positivo nesse cenário, porém, é que, para fugir da crise no mercado de trabalho, os brasileiros têm recorrido à qualificação profissional: 24% deles voltaram a estudar por medo de ficarem desempregados. A maior parte dos que procuraram qualificação é de jovens (37%), com idade entre 16 a 24 anos.
Quanto ao futuro, as expectativas não são boas e mostram que os entrevistas acham que tudo pode ficar pior. De uma maneira geral, o brasileiro não acredita numa solução para a crise no curto prazo. Mais da metade (54%) dos entrevistados acham que a economia vai piorar nos próximos 12 meses e 19% que nada vai mudar.
Por região, os moradores do Sudeste são os que mais classificam a situação do Brasil como ruim ou péssima (71%), frente aos habitantes do Sul e Nordeste (63% cada) e aos das regiões Norte/Centro-Oeste (60%).
Sobre o futuro, as regiões Norte/Centro-Oeste e Nordeste são as mais otimistas, com 29% e 26%, respectivamente, de entrevistados que acreditam que a economia brasileira estará melhor daqui a 12 meses. No Sul e no Sudeste, apenas 20% dos entrevistados, de cada região, acreditam em melhora.
Renda e endividamento
Quando o assunto é padrão de vida, 42% dos entrevistados consideram que sua renda diminuiu, dos quais 22% consideram que diminuiu muito nos últimos 12 meses, enquanto outros 20% afirmam que diminuiu um pouco. Para 34%, seu poder de compra nos últimos 12 meses caiu muito e para outros 25% caiu um pouco.
A pesquisa ainda mostra que 29% dos entrevistados tiveram dificuldade para pagar o aluguel ou a prestação da casa própria nos últimos 12 meses. O porcentual é superior aos verificados em 2012 e 2013.
Também nos últimos 12 meses, 60% dos brasileiros passaram por dificuldade para pagar suas contas ou compras a crédito. “Esse porcentual é superior aos verificados em setembro de 2013 e setembro de 2012, quando 45% e 47% tinham passado por essa dificuldade nos 12 meses anteriores, respectivamente. Isso aponta para uma piora na situação financeira das famílias nos últimos três anos”, destaca o estudo, que ainda revela que 64% estão muito preocupados em perder o padrão de vida que têm hoje
No quesito endividamento, 37% afirmam ter adquirido dívidas nos últimos 12 meses para cobrir suas despesas ou de sua família. Pelo estudo, fica constatado que o número de pessoas que contrai dívidas para pagar contas vem aumentando: passou de 30% em setembro de 2012 para 34% em setembro de 2013, chegando agora a 37% em junho de 2015.
Nos últimos 12 meses, 34% dos brasileiros ficaram mais endividados, sendo 11% muito mais endividados e 23% mais endividados. A maior parte das dívidas assumidas não foram planejadas, segundo 53% das respostas.
Entre os brasileiros que dizem ter aprofundado seu nível de endividamento nos últimos 12 meses, 30% afirmam que o principal motivo foi o pagamento de dívidas anteriores. O pagamento de gastos correntes da casa, como aluguel, água, luz, telefone e compras do mês, aparecem estatisticamente empatados como principal motivo, com 28% de respostas.
Quando questionados sobre o grau de facilidade para pagar seus empréstimos, parcelamentos ou financiamentos, 20% afirmaram que está muito difícil, 36% afirmaram que está difícil e 33% que está razoável, totalizando 89% de pessoas com alguma dificuldade de quitar suas dívidas.
Entre os consultados, 20% afirmam ter vendido bens nos últimos 12 meses para pagar dívidas. O porcentual passa de 14% entre os brasileiros de renda familiar superior a cinco salários mínimos para 27% entre aqueles cuja renda familiar é inferior a um salário mínimo. “Isso é mais um indício de que a crise afeta as famílias de menor renda de forma mais intensa”, cita o estudo.
Inflação e consumo
A pesquisa ainda mostra que 57% dos brasileiros alteraram hábitos de consumo ou planejamento financeiro em função da crise e que outros 21% disseram que pretendem alterar. O estudo mostra, por exemplo, que 16% das pessoas mudaram de residência para reduzir custos e 13% tiraram os filhos de escola privada para escola pública nos últimos 12 meses.
Segundo a pesquisa, mais brasileiros estão ajustando seus hábitos do que na crise de 2008/2009, quando 30% disseram ter ajustado seus hábitos e no máximo 27% pretendiam alterar.
“A crise de 2008/2009 afetou particularmente a indústria, mas o consumo doméstico ainda estava em crescimento e ajudou na recuperação. Já a crise atual atinge toda a economia e vem afetando o emprego e a renda da população bem mais significativamente. Tanto o investimento como o consumo das famílias estão diminuindo. Além disso, a crise política, que não existia na crise anterior, tem aumentado a incerteza com relação à recuperação”, disse o gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.