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Crédito no Brasil deve crescer após dois anos de retração

A expectativa se deve à queda no endividamento das famílias e, consequentemente, na trégua na inadimplência

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Depois de dois anos ladeira abaixo, o crédito no Brasil deve voltar a crescer em 2018. A expectativa se deve à queda no endividamento das famílias e, consequentemente, na trégua na inadimplência, o que contribui para aumentar o apetite dos bancos para emprestar.

O cenário mais benigno da economia brasileira, com juros e inflação em patamares mais baixos, deve permitir, segundo executivos de bancos, que o crédito cresça entre 4,5% e 8,0% no próximo ano, isso tanto para pessoa física quanto para empresas

O movimento se dará apesar de 2017 terminar sem solução do ponto de vista fiscal, com a votação da reforma da Previdência adiada, e da agenda das eleições. “De fato, os bancos estão otimistas em relação aos empréstimos ao consumidor”, avalia o analista do Deutsche Bank, Tito Labarta. Ele atenta, porém, para o fato de que as eleições presidenciais devem trazer volatilidade. Para Labarta, o saldo de empréstimos pode crescer ao redor dos 6% em 2017 e 8% em 2019.

Contenção
Mas, em geral, os analistas que acompanham o setor bancário estão mais contidos. Casas como Credit Suisse, BB Investimentos e Bradesco esperam que os empréstimos cresçam mais perto dos 4,0%, mesmo caso da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Isso porque, embora os bancos esperem compensar com volume a redução das margens por conta dos juros baixos, o temor de aumento futuro de inadimplência, lembra o executivo de uma grande instituição, faz com que o apetite, ainda que maior, continue seletivo.

Segundo as projeções divulgadas na semana passada pelo Banco Central (BC), o saldo de crédito total deve crescer 3% no próximo ano, puxado pelas pessoas físicas. Enquanto os empréstimos para indivíduos devem se expandir em 7,0% no próximo ano. Para pessoas jurídicas, a autoridade monetária espera queda de 2%.

Termômetro
O início do ano servirá de termômetro com relação à melhora na concessão de recursos. Pelos cálculos do BB Investimentos, a expansão acumulada em 12 meses deve voltar ao terreno positivo já no 1.º trimestre de 2018.

“O crédito já está apresentando tração. O aumento da demanda é evidente no número de propostas diárias. Já sentimos aumento do crédito novo e não só aquele para renegociação de dívida. Isso está ficando para trás”, avaliou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em conversa com jornalistas na semana passada.

No acumulado de 2017, o crédito caminha para mais um ano de retração, já que o financiamento novo ainda não é suficiente para suprir os vencimentos antigos. Até novembro, o saldo encolheu 1,3% ante igual intervalo de 2016, para R$ 3,064 trilhões, segundo dados do Banco Central.

Diante desse desempenho, o regulador revisou para baixo sua projeção. Espera que o saldo total de crédito não fique mais no zero a zero, mas que encolha 1,0%.

Apesar disso, para este mês os executivos demonstram mais otimismo. O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, afirmou, em evento na B3, que o mês marcará o maior desembolso do ano em termos de volume de crédito na instituição. O movimento, além da questão sazonal, reflete a retomada da economia brasileira. “A expectativa é de que a situação para os bancos seja melhor em 2018, com uma realidade melhor”, afirmou o executivo.

Em paralelo, o tema do custo do crédito deve ganhar destaque em 2018. Nessa semana, o BC indicou que, passado o movimento mais forte de queda dos juros, se debruçará na questão do custo do crédito. Já liberou, inclusive, R$ 6,5 bilhões em depósitos compulsórios. Embora o valor seja pequeno perto do estoque preso junto ao regulador – de quase meio trilhão de reais -, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que no próximo ano a autoridade vai avançar no assunto. O ano de 2017, conforme ele, foi de simplificação dos depósitos compulsórios.

Gosto amargo
Ainda que 2018 possa ser o ponto de virada para o crédito no Brasil, o crescimento esperado pelo segmento está distante do patamar visto no período pré-crise, quando o saldo crescia dois dígitos no ano.

Na opinião do presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Hilgo Gonçalves, o País atravessa um momento divisor interessante, no qual, após anos de forte expansão dos empréstimos, com maior endividamento da população e aumento da inadimplência, há uma mudança de postura por parte de indivíduos e empresários no sentido de uma tomada de crédito mais consciente.

“Tivemos um excesso na oferta de crédito nos últimos anos. Sobrou inadimplência maior para os bancos. Mas o principal ganho da crise para o setor financeiro foi o aprendizado”, avalia Gonçalves.

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