Coronavírus: três em cada 4 brasileiros preveem consumir menos pós-pandemia
Pesquisa da CNI mostra que a recuperação econômica será difícil: queda na renda atinge 40% e 77% temem perder o emprego
atualizado
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O coronavírus já afetou a renda de 40% dos brasileiros e deixou a população endividada e amedrontada, um sentimento que deverá ter fortes efeitos na recuperação econômica pós-pandemia. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta quinta-feira (07/05) indica que o brasileiro reduziu o consumo e não pretende voltar a gastar como antes quando a situação crítica passar, o que representará um desafio para as políticas de retomada.
O levantamento traz dados fortes: 77% dos entrevistados empregados têm medo de perder a ocupação por causa da crise. Praticamente metade (48%) tem muito medo, enquanto 19% têm medo médio, e 10%, pequeno. Perguntados sobre como pretendem se comportar no futuro pós pandêmico, até 72% dos entrevistados disseram que pretendem manter o nível de consumo adotado durante o isolamento.
Para 23%, a maioria informais, o desemprego e a perda total da renda já chegaram. Outros 17% experimentam redução nos ganhos. Essa parcela da população, em tese, é beneficiada por programas emergenciais do governo, como o pagamento de um complemento à renda perdida.
O levantamento foi feito por telefone pelo Instituto FSB Pesquisa com 2.005 pessoas com mais de 16 anos de todas as Unidades da Federação, entre 2 e 4 de maio, e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Sem renda, sem consumo
O impacto na renda, o medo do desemprego e o fato de boa parte do comércio estar fechada levaram 77% dos entrevistados consumidores a reduzir o consumo de pelo menos um de 15 produtos testados. São três em cada quatro consumidores comprando menos – e com previsão de seguirem assim, mesmo que com alguma retomada de patamar de consumo.
Entre quem reduziu seus gastos, 42% justificam pela insegurança quanto ao futuro, 30% por ter perdido ao menos parte da renda e 26% devido ao isolamento em si.
Veja os resultados da pesquisa sobre consumo em gráficos:
Veja também o gráfico que ilustra o medo do desemprego:
Endividamento dispara
Outro dado dramático dos efeitos do coronavírus na economia é o salto no endividamento. Segundo a pesquisa, antes da chegada da doença que já matou mais de 8 mil brasileiros, 38% estavam endividados. Nos últimos 40 dias, mais 15% da população não conseguiu pagar as contas, levando o índice de endividamento para mais da metade da população. E 57% dos endividados passaram a atrasar parcelas desde a chegada da pandemia.
Só más notícias?
Se há um dado positivo no triste levantamento apurado pela CNI, é que, apesar das perdas econômicas, a maioria dos brasileiros acredita que é necessário seguir com medidas de isolamento social para conter o avanço do coronavírus. Os que pensam assim são 86%, segundo o levantamento.
Veja a tradução gráfica desses números:
Sem comprar por impulso
Os dados da pesquisa da CNI são compatíveis com um levantamento divulgado na terça-feira (05/05) pela empresa de monitoramento de mercado Hibou. A pesquisa com 3 mil pessoas feita entre 17 e 18 de abril mostrou que mais da metade dos consumidores brasileiros (53,7%) evita compras consideradas desnecessárias desde o início da crise.
Após a pandemia, segundo o mesmo levantamento, 88,4% dos brasileiros pretendem comprar menos por impulso, pensando mais no que vão gastar.