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Copom deve elevar juros e deixar em aberto novo aumento, prevê mercado

Economistas esperam que o Banco Central leve a taxa Selic para 13,25% ao ano. Dúvida é se ciclo de alta ainda seguirá nos próximos meses

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Banco Central
1 de 1 Banco Central - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Os economistas do Banco Central devem aumentar os juros básicos mais uma vez nesta quarta-feira (15/6) e levar a taxa Selic para 13,25% ao ano, prevê a maioria dos analistas do mercado financeiro brasileiro. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve levar em conta os desafios inflacionários globais para justificar o novo aumento nos juros, estimado em 0,5 ponto percentual. Hoje, o indicador está em 12,75%.

A dúvida entre investidores e especialistas é quando os juros vão parar de subir no país. Hoje, há uma maioria que aposta em pelo menos mais um aumento na próxima reunião do Copom, em agosto deste ano. A decisão, porém, será influenciada por eventos futuros, como os juros da economia dos Estados Unidos e o desfechou ou continuação da guerra na Ucrânia.

Os juros básicos são controlados pelo Banco Central e servem para o órgão influenciar o custo do dinheiro para empresas e cidadãos. Se a inflação está alta, como agora, o aumento de juros serve para encarecer o dinheiro, desincentivando o consumo e “freando” a economia.

“Ainda há muita instabilidade na economia global, mas no Brasil vemos sinais de que o ‘remédio’ para a inflação, que foi esse aumento brutal na taxa de juros, começa a dar os resultados esperados. Seguimos com inflação nos dois dígitos, mas a de maio desacelerou mais do que o esperado”, analisa o especialista Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, e economista-chefe da G11 Finance.

O economista explica, em entrevista ao Metrópoles, que o aumento de juros é um mecanismo muito usado por autoridades monetárias (como o Banco Central) para controlar a inflação, mas que a crise inflacionária atual dificulta a conquista dos resultados esperados.

“Quando os juros aumentam, fica mais caro consumir, contrair empréstimos, financiar obras e projetos”, inicia ele.  “Quando o Brasil usava essa política monetária nos anos 1980 e 1990, era para combater uma inflação de demanda: havia muito consumo e o mercado não conseguia acompanhar essa demanda, levando os preços para cima. Hoje, é uma inflação de custos, que vem como consequência da pandemia, da guerra, da alta do petróleo. São fatores que não vão embora ainda que você corte o consumo”, completa o economista.

Trajetória dos juros

Como os juros servem para segurar o consumo e, como consequência, frear a economia, uma taxa alta é historicamente alvo de críticas de parte dos analistas e investidores. A atual alta é uma das maiores da história econômica do Brasil – e aconteceu muito rápido.

No meio de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, os juros mantiveram uma tendência de queda e o país chegou à menor taxa Selic da história no início de 2020: 2% ao ano. Juros baixos, segundo os economistas, são um incentivo para a economia e para investimentos em renda variável, como a Bolsa de Valores.

Com o estouro da pandemia, porém, o Copom iniciou um ciclo de alta que até agora não atingiu o teto. Para os analistas, se o cenário não se tranquilizar, é provável que o Copom aumente mais os juros, em agosto, em 0,25 ponto percentual ou em mais 0,5 ponto.

E há fatores tanto externos quanto internos para influenciar os juros. “Em primeiro lugar, a guerra”, afirma o economista João Beck, sócio da empresa de investimentos BRA, em entrevista ao Metrópoles. “Se ela cessar, podemos ter um evento desinflacionário à frente, ajudando no prognóstico de inflação. Outro ponto a que o mercado é muito atento é o perfil fiscal do país. Podem ocorrer novos gastos ou desonerações que piorem nossa dívida em fim de período eleitoral”, complementa ele.

“Os juros nos EUA são outro ponto importante que o Copom deve observar e acompanhar”, avalia o economista Rodrigo Sodré, também sócio da BRA. “Se acelerar muito a alta lá fora, é provável que aqui também eles vão olhar esse número. Se eles subirem a taxa americana para 4% ou 3,75%, é provável que aqui a gente tenha que fazer o mesmo, porque a gente tem que ser tornar mais atrativo para eles e entregar mais taxa”, completa Sodré.

Os riscos que persistem

Entre os analistas, a expectativa é de que, se houver, uma nova alta dos juros em agosto deve ser a última do ano, que deverá ser seguida por um ciclo de queda nos juros que deverá marcar o ano que vem. Há especialistas, porém, que apontam para riscos de longo prazo para a economia mundial, que podem trair o otimismo de boa parte do mercado.

“A inflação no Brasil, ainda que siga alta, começa a arrefecer. O grande ponto é que os itens que ajudaram nessa inflação menor do que a expectativa são muito voláteis, como a energia, os alimentos e a higiene pessoal”, afirma o economista Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance.

“No ponto de vista de alimentos, o mundo vive uma crise global por conta da guerra, por conta de uma uma safra ruim em vários países, por conta que vários países começam a estocar e proibir a exportação alguns alimentos para suprir o mercado nacional. Então esses componentes que ajudaram a ter uma inflação menor no mês de abril são muito voláteis e podem ainda pressionar a inflação para alta”, complementa o economista.

“Portanto, dar como favas contadas que a gente chegou no fim do ciclo de aumento da taxa de juros é algo em que eu não colocaria 100% de certeza”, conclui Nousi.

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