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Comércio entre Brasil e Argentina apresenta resultados fracos

Entre janeiro e abril, exportações brasileiras para país vizinho caíram 46%

atualizado

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1 de 1 - Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Com crises econômicas e indefinições importantes na arena política, Brasil e Argentina enfrentam um momento negativo em suas trocas comerciais. Segundo dados do Ministério da Economia, entre janeiro e abril houve queda de 46,47% nas exportações brasileiras para o país vizinho na comparação com igual intervalo de 2018, com aumento de 7,76% nas importações.

Nesta quinta-feira (06/06/2019), o presidente Jair Bolsonaro visita a Argentina e o comércio bilateral deverá ser um dos focos de seu encontro com o presidente Mauricio Macri, mas analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast veem pouco espaço para qualquer reviravolta no quadro, ainda dependente da retirada de incertezas e da volta ao crescimento de ambos, num momento também de incertezas no mundo.

Nos primeiros quatro meses de 2019, o Brasil acumulou déficit de US$ 337,54 milhões nas trocas comerciais com a Argentina, de acordo o Ministério da Economia. “Pela primeira vez neste ano, tudo indica que o Brasil poderá ter o primeiro déficit comercial desde 2003 com a Argentina, embora pequeno”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.

Ele lembra que o cenário inclui uma queda recente na cotação das commodities no mercado global. Além disso, ressalta que a Argentina é o principal destino de manufaturados brasileiros, mas vê a piora nas exportações brasileiras como previsível, já que o vizinho está sob efeito de um pacote do Fundo Monetário Internacional (FMI) que prevê a geração de superávits comerciais, além de ter mantido um patamar cambial para o peso que “inviabiliza a importação”, por tornar os produtos do exterior mais caros.

Há ainda a eleição presidencial deste ano – Macri tenta a reeleição, mas enfrenta nas pesquisas a impopularidade por causa do quadro econômico de recessão, inflação superior a 50% no ano e aumento no desemprego e na pobreza.

A Ecolatina ressaltou em relatório nesta semana que a recuperação econômica é mais lenta que o previsto também por causa da fraqueza da economia brasileira. A partir de dados argentinos recentes, a consultoria argentina revisou sua projeção de recuo na economia do país de 1,4% para 1,7% em 2019.

“O dado é ainda mais desalentador se calculado em termos per capita, neste caso a queda seria de 2,7%, deixando-nos praticamente no mesmo nível de vida que o de uma década atrás” e o sétimo pior desempenho do mundo, nos cálculos da consultoria.

Os indicadores fracos se sucedem: na última quarta-feira, 5, por exemplo, foi divulgado que a produção industrial da Argentina recuou 8,8% na comparação anual de abril. Na noite de terça-feira, 4, o governo local anunciou uma parceria com o setor automotivo para oferecer descontos nas vendas de carros, que recuaram 56% em maio, com a intenção declarada de melhorar a economia sem prejudicar o equilíbrio fiscal.

Nesse contexto, Castro acredita que “nada de peso” deva ser assinado agora entre os dois países. Segundo ele, é discutido internamente um eventual corte em tarifas de importação, de maneira escalonada e dos dois lados. O assunto, porém, ainda não está definido e há resistências do setor empresarial, diz.

Professora de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Virginia Fernández define a situação atual argentina como “bem crítica”, com grande retração econômica e desemprego alto. “Isso claramente gera um reflexo para a economia brasileira”, afirma. “Analisando o que tem provocado essa queda (nas vendas brasileiras), são principalmente os setores vinculados com o complexo automotivo, de veículos de carga, tratores, produção de motores para veículos”, destaca. “Ou seja, a exportação mais sofisticada do Brasil para o mundo vai para a Argentina e para o Mercosul. E essa foi a parte das exportações que teve a principal queda.”

Virginia diz que o fato de que Bolsonaro e Macri se encontrem já é uma mostra da proximidade entre os presidentes. Para ela, se houver algum tipo de avanço, provavelmente terá a ver com uma reedição do acordo automotivo, “que é essencial para relação”, e provavelmente com setores como trigo, malte ou outros produtos vinculados ao setor primário.

Economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin também concorda que, no curto prazo, qualquer aproximação dará poucos frutos. Para ele, a agenda bilateral deve ser reforçada depois que a Argentina sair da recessão na qual se encontra. O quadro para 2020, contudo, é ainda muito dependente de qual será o próximo governo, diz Cagnin.

Bolsonaro fez declarações públicas recentes contra a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, que se lançou como vice de Alberto Fernández para a disputa de novembro. Em caso de vitória da chapa, o economista acredita que “evidentemente o quadro pode se complicar, mas não deve haver rupturas”. Fernández é ainda visto como um político de perfil mais conciliador que Cristina, o que pode facilitar o diálogo, mesmo diante das diferenças ideológicas.

O professor Leonardo Granato, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que qualquer acordo bilateral, caso venha a se realizar, tenderá a ser uma “estratégia isolada”, se não estiver inserido num plano maior de desenvolvimento. Ele defende o Mercosul como o foro ideal para a discussão e a eventual celebração desses acordos.

Além disso, destaca a “falta de complementariedade entre as economias do bloco e de verdadeiros mecanismos de coordenação interindustrial”, que não conseguem romper “nossa situação de dependência das estruturas de poder internacional”, onde Brasil e Argentina representam “elos mais frágeis” da cadeia global.

Acordo com a União Europeia
Um eventual acordo entre o Mercosul e a União Europeia também deve estar na pauta da reunião entre Bolsonaro e Macri. A professora da UFPR lembra que esse diálogo se desenrola há quase 20 anos, com a Europa protegendo setores que considera estratégicos ou sensíveis, como o agropecuário.

Granato é cético sobre o tema, ressaltando que “provavelmente as vantagens comparativas serão maiores para a União Europeia”, em caso de acordo, diante das diferenças econômicas e tecnológicas, entre outras. De qualquer modo, com as dificuldades das principais economias do Mercosul e a resistência de parte da Europa em abrir alguns mercados, uma solução próxima continua a parecer pouco provável.

Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o acordo entre Mercosul e União Europeia será fechado logo. “Estamos possivelmente a três, quatro semanas do acordo”, afirmou.

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