CEO da Empiricus nega interferência em inquérito sobre vídeo contra TC
Em petição ao MPF, Felipe Miranda apresenta sua versão para diálogo revelado pelo Metrópoles com ex-funcionária que denunciou estupro
atualizado
Compartilhar notícia
O CEO da Empiricus, Felipe Miranda, confirmou ao Ministério Público Federal (MPF) ter procurado mais de uma vez uma ex-funcionária do TC (TradersClub) que teria sido vítima de estupro, mas negou qualquer tentativa de interferência na investigação sobre o vídeo apócrifo que derrubou as ações da empresa concorrente.
Os advogados de Miranda enviaram uma petição ao MPF na última quinta-feira (10/11), mesmo dia em que o Metrópoles revelou o áudio de uma ligação feita em outubro do ano passado, na qual o CEO da Empiricus tenta convencer a mulher a tornar público um suposto caso de “estupro coletivo” que envolveria executivos do TC.
Empiricus e TC são duas empresas que cresceram significativamente nos últimos anos com a entrada de milhões de investidores brasileiros na Bolsa de Valores. Seus produtos são relatórios de análise e educação financeira, nos quais são fornecidas dicas de investimentos e de como montar uma boa carteira de ações.
O diálogo ocorreu dois dias após Felipe Miranda publicar um relatório instruindo investidores a apostarem na queda das ações do TC — e oito meses antes da divulgação de um vídeo apócrifo, no qual uma mulher anônima, maquiada de palhaça, faz acusações contra o TC, incluindo a suspeita sobre um “estupro coletivo” na sede da empresa.
O material foi enviado pelo TC à Polícia Federal (PF) no mês passado, como elemento de prova da acusação de que o CEO da Empiricus estaria por trás do vídeo que derrubou as ações da companhia em 44% em junho, provocando um prejuízo de R$ 1 bilhão em valor de mercado. O inquérito foi aberto pela PF em agosto, a pedido do TC.
Junto com o áudio, a empresa enviou prints de mensagens que Felipe Miranda enviou à ex-colaboradora do TC oferecendo um emprego a ela e, depois, propondo uma conversa antes do depoimento que ele prestaria no mês passado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no âmbito de uma investigação sobre manipulação do mercado. À PF, a companhia pediu uma série de medidas cautelares, incluindo a prisão preventiva de Miranda.
Defesa
Na petição enviada no dia 10 ao MPF, a quem compete se manifestar a favor ou contra esses pedidos perante à Justiça, a defesa de Felipe Miranda afirma que ele “jamais realizou qualquer conduta apta a ensejar medida cautelar em seu detrimento” e se colocou à disposição para colaborar com a investigação da PF. Ao Metrópoles, Miranda negou ter qualquer ligação com o vídeo da palhaça que fez acusações contra o TC.
No documento, o criminalista Antônio Sérgio Pitombo afirma que Miranda contatou a ex-funcionária do TC por telefone “com o escopo de se proteger de ameaças que vinha sofrendo”, após a publicação do relatório contra a empresa concorrente, e para “apurar informações que circulavam no mercado, diretamente com a fonte original, a respeito de fatos graves que teriam lhe vitimado, prestando, à vítima, toda a solidariedade e assistência expectável, dada a sensibilidade do assunto.”
Ainda segundo a defesa, o CEO da Empiricus ofereceu emprego à ex-funcionária do TC “visando lhe. propiciar um ‘recomeço’ no mercado” e a procurou novamente em setembro deste ano, após ser intimado a depor pela CVM, “por questão de lealdade e transparência”, uma vez que “poderia vir a ser questionado a respeito de supostas práticas ilícitas que vitimaram a ex-colaboradora do TC”.
O advogado de Felipe Miranda conclui afirmando que a ligação e as mensagens enviadas à ex-funcionária do TC “não possuem relação alguma com testemunha” da investigação da PF. “Impossível cogitar, por sua vez, que as conversas havidas refletiriam, nos termos trazidos pela reportagem, suposta ‘interferência na investigação’, ou ‘possível tentativa de cooptação de testemunha’, de modo a ensejar motivo idôneo para segregação cautelar”.
Acusação
Na sexta-feira (11/11), o CEO do TC, Pedro Albuquerque, afirmou em coletiva de imprensa que o material entregue à PF e revelado pelo Metrópoles foi enviado “voluntariamente” à companhia e deixa o CEO da Empiricus ” umbilicalmente ligado ao vídeo anônimo contra o TC”.
“Esse é um caso de tentativa de coptação de testemunha, obstrução de Justiça, gravíssimo”, afirmou Albuquerque. Segundo ele, a história do estupro envolvendo uma ex-funcionária “foi diabolicamente distorcida para prejudicar o TC”. O CEO do TC afirmou ainda ter enviado o mesmo material para o banco BTG Pactual, que comprou a Empiricus no ano passado por R$ 690 milhões.
Vítima
A defesa da ex-funcionária do TC, que teve seu nome preservado nesta reportagem, lamentou o “vazamento de informações” envolvendo sua cliente e a “tentativa de explorar o ocorrido com a vítima”.
“É lamentável o vazamento de informações que se encontram acobertadas pelo sigilo, em especial um áudio que trata de uma conversa absolutamente privada sobre um tema sensível a uma mulher que claramente não quer falar sobre o assunto. O áudio revela uma abordagem infeliz e tentativa de explorar o ocorrido com a vítima, que só quer preservar sua história”, afirmou a advogado Ana Fernanda Ayres, por meio de nota.
O Metrópoles apurou que o episódio envolvendo a ex-funcionária ocorreu durante uma festa particular da qual participaram outros funcionários do TC, em junho do ano passado, em um apartamento em São Paulo. O boletim de ocorrência por estupro foi registrado por ele em uma delegacia de outra cidade, para onde ela viajou logo após o episódio. O caso teria sido arquivado por falta de provas.