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São Paulo – Os preços das carnes para a ceia de Natal estão assustando os consumidores. E com razão, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV): o pernil suíno está 30,5% mais caro neste ano, enquanto o lombo suíno e o frango inteiro subiram 20,14% e 14,5%, respectivamente.
“Está um absurdo. A gente vai dividir mais neste ano, mais pessoas vão levar mais coisas e trocamos alguns tipos de produtos. A gente comprava lombo, pernil, costela, chester, agora vai levar ‘frangão’. Substituir tudo o que está caro”, afirma a nutricionista Fernanda Cintra Arantes da Silva, 47 anos.
Mesmo com as recomendações de especialistas para que as festas de fim de ano sejam reduzidas por causa da pandemia do novo coronavírus, Fernanda planeja se reunir com a mesma quantidade indivíduos do Natal do ano passado. “A gente vai para o litoral passar a ceia com a minha sogra. É o mesmo número de pessoas… com cerca de 14”, diz.
Pesquisa Datafolha mostra, no entanto, que, por causa da pandemia, a maior parte dos brasileiros (74% ) diz que durante as festas de fim de ano não pretende se reunir com quem não vive na mesma casa.
É o caso de Elenice Bonifácio Costa de Jesus, 49 anos, auxiliar de escola. Desempregada desde março, ela espera que o número reduzido de participantes também ajude a diminuir a conta para a ceia de Natal. “No ano passado, nós estávamos em 15 pessoas, contando com os da casa. Este ano vai ser só os da casa, que são cinco, o que ajuda a diminuir a conta”, afirma.
Além de reduzir o número de convidados, Elenice também vai cortar e substituir itens que estavam presentes na ceia do ano passado. “As coisas estão muito mais caras. No ano passado, eu fiz duas misturas, e este ano vai ser só uma; a sobremesa vai ser só uma, porque o leite condensado está pela hora da morte. Então a gente vai substituindo. Vai ter um peru, ervas finas com manteiga, salada, arroz, uma farofa, e é o que tem para hoje. No ano passado, teve bem mais, fizemos chester, peru, um macarrão de forno, arroz, maionese”, diz Elenice.
A dona de casa Creusa Ana de Oliveira, 79 anos, conta que o encontro de Natal vai ser bem menor neste ano, e, como cada pessoa vai levar algo para a ceia, vai ficar “barato”. A data, que reunia quase 30 pessoas nos outros anos, terá cinco participantes agora.
“O preço do pernil, o que é isso, gente? Lá em casa a gente divide, cada um leva uma coisa, então não fica caro para uma pessoa só. Da minha parte, eu vou levar costelinha já pronta, como somos em poucas pessoas, cinco. Eu queria levar o chester, mas está R$ 70 e pouco cada um”, afirma.
O casal Paulo José Pastore Seixas, 55 anos, corretor de imóveis, e Susana, também de 55, dona de casa, também restringiu o encontro de Natal ao núcleo familiar. “Reduzimos o número de pessoas, tinha a família do meu lado e do lado dele, porque cada um vai em mercado, cada um vai em um lugar, e [como] você vai saber quem é assintomático”, afirma Susana.
Segundo Seixas, a ceia à noite terá uma “comida normal”. “Não tem esse negócio de substituir, é comprar aquilo que você pode. Até poderia comprar um peru, que custa R$ 200, mas não vou, vou comprar um lombo e pagar R$ 20 e poucos, que também é caro. Então você fala: ‘Estou achando muito caro, eu não tenho necessidade e então não vou comprar’. E gente que tem família grande e que quer comprar?”, diz.
“As carnes serão as grandes vilãs do Natal”, disse ao Metrópoles André Braz, coordenador do IPC (Índices de Preços ao Consumidor) do Ibre/FGV.
Segundo o economista, a disparada está relacionada à desvalorização cambial, que elevou os custos para a produção, com o aumento em dólar dos preços de commodities como soja e milho, usadas para ração animal.
Ao mesmo tempo, a moeda norte-americana mais forte ante o real resultou em volume maior de exportações brasileiras de carnes, principalmente para a China, diminuindo a oferta no mercado interno. “Para a balança comercial, foi muito bom, mas não para a inflação”, completou.
Um levantamento feito por Braz mostra que 16 itens consumidos na ceia de Natal ficaram em média 15% mais caros nos últimos 12 meses até novembro, mais de três vezes a inflação medida pelo IPC da FGV, que ficou em 4,19% no período.
Outro “grande vilão” da ceia apontado pelo economista é o arroz, que disparou 62% em 12 meses. Em setembro, o preço do saco com 5 kg chegou a superar os R$ 30. Além da valorização do dólar, que torna as exportações mais atrativas para os produtores, a diminuição da área plantada reduziu a oferta do item aqui.
O isolamento devido à pandemia do novo coronavírus, segundo o economista, também contribuiu para o aumento de preços de alimentos ao longo do ano. “Teve a pressão da demanda do mercado doméstico. Com o isolamento, as pessoas passaram a comer em casa”. afirmou.
Outros itens da ceia de Natal que tiveram alta neste ano são: bacalhau (10%), batata inglesa (10,67%), frutas (14,99%), bolo pronto (3,53%), azeite (9,72%), azeitona em conserva (13,29%), refrigerantes e água mineral (3,73%), sucos de fruta (3,37%) e vinho (3,94%).
Além de substituir os produtos mais caros para a ceia, vale a pena fazer a velha e boa pesquisa de preços. Na capital paulista, o Procon-SP mostra que a variação de preços entre estabelecimentos pode chegar a 122,34%. Essa diferença foi verificada para o quilo do Peru Temperado Sadia, que custa R$ 48,87 em um supermercado e R$21,98, em outro. No caso do panetone, a maior variação foi de 65,45%, para um produto de 400 g da Casa Suíça, saindo entre R$ 17,80 e R$ 29,45.
O levantamento, realizado neste ano em sites de cinco estabelecimentos, comparou preços de 68 dos seguintes itens de diferentes marcas: azeites, bombons, lentilhas secas, conservas, farofas prontas, frutas em calda, panetones, chocotones e carnes.
“O Procon-SP orienta que o consumidor faça uma comparação entre os preços praticados por diferentes estabelecimentos e também considere a relação qualidade, peso e preço do item a ser adquirido, inclusive o preço do frete e prazo de entrega”, diz o órgão de defesa do consumidor. Outra recomendação é planejar o cardápio da ceia que irá servir, listando os alimentos, bebidas e ingredientes para o preparo, a fim de evitar compras desnecessárias e por impulso.