Campos Neto defende autonomia do Banco Central, após críticas de Lula
Presidente do Banco Central tem gestão criticada pelo atual mandatário do país, em especial no que diz respeito à taxa básica de juros
atualizado
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a defender, nesta terça-feira (7/2), a autonomia da autoridade monetária, em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a manutenção da taxa básica de juros da economia em 13,75%.
Segundo Campos Neto, a “principal razão da autonomia da autonomia do BC é desconectar a política monetária do ciclo político”. “Porque eles têm clientes e interesses distintos. Quanto mais independente você é, mais eficaz você é, menos o país pagará em termos de custo de ineficiência da política monetária”, disse, em evento do qual participa nos Estados Unidos.
Mais cedo e em outras ocasiões, Lula afirmou não ser possível que a economia brasileira se recupere com a taxa de juros exercida pelo BC. O presidente também comparou Campos Neto com Henrique Meirelles, que presidiu a entidade na época em que ele era chefe do Executivo.
“Eu acho que esse cidadão [Campos Neto], que foi indicado pelo Senado, [deve ter] a possibilidade de maturar, de pensar e de saber como é que vai cuidar desse país. Ele tem muita responsabilidade, mais do que o Meirelles [Henrique Meirelles] tinha no meu tempo”, apontou o presidente.
Segundo Lula, era mais “fácil”, na época de Meirelles, colocar a culpa de juros no presidente. “Agora, não. Agora, a culpa é do Banco Central, porque o presidente não pode trocar”, completou o presidente, que tem feito críticas à independência do BC, aprovada sob o governo Jair Bolsonaro, que indicou Campos Neto ao cargo.
Essa é a terceira crítica pública de Lula a Campos Neto e ao Banco Central desde a semana passada. O comitê de política monetária do órgão manteve, em sua última reunião, a taxa de juros básicos da economia no patamar 13,75% e indicou que o número, considerado alto pelo governo federal, não deve começar a cair tão cedo.
Mercado financeiro
As críticas de Lula têm perturbado o mercado financeiro e impactado negativamente nas negociações na Bolsa de Valores e no valor do dólar, o que tem levado mesmo integrantes do governo, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a tentar baixar o tom.
“Juros a 13,75% não dá. Esse país precisa gerar emprego formal. Empregados de aplicativos são tratados quase como trabalhadores escravos”, disse ainda o presidente, segundo relatos de veículos que participaram do encontro, como o site Brasil 247 e o Canal Meio.
Lula afirmou que, nas suas duas primeiras gestões, ele tinha o vice José Alencar para fazer críticas à política de juros. “Agora, sou eu mesmo que faço. Não deveria ser normal um presidente da República ficar discutindo com o presidente do Banco Central, verbalmente, porque pessoalmente eu só tive um contato com ele”, discursou.
“As pessoas que acreditavam que a independência do Banco Central ia mudar alguma coisa no Brasil, que ia ser melhor, têm que ficar olhando se valeu a pena ou não”, disse ainda o presidente, que mandou um recado a seus ministros da área econômica: “Eu espero que Simone [Tebet] e Fernando Haddad estejam acompanhando tudo isso”.
Haddad age como bombeiro
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou diminuir a temperatura das relações entre o governo federal e o Banco Central ao elogiar a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (7/2).
Segundo Haddad, que conversou com os jornalistas ao chegar ao Ministério da Fazenda, “a ata veio melhor do que o comunicado”.
“Uma ata mais extensa, mais analítica, colocando pontos importantes sobre o trabalho do ministério da Fazenda. É uma ata mais amigável em relação aos próximos passos que serão tomados”, afirmou o ministro. “Considero que a ata deu um passo melhor do que o comunicado. Nós vamos passo a passo”, disse.