Brasil tem 83º diesel mais caro entre 169 países
Valor do diesel terá novo aumento nesta terça-feira. Levantamento ainda não considera o reajuste, porque é baseado no preço nas bombas
atualizado
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O Brasil tem o 83º diesel mais caro do mundo, quando levado em conta apenas o valor do combustível na bomba. O levantamento do Global Petrol Prices é dos preços nominais, sem considerar as diferenças de poder de compra entre os consumidores.
O país fica atrás de irmãos latino-americanos, como Paraguai, Chile, Peru, México, Argentina, Cuba, Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela – que detém o segundo menor valor de diesel do mundo, atrás apenas do Irã.
Discurso de Bolsonaro emplaca, e caminhoneiros miram Petrobras
A pesquisa considera o preço do diesel em 169 países no dia 2 de maio. Confira:
O Brasil poderá ver sua posição no ranking piorar devido ao reajuste de 8,86%, anunciado pela Petrobras nessa segunda-feira (9/5), no valor do combustível vendido às refinarias.
O preço médio de venda passou de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro.
“O último ajuste de preços aplicado pela Petrobras aconteceu em 11/3 e, naquele momento, refletia apenas parte da elevação observada nos preços de mercado. Esta decisão observou tanto o desalinhamento nos preços quanto a elevada volatilidade no mercado”, esclareceu a petrolífera.
Neste momento, segundo a empresa, o balanço global de diesel está impactado por redução da oferta frente à demanda.
“Os estoques globais estão reduzidos e abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos nas principais regiões supridoras. Esse desequilíbrio resultou na elevação dos preços de diesel no mundo inteiro, com a valorização deste combustível muito acima da valorização do petróleo. A diferença entre o preço do diesel e o preço do petróleo nunca esteve tão alta”, frisou a estatal.
Segundo números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel cobrado hoje no país é de R$ 6,63.
O maior valor do litro verificado foi em Porto Seguro, na Bahia, por R$ 8,39.
No início de março deste ano, o combustível era encontrado em média a R$ 5,60, de acordo com a ANP. Trata-se, portanto, de alta de quase R$ 1 (18,4%) ao consumidor final em apenas dois meses.
Líder dos caminhoneiros durante a greve de 2018, Wallace Landim, o Chorão, afirmou que o setor discute um ato contra a Petrobras.
“Vou conversar com outros segmentos, pois a gente precisa pressionar a Petrobras para mexer no PPI [Política de Paridade Internacional]”, diz Chorão.
“Vimos o último posicionamento do Bolsonaro pedindo para a Petrobras abaixar o preço do combustível. A gente viu o presidente indignado. Então, ele tá pedindo para o povo ir para a rua e pressionar a Petrobras?”, questiona o caminhoneiro, que também é presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), em conversa com o Metrópoles.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar duramente a Petrobras na última quinta-feira (5/5).
Durante transmissão ao vivo nas redes sociais, o chefe do Executivo federal disse que é um “crime” e um “estupro” a empresa ter um lucro “abusivo” em períodos de crise. “Faço um apelo: Petrobras, não quebre o Brasil”, disparou Bolsonaro, aos gritos.
A petroleira registrou lucro de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre deste ano — resultado 3.718,4% maior do que o computado no mesmo período do ano passado, quando a estatal faturou R$ 1,167 bilhão.
Poder de compra do brasileiro é menor
Especialistas explicam, no entanto, que a posição mediana do Brasil no ranking não significa que os consumidores brasileiros pagam menos do que boa parte dos países com valores nominais maiores do combustível.
“O combustível pode ser mais barato comparativamente a esses países mais ricos, mas, em compensação, no orçamento ou na planilha de custo de uma empresa pesa muito”, salienta César Bergo, coordenador da pós-graduação em Mercado Financeiro e Capitais da Faculdade Mackenzie Brasília (FPMB) e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região.
Bergo ressalta que, quando o preço do combustível é comparado à renda média do país, é perceptível como o peso no bolso do brasileiro é maior do que o peso no bolso do consumidor de um país que tenha custo mais alto do diesel, mas uma renda também maior.
“O grande impacto do aumento do diesel é porque a renda do brasileiro é muito baixa. No bolso do brasileiro, pesa muito, e não só pelo preço direto do diesel, mas pela incidência nos produtos, porque o custo do frete acaba subindo bastante, e os preços dos produtos vão subindo também”, assinala.
“Estamos falando ali de alimentos, de remédios, de vestuário, de calçado, não é? Tudo isso tem um impacto direto, principalmente nas famílias de mais baixa renda.”
O economista afirma que, como a utilização de diesel no Brasil é restrita a caminhões, ônibus, picapes com carga útil superior a 1.000 kg e utilitários com tração 4×4 e reduzida, a demanda é diretamente ligada ao setor de transporte. Por outro lado, na Europa ou na América do Norte, por exemplo, veículos de passeio são autorizados a abastecer com diesel, o que torna a demanda maior e influencia o preço.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, aponta que aumento no preço do diesel também significa alta no custo de produtos básicos, como alimentos, e gera diminuição no poder de compra. “Qualquer aumento de custo que incide diretamente nos preços dos produtos básicos acaba tendo impacto ainda maior do que em relação a outros países”, explica.