Brasil deve ser um dos países mais afetados por crise imobiliária na China, dizem especialistas
“Já houve diminuição na compra de minério de ferro desde então, que baixou cerca de 35%. Isso reduz a produção nacional”, aponta analista
atualizado
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Estimuladas pelo trabalho remoto, muitas famílias viram a chance de se mudar ou de reformar suas residências durante a pandemia de Covid-19. Com isso, o mercado de imóveis e de construção disparou em todo o globo, aumentando o preço das casas e reformas em várias das maiores economias do mundo. Na última semana, entretanto, o setor foi ameaçado pela possibilidade de calote da gigante incorporadora chinesa Evergrande.
O impacto da crise no mercado brasileiro já é significativo, e o país deve ser um dos mais prejudicados se as dívidas da empresa não forem honradas, de acordo com especialistas ouvidos pelo Metrópoles. Isso porque o Brasil fornece uma parte relevante usada para erguer os imóveis chineses: o minério de ferro.
O débito da Evergrande já passa de R$ 300 bilhões. O montante fez o mercado financeiro derreter na segunda-feira (20/9) no Brasil, na Europa e Ásia. O mau humor só passou quando a empresa sinalizou negociações de pequenas parcelas com alguns credores. Mesmo assim, o temor permanece.
“Já houve diminuição de cerca de 35% na compra de minério de ferro desde então. Isso reduz a produção nacional, o que impacta o preço dos imóveis. Ou seja, o que já estava alto deve subir ainda mais”, explica Fábio Pizzamiglio, diretor da consultoria de comércio internacional Efficienza.
Segundo dados oficiais, 34% de todo o volume de exportação do país é chinês. Desse total, 17% correspondem ao minério de ferro. Além disso, a China é a quarta maior investidora no Brasil.
“Se a crise da Evergrande se prolongar e o governo chinês não se mexer, o Brasil sofrerá com uma reação em cadeia, uma vez que nosso país é um dos que eles têm menos interesse em investir”, afirma o diretor. Nesse cenário, empresas podem deixar o Brasil, o que aumentaria o desemprego e afetaria a circulação de comércio.
Por outro lado, a crise também pode trazer um fôlego para as construtoras, segundo uma leitura mais otimista da situação. “Elas têm tido muito problema com a escassez de material, que, consequentemente, resulta em aumentos semanais no preço dos insumos”, avalia o vice-presidente da Comissão de Direito Imobiliário, Almiro Jr.
De acordo com o advogado, a escassez ocorre em razão da alta demanda e “de ser mais favorável exportar do que abastecer o mercado interno”. Apesar da avaliação otimista, Almiro Jr. também acredita ser mais provável aumentarem do que diminuírem os preços dos imóveis a médio prazo.
China versus Evergrande
Economistas esperam que o protecionismo do governo chinês signifique ação o quanto antes, já que a economia do país asiático é muito mais fechada do que a dos Estados Unidos quando ocorreu o estouro da bolha imobiliária norte-americana, em 2008, por exemplo. A situação afetou o mundo todo e foi considerada a pior crise econômica desde a última depressão (1930).
No caso da China, o endividamento da Evergrande é, em parte, culpa do próprio governo, que se vê em uma encruzilhada com o mercado imobiliário há anos. O acesso fácil aos empréstimos contribuiu para elevar artificialmente o preço dos imóveis e abriu espaço para especulação.
Essa cultura de que o governo sempre socorreria empresas à beira da falência fez com que os bancos emprestassem dinheiro sem muito critério. Agora, o Estado procura convencer que isso não mais ocorrerá, o que leva a uma grande discussão sobre a interferência da China na Evergrande.
De acordo com o site BP Money, contudo, um acordo está em andamento entre a Evergrande e o Partido Comunista Chinês, e pode resultar na reestruturação da companhia, transformando-a em três entidades separadas controladas pelo governo.
“O acordo está sendo projetado para proteger os cidadãos chineses que compraram apartamentos da Evergrande, como os que você vê protestando nas ruas e também aqueles que investiram nos produtos de gestão de fortunas da Evergrande”, disse uma fonte ao Asia Markets.
Quem é a Evergrande na fila do pão
A incorporadora é um império com 200 mil funcionários e cerca de 1.300 projetos em mais de 280 cidades. O faturamento da empresa corresponde a 2% de todo o Produto Interno Bruto chinês.
Fundada em 1996 por Hui Ka Yan, a empresa cresceu junto aos seus débitos, que a tornaram a empresa mais endividada do mundo.
Além de atuar no setor imobiliário, o grupo ainda tem investimentos na área de mídia e no setor alimentício, e possui até um time de futebol, o Guangzhou FC.