Brasil cai da 4ª para a 8ª posição em ranking do investimento externo
Com esse desempenho, o Brasil vai na contramão da tendência global, que registrou forte aumento de 38% nos fluxos de investimento direto no ano passado
atualizado
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O fluxo de investimento estrangeiro para o Brasil recuou 11,5% no ano passado e o País caiu quatro posições no ranking das economias que mais atraem capital internacional, para o oitavo lugar. A informação consta do relatório anual World Investment Report 2016 divulgado nesta terça-feira (21/6) pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Com esse desempenho, o Brasil vai na contramão da tendência global, que registrou forte aumento de 38% nos fluxos de investimento direto no ano passado.
De acordo com dados divulgados pela entidade, o fluxo total de investimento estrangeiro para o País caiu de US$ 73,086 bilhões em 2014 para US$ 64,648 bilhões no ano passado. “A atividade de investimento em geral no Brasil – medida pela formação bruta de capital fixo – caiu no decorrer do ano registrando declínio acumulado de 14% em termos reais no fim de 2015”, cita o documento. “Com a economia em recessão e os resultados corporativos em queda, os lucros reinvestidos tombaram 33%”. Entre os setores que mais sofreram, a entidade destaca o segmento de infraestrutura.
O relatório da Unctad nota que, apesar da crise econômica e da queda do valor total, alguns segmentos tiveram aumento do investimento estrangeiro. A entidade destaca que o investimento estrangeiro destinado à compra de ações se mostrou “resiliente” e registrou aumento considerado “modesto” de 4% no ano.
Por setores, destaque para a indústria automotiva e saúde. “A despeito da queda da produção de carros, o investimento em ações no setor automotivo aumentou expressivamente conforme projetos antigos avançaram”, cita o relatório. Para a saúde, o investimento estrangeiro saltou de US$ 16 milhões para US$ 1,3 bilhão em um ano após mudança da legislação que passou a aceitar capital estrangeiro para o setor.
Ao mesmo tempo, a desvalorização do real incentivou multinacionais interessadas em ativos no Brasil – já que a conversão para a moeda brasileira é mais favorável ao estrangeiro e dá oportunidade de comprar ativos com desconto. Nesse ambiente, a Unctad destaca a operação de compra de ações da fabricante de cigarros Souza Cruz pela British America Tobacco por US$ 2,45 bilhões.
Investimento futuro
O Brasil também perdeu três posições no ranking da Unctad dos países mais promissores para o investimento estrangeiro. Agora, o País aparece como sétima economia mais promissora para o capital estrangeiro, de acordo com executivos ouvidos pela pesquisa da entidade.
Anualmente, a Unctad pergunta para um grupo de executivos globais quais países parecem mais promissores para o investimento internacional no horizonte de dois anos à frente. Entrevistados podem escolher três países. Na pesquisa divulgada este ano, o Brasil foi mencionado por 11% dos entrevistados e ficou em sétimo lugar na lista – no ano passado, ocupou o quarto lugar.
Nessa pesquisa, os EUA lideram com folga e foram citados por 47% dos entrevistados. Em seguida, aparecem China (21%) e Índia (19%), Reino Unido (15%) e Alemanha e Japão (ambos com 13%). Empatado com o Brasil, o México também foi mencionado por 11% dos entrevistados. Em seguida, estão Indonésia (8%), Malásia e Filipinas (ambos com 5%).
“Oito dos dez países com melhor perspectiva são economias em desenvolvimento na Ásia e América Latina, o que reflete a expectativa de longo prazo para as duas regiões”, cita o documento da Unctad.
América Latina e Caribe
A Unctad acredita que o fluxo de investimento estrangeiro direto para os países da América Latina e Caribe deve cair 10% em 2016 na comparação com o ano anterior. O ambiente macroeconômico desafiador e a queda da demanda doméstica explicam a retração dos investimentos. Grandes estatais da região, como a Petrobras e a Pemex, já anunciaram cortes expressivos nos planos de investimento de médio prazo, destaca a entidade.
Projeção publicada no World Investment Report 2016 estima que o conjunto da América Latina e Caribe deve receber entre US$ 140 bilhões e US$ 160 bilhões em investimentos estrangeiros neste ano. “As condições macroeconômicas continuarão desafiadoras. A fraca demanda interna, liderada pelo menor consumo privado, juntamente com a potencial desvalorização adicional do câmbio, pesará sobre o investimento na indústria e também no setor de serviços”, cita o relatório.
A Unctad nota que dados preliminares do primeiro trimestre de 2016 mostram que o número de novos projetos na região caiu 19% e o montante investido recuou 18% na comparação com igual período do ano passado. A atividade de fusões e aquisições também ficou abaixo da média no trimestre.
Entre os riscos à frente, a entidade nota que eventual queda adicional do preço das commodities “provavelmente atrasará projetos de investimento na indústria extrativa, assim como tende a reduzir o reinvestimento de lucros”. Esse movimento já é visto na região. O valor dos novos projetos caiu 17% em 2015 na comparação com 2014, em movimento liderado pelo setor extrativo que teve forte queda de 86% nos investimentos. “Isso está alinhado com os planos de investimento de capital das maiores estatais petroleiras da região – a Petrobras do Brasil, Ecopetrol da Colômbia e Pemex do México – que preveem acentuada redução dos investimentos no médio prazo”.
No setor de serviços, a Unctad nota que também há diminuição dos fluxos de investimento estrangeiro. A entidade cita que esse fenômeno atinge segmentos como transportes, comunicação e comércio.
Investimento estrangeiro global
O novo relatório anual World Investment Report 2016 revela que o fluxo global de investimento estrangeiro direto saltou 38% no ano passado, para US$ 1,76 trilhão. Esse é o maior valor anual registrado desde o início da crise financeira iniciada em 2008. Segundo a Unctad, o movimento foi liderado por operações de fusão e aquisição. Ao contrário da queda vista no Brasil, o fluxo para países emergentes aumentou 9% no ano.
“A recuperação do investimento estrangeiro direto foi forte em 2015”, resume a entidade das Nações Unidas. A forte reação do investimento foi liderada pelas operações de fusão e aquisição, cujo montante saltou de US$ 432 bilhões em 2014 para US$ 721 bilhões no ano passado. “Esse foi o primeiro fator por trás do aumento global”, cita o documento. Para os novos projetos, foram destinados US$ 766 bilhões.
O secretário-geral da Unctad, Mukhisa Kituyi, diz no relatório que o salto dos fluxos “dá a esperança de que o investimento internacional finalmente regressa a uma tendência de crescimento sustentável”.
Boa parte do aumento do investimento direto no ano passado foi gerado por operações de mudança de país-sede de multinacionais por “razões estratégicas” geralmente relacionadas a vantagens tributárias. “Particularmente nos Estados Unidos e Europa, tivemos vários mega-acordos que resultaram na transferência do domicílio fiscal de empresas multinacionais para jurisdições que têm tributação menor e sem imposto sobre receitas globais”, cita o relatório. Sem essas grandes operações, o aumento do fluxo de investimento seria mais moderado, com crescimento ao redor de 15%.
Destinos
Entre os países desenvolvidos, o ingresso de investimento saltou 84,3% para US$ 962 bilhões. Assim, esse grupo voltou a atrair a maioria dos recursos no ano, com participação de 55%. Em 2014, a fatia havia sido de 44% – ou seja, emergentes haviam liderado. Para os EUA, por exemplo, o montante saltou em um ano de US$ 107 bilhões para US$ 380 bilhões. Para a Irlanda – país que recebeu várias operações de mudança de domicílio fiscal – o montante mais que triplicou, de US$ 31 bilhões para US$ 101 bilhões.
Para os emergentes, foram destinados US$ 765 milhões, com aumento mais modesto de 9% na comparação com o ano anterior. O aumento foi gerado exclusivamente pelos fluxos para a Ásia – que aumentaram de US$ 468 bilhões para US$ 541 bilhões. Na América Latina e África, ao contrário, os volumes diminuíram. Para as economias latino-americanas, o fluxo caiu de US$ 170 bilhões para US$ 168 bilhões. Para as nações africanas, recuo de US$ 58 bilhões para US$ 54 bilhões.