Banco Central não vê riscos à estabilidade financeira do Brasil
Em coletiva, Banco Central, afirma que os testes de estresse de capital demonstram que o sistema bancário possui adequada resiliência
atualizado
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O Banco Central (BC) em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (3/11) explicou seu Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao primeiro semestre deste ano. O documento aponta que apesar do cenário adverso, “não há risco relevante para a estabilidade financeira” do país. “Testes de estresse de capital demonstram que o sistema bancário possui adequada resiliência”, diz o texto.
Entre as duas reuniões do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central, o risco sistêmico agregado das economias avançadas e das emergentes apresentou leve aumento, mas o documento cita que isso não afeta a segurança do país.
O risco sistêmico está estimado em 7% do produto interno bruto (PIB) para os países desenvolvidos e 4,9% para os emergentes.
O BC também manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCPBrasil) em 0% nas reuniões trimestrais de 26 de maio e 1º de setembro de 2022. Esse instrumento trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos. Diante da estabilidade, a parcela se mantém zerada. “Não vemos necessidade diante da falta de risco”, disse Paulo Souza, diretor de Fiscalização da autarquia.
O BC apontou que o acesso à crédito a micro, pequenas e médias empresas seguiu em expansão enquanto as empresas de grande porte acessam o mercado de capitais. “O cenário adverso de 2020 e 2021 não afetou a expansão do acesso a crédito e isso se manteve neste ano”, disse Souza.
- Crédito a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) seguiu crescendo forte, em especial, para financiar capital de giro nas microempresas e investimento nas companhias de médio porte;
- Crédito bancário para pessoas físicas (PFs) manteve o ritmo elevado de crescimento, sobretudo no crédito não consignado e no cartão de crédito;
- Materialização de risco aumentou, mas o nível de provisões continua acima das perdas esperadas.
Inadimplência menor, aponta Banco Central
O Banco Central afirma que apesar dos apertos monetários e cenário ainda incerto, ao comparar com o período pré-pandemia, a inadimplência bancária continua menor ou estável, com bancos provisionados para enfrentar os atuais desafios macroeconômicos.
“Porém a perda de poder aquisitivo das famílias em ambiente de inflação elevada e choques de custos afeta a capacidade de pagamento de dívidas e a demanda por produtos e serviços corporativos, aumentando a vulnerabilidade de famílias e empresas no atual cenário de inflação e juros mais altos”, afirma o relatório do BC.
Paulo Souza explicou que “apesar das maiores despesas com provisões, a rentabilidade do sistema bancário
manteve-se estável”. Na apresentação, na sessão “ativos problemáticos”, o acesso a crédito à pessoas físicas tem provisão estimada em R$ 164 bilhões para uma perda estimada de 113 bilhões; já para pessoa jurídica, a perda esperada é de R$ 91 bilhões e provisão em 112 bilhões.
“Quando olhamos um ativo problemático, ele já tem materializado o risco. Ele tem uma defasagem de três meses. Agora o score [pontuação], é uma avaliação que vamos fazendo. O score pode se manifestar em inadimplêndia ou ativo problemático”, explicou Paulo Souza.
Auxílio Brasil
O Metrópoles questionou o BC sobre os riscos da concessão de crédito aos beneficiários do Auxílio Brasil, de acordo com Paulo Souza, não houve nenhuma flexibilização da instituição em relação à modalidade. “A análise é feita pela instituições responsáveis, por parte do BC, não houve qualquer flexibilização e e tratamos como um produto qualquer”, disse.
Captações
Com tendência de crescimento iniciada no semestre anterior, com forte influência da recuperação econômica e pelo ciclo de alta da taxa Selic – hoje em 13,75% – o BC destaca uma evolução para a carteira de depósitos a prazo.
Carteiras de Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) (38%); Letra de Crédito Imobiliário (LCI) (25%) e Letra Financeira (LF) (28%), instrumentos que apresentam boa rentabilidade para os clientes e, no caso das LCA e LCI, custos financeiros menores para os bancos.
As captações de CDBs estimados como do tipo “raspa-conta” cresceram no trimestre, concomitantemente às saídas líquidas dos fundos com o mesmo objetivo.
Já o saldo das cadernetas de poupança caiu 2%. “Mantém-se a tendência de queda do estoque de poupança, em função da perda de competitividade frente a outras opções de investimento”, explica o BC.
Cenário Macroeonômico
“Em Taiwan, China, Bélgica, Canadá e Colômbia, por exemplo, o risco sistêmico aumentou, influenciado pela perda de valor de mercado das instituições financeiras nesses países. Fatores específicos de cada jurisdição se somaram à deterioração das perspectivas para o setor nos mercados globais, afetando a capitalização de mercado”, diz o relatório.
O texto afirma, no entanto, que Índia e em Israel, no setor financeiro, durante o período avaliado, apresentou ganhos de valor de mercado, levando a uma redução do risco sistêmico.
O Banco Central cita que a política monetária apertada nas principais economias globais impactou negativamente as principais classes de ativos, desvalorizando os índices de ações, afetados pelo aumento das taxas de juros de longo de prazo, e elevação nos spreads de crédito, “em especial na Europa, impactada pela piora no cenário econômico da região”.
No caso da Europa, vale citar a Guerra na Ucrânia e, consequentemente, os aumentos nos preços de energia que impactam toda a cadeia produtiva e a população.