Após eleição de Bolsonaro, dólar sobe a R$ 3,70 e bolsa cai 2,24%
Investidores agora aguardam por sinalizações mais concretas sobre o que vem pela frente com o novo governo
atualizado
Compartilhar notícia
O esperado bom humor do mercado financeiro no primeiro pregão após a vitória de Jair Bolsonaro na corrida presidencial não durou muito. Após um início positivo, com dólar em queda e Bolsa em alta, os investidores inverteram o cenário e, após às 12h15, o Ibovespa, índice com as principais ações em negociação no Brasil, virou para o terreno negativo.
A Bolsa terminou o dia aos 83.797 pontos, em queda de 2,24%. O dólar, por sua vez, que chegou a operar a R$ 3,58, fechou a R$ 3,7022, em alta de 1,36%.
A explicação para essa mudança está na expectativa dos agentes do mercado com relação ao futuro do novo governo. Mitigadas as incertezas no campo político brasileiro, após a vitória de Jair Bolsonaro, os investidores agora aguardam por sinalizações mais concretas sobre o que vem pela frente. Pesaram ainda nesta tarde as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, com investidores alertas à possibilidade de novas sanções.
“O mercado tem essa euforia inicial, mas deve querer sinais mais concretos para reagir por um período mais alongado”, comentou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada.
O primeiro sinalizador que pode sustentar o rali de ativos brasileiros, disse, é a definição da equipe econômica. O outro fator bastante aguardado e que tem potencial para destravar ainda mais o mercado é como se dará o encaminhamento da agenda de reformas.
Tensão comercial
As bolsas de Nova York têm queda de olho no avanço das tensões sino-americanas, em meio a informações de que os Estados Unidos se prepararam para impor mais sanções a US$ 257 bilhões em importações chinesas no início de dezembro, caso a reunião entre os líderes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, na cúpula do G-20, não resulte em uma amenização da guerra comercial.
Às 16h46 de Brasília, o Dow Jones cedia 1,84%, o S&P 500 caía 1,58% e o Nasdaq recuava 2,87%, com destaque para as ações da Boeing, que perdiam 7,85% e as da Amazon, que recuavam 8,27%.
“Bom humor”
Mesmo em seus principais momentos, a variação positiva da Bolsa foi muito mais modesta do que o observado no domingo e nesta segunda-feira cedo nos ETFs de ações brasileiras no Japão, na Europa e em Nova York. Ainda assim, a bolsa brasileira subiu, indicando a satisfação dos agentes do mercado com as perspectivas para a condução da economia até 2022. Sob a mesma reação, o dólar abriu em queda e ficou assim até o começo da tarde, quando passou a subir
A estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, diz que o mercado se ajusta após a euforia inicial com Bolsonaro presidente e agora opera acima dos R$ 3,60 rumo aos R$ 3,65 que é o nível que já precificava a vitória na última sexta-feira. Agora, diz ela, o mercado passa a olhar fundamentos e, apesar do cenário externo bom hoje, deve ficar mais sensível às incertezas internacionais.
Sobre a Bolsa, um operador observa que os investidores assumiram grande posição comprada, especialmente o investidor pessoa física. “Somente uma corretora de clientes pessoas físicas comprou mais de meio bilhão de reais somente na sexta-feira”, disse o profissional. “Agora é esperar para ver quais os nomes da equipe do novo presidente e se vai ter algum mágico para executar tudo o que ele prometeu”, afirmou o operador.
Em entrevista ao Broadcast, o principal economista do Brasil e América Latina do BBVA Research, Enestor dos Santos, salienta que muitos pontos sobre o programa econômico do presidente eleito ainda são desconhecidos. “Vai ser necessário muita notícia favorável para manter esse rali nos mercados”, previu. Uma dúvida é sobre qual será a reforma da Previdência de Bolsonaro, visto que o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já descartou o uso do atual texto.
Por volta das 10h15, a Moody’s divulgou relatório em que o apoio do Congresso ao novo governo e para a aprovação de reformas “permanece incerto”. Além disso, “detalhes da política econômica da nova administração ainda não estão claros”. No relatório, os analistas da agência de classificação de risco voltaram a pontuar que “gasto fiscal, reforma da Previdência e apoio político do Congresso são “desafios para 2019 e além”.
Do exterior, a influência é mista. As bolsas em Nova York abriram em alta, confirmando a tendência traçada pelos índices acionários futuros, e as bolsas da Europa continuam subindo. Já no mercado de petróleo, os preços firmaram-se em queda. Depois de exibirem volatilidade mais cedo, os contratos futuros da commodity foram pressionados pelo dólar, que ganhou força na esteira de indicadores dos EUA sobre gastos e renda do consumidor e também sobre inflação.