“Apagão” de mão de obra no país pode limitar crescimento
Levantamento mostra que, em 2020, vagas abertas nas empresas ou preenchidas por pessoas com qualificação abaixo da ideal chegará a 1,8 mi
atualizado
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A multinacional brasileira de tecnologia CI&T vem tentando, sem sucesso, preencher 500 postos de trabalho para as unidades de Campinas e de Belo Horizonte, com salários que vão de R$ 9 mil a R$ 10 mil por mês.
Em São Paulo, o aplicativo de entregas Rappi, que diz crescer 35% ao mês há dois anos, já aponta como principal desafio encontrar funcionários para sustentar essa expansão. Para especialistas, o “apagão” da mão de obra qualificada no Brasil chegou a um ponto que pode se tornar um fator limitador ao crescimento econômico.
Uma pesquisa feita pela empresa de recursos humanos Korn Ferry com executivos de empresas no país mostra que, no ano que vem, já haverá um déficit de 1,8 milhão de pessoas para vagas mais especializadas — considerando-se tanto as vagas abertas quanto as que vão ser preenchidas por empregados sem a qualificação considerada ideal.
Esse número deve crescer a uma taxa de 12,4% ao ano, até alcançar 5,7 milhões de postos com funcionários sem competência ideal ou vagos até 2030.
“O Brasil vive uma severa carência de mão de obra especializada”, diz Jean-Marc Laouchez, presidente do Korn Ferry Institute, responsável pelo estudo. Para ele, apesar de algumas iniciativas nessa área terem sido lançadas, “muito ainda precisa ser feito para o país alcançar seu potencial de crescimento”.
Enquanto os dados oficiais apontam para 12,5 milhões de desempregados e 38,8 milhões de trabalhadores na informalidade, o estudo indica que as empresas deixarão de faturar US$ 43,6 bilhões (cerca de R$ 183 bilhões) até o fim de 2020 justamente por não encontrarem mão de obra especializada para atuarem em áreas estratégicas do negócio, responsáveis pelo crescimento das empresas.
Com isso, fica difícil, por exemplo, conseguir novos contratos ou expandir produção, mesmo que a demanda cresça.
O principal desafio envolve cargos relacionados ao desenvolvimento digital e tecnológico das companhias. São profissões ainda pouco conhecidas, como segurança da informação, cientista de dados, analista de marketing digital e de desenvolvimento de produtos tecnológicos, onde a demanda supera em muito a oferta de profissionais.
Fundada em Campinas em 1995, a empresa de soluções digitais CI&T, hoje com operações também nos EUA, na Europa e na Ásia, conta com 2,5 mil funcionários. No último trimestre, motivada por novos contratos no Brasil e no exterior, abriu um processo para 500 profissionais. Boa parte das vagas são para profissionais de nível pleno e sênior, com salários na casa dos R$ 9 mil a R$ 10 mil.
“É sempre difícil encontrar profissionais nessa área, por isso o programa de salários e benefício tem de ser atraente”, diz Vanessa Togniolli, gerente sênior de desenvolvimento organizacional.
Mundo afora
O levantamento da Korn Ferry é global, feito com 115 mil empresas pelo mundo, sendo cem no Brasil. E o que os números apontam é que esse problema de falta de mão de obra especializada, principalmente nas tecnologias digitais, ocorre em todo o mundo.
De acordo o relatório, empresários ou presidente de companhias estimam que, no mundo, a falta de pessoal especializado deve alcançar, até 2030, 85,2 milhões de vagas de trabalho.