Analistas de benefícios sociais temem perder até metade do salário
Analistas em tecnologia da informação reclamam de dispositivo do texto da reforma administrativa capaz de cortar 50% da remuneração mensal
atualizado
Compartilhar notícia
![Fotografia colorida do Ministério da Economia](https://uploads.metroimg.com/wp-content/uploads/2020/01/14143749/Ministeriodaeconomia-e1643833253955.jpg)
Servidores públicos federais que trabalham na função de analista em tecnologia da informação (ATI) temem a reforma administrativa do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e avaliam que a proposta pode defasar, ainda mais, a carreira no setor.
Esses funcionários trabalham com os sistemas do Ministério da Economia e cuidam, por exemplo, das plataformas Meu INSS (solução multidispositivo para acesso aos serviços da Previdência Social), do Bolsa Família e, mais recentemente, do auxílio emergencial.
O temor dos analistas consiste no artigo 84 da reforma administrativa (PEC 32/20), dispositivo que aumentará o poder do presidente da República. O texto estabelece que o chefe do Executivo poderá extinguir, dentre outros pontos, gratificações temporárias sem o aval do Legislativo.
Metade do salário de um analista em TI é composto, segundo o presidente da Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação (Anati), Thiago de Aquino Lima, por gratificações temporárias. A remuneração mensal da carreira varia entre R$ 10,2 mil e R$ 13,4 mil.
Isso significa que, caso o presidente da República, seja ele qual for, decida extinguir tal gratificação temporária do sistema de administração dos recursos de informação e informática – exclusivo para atuar na área de TI do governo federal –, estaria cortando metade do salário desses servidores.
“Se tirar essa gratificação temporária, vai tirar 50% do nosso salário, e, então, a carreira acaba. Isso pode prejudicar, e muito, os beneficiários do auxílio emergencial, do Bolsa Família, do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], por exemplo”, afirma Thiago de Aquino, ao Metrópoles.
O presidente da associação ressalta ainda que, hoje, o setor público já não oferece as melhores condições para a carreira. Levantamento realizado pela Anati e a B2HR Pessoas e Estratégias aponta que a iniciativa privada remunera de 27% a 170% a mais que o Ministério da Economia.
Ainda de acordo com o estudo, a carreira dos ATIs no funcionalismo púbico não têm nenhum tipo de incentivo ao desenvolvimento, o que tornaria o setor privado mais atrativo em várias situações. Atualmente, o quadro de servidores públicos federais analistas em tecnologia da informação é de 461 pessoas.
Segundo a Secretaria de Governo Digital do Ministério da Economia, o percentual médio de evasão dos três concursos já realizados para o cargo de analista de Tecnologia da Informação é de 31,75% – sendo que o último concurso, feito em 2015, teve uma evasão de 15,63%.
“Se a reforma passar do jeito que está, essas 461 gratificações provavelmente serão transformadas em cargos comissionados, a serem compostos por indicação política. Estamos falando de contratos milionários. O que vai ter de problema, de corrupção, vai ser uma coisa gigantesca”, afirma Thiago.
Procurado, o Ministério da Economia informou que a transformação digital é uma política pública prioritária do governo e, neste contexto, reconhece “a importância dos analistas de TI como gestores competentes e dedicados à sustentação dessa política essencial que simplifica e agiliza a vida da população brasileira”.
A pasta tem sustentado que a reforma administrativa não prejudicará os atuais servidores e ressaltou que não há qualquer estudo em curso que vise a extinção do cargo de Analista de TI, nem mesmo perspectiva de que isso ocorra, assim como de uma redução da remuneração.
“A transformação digital mantém todas essas equipes dedicadas ao objetivo de criar para a população canais digitais na totalidade dos 3,8 mil serviços do governo federal. Esta é a meta prevista até o final de 2022”, complementou o ministério, comandado pelo economista Paulo Guedes.