Alta da inflação é sinal de que juros não começarão a cair tão cedo
Para especialistas, o IPCA de outubro é um alerta para o Banco Central e pode indicar uma postura mais cautelosa quanto à taxa Selic
atualizado
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Depois de três meses consecutivos de queda, a inflação voltou a subir no Brasil. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário do país, registrou avanço de 0,59% em outubro. Em 12 meses, os preços acumulam alta de 6,47%, um ligeiro repique em relação ao mês anterior.
Três fatores chamaram a atenção dos analistas. O primeiro é que a prévia da inflação do mês (IPCA-15), divulgada na primeira quinzena de outubro, tinha mostrado um avanço de preços substancialmente menor. Portanto, o dado final de outubro surpreendeu para cima. O segundo fator preocupante é que a inflação segue disseminada pela maior parte das categorias de produtos e serviços.
Segundo a economista Ariane Benedito, o índice de difusão (que mede o “espalhamento” da inflação na economia) está acima de 60%, o que indica uma persistência dos preços em patamares elevados ao longo dos próximos meses. “Mesmo excluindo os choques e efeitos sazonais, tudo indica que teremos uma inflação mais alta que o esperado em 2022”, disse a economista.
Por fim, o terceiro fator observado pelos economistas foi a piora nos preços de produtos como vestuário e itens de higiene pessoal, enquanto outras categorias, como a de combustíveis, deixaram de contribuir favoravelmente para a inflação.
Sem trégua dos combustíveis
Os preços da gasolina, diesel e etanol, responsáveis por conduzir o IPCA para o campo da deflação nos últimos meses, vieram acima do esperado em outubro. Depois de uma queda de quase 2% em setembro, o grupo de transportes subiu 0,58% no mês, praticamente um espelho do índice geral de preços.
Como a taxa de juros é a principal ferramenta do Banco Central (BC) para conter a inflação no país, o repique do IPCA em outubro é um indicador de que levará mais tempo para que a Selic comece a descer do patamar atual, de 13,75% ao ano.
“Os números de inflação podem reacender, no mercado, a expectativa de que o BC até poderá aumentar os juros no curto prazo para conter os preços”, avaliou Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. Ele diz que um aumento de 0,25% na Selic na próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, não está descartado, principalmente levando em conta as incertezas em relação ao próximo governo.
“A indefinição sobre a equipe econômica do governo Lula e o discurso forte no sentido de furar o teto de gastos podem pressionar o risco-Brasil, e isso impacta o dólar”, afirmou Velloni.
O dólar saltou quase 3%, na manhã desta quinta-feira (10/11), após a divulgação do IPCA. O câmbio é um importante fator para a inflação, pois diversos produtos e serviços consumidos pelos brasileiros têm cotação no mercado internacional, a exemplo dos combustíveis e alimentos.