“Ainda não vencemos a batalha da inflação”, diz Campos Neto
“Precisamos ser cautelosos em relação à inflação. Temos de voltá-la para a meta”, afirmou o presidente do BC em evento da Febraban
atualizado
Compartilhar notícia
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (25/11) que a inflação continua merecendo atenção da autoridade monetária. Segundo ele, a batalha contra a escalada de preços ainda não foi vencida no país e no mundo.
Campos Neto participou do Almoço Anual de Dirigentes de Bancos promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em São Paulo, ao lado do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), cotado para assumir o comando da economia. O encontro reuniu cerca de 350 convidados, entre CEOs de instituições financeiras, representantes de comitês executivos de bancos, políticos e outras autoridades.
“Ainda não vencemos a batalha da inflação nem localmente nem globalmente. É importante persistir”, afirmou Campos Neto. “Precisamos ser cautelosos em relação à inflação. Temos de voltar a inflação para a meta. Isso é o melhor instrumento de previsibilidade de investimento. Ao contrário do que os mercados precificam, talvez a redução da inflação não seja linear”, completou o presidente do BC.
Segundo Campos Neto, “as inflações no mundo parecem ter chegado a um pico e estão se acomodando ou caindo”. “A preocupação global vai deixar de ser puramente inflação e passar a ser o quão grave será a desaceleração global, por um lado, e como vamos fazer uma coordenação entre política fiscal e política monetária.”
Atualmente, a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) está em 13,75% ao ano. A manutenção dos juros nesse patamar é uma das formas que o BC tem de combater a escalada da inflação. Em outubro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, subiu 0,59%. No acumulado do ano, chegou a 4,7%, e, em 12 meses, a 6,47%.
Segundo o relatório Focus divulgado na segunda-feira (21/11), a projeção é que a Selic termine 2022 exatamente na faixa atual (13,75%). A inflação deve fechar o ano em 5,88%.
Pandemia e guerra
Para o presidente do BC, a maioria dos Bancos Centrais do mundo não conseguiu projetar com precisão quais seriam os impactos da pandemia de Covid-19 sobre a economia global. “Eles não tinham muita percepção do que seria. Nos preparamos para uma depressão e veio uma recessão”, afirmou.
“Primeiro, houve uma dificuldade de entender o que seria esse impacto, que foi muito maior na demanda de bens do que o esperado. Isso gerou também uma demanda por energia, e isso não foi percebido a tempo”, prosseguiu Campos Neto. “Tinha uma tese de que a inflação seria temporária. Ela foi mais persistente do que se imaginava.”
Segundo o presidente do BC, a guerra entre Rússia e Ucrânia também gerou forte impacto, pois gerou inflação de energia e alimentos e dificuldade na oferta de energia na Europa. Campos Neto citou a inflação alta no Reino Unido, a maior nas últimas quatro décadas, como um exemplo que serve de alerta.
“Vínhamos de um período muito grande de muita bonança e juros baixos no mundo inteiro, com vários governos entendendo que não precisavam fazer reformas. Começaram a aparecer rachaduras nesse modelo, que vêm da produtividade baixa”, disse. “O Brasil fez sua parte, avançando em algumas reformas nos últimos quatro anos.”
O Almoço Anual de Dirigentes de Bancos promovido pela Febraban não acontecia no formato presencial desde 2020, quando teve início a pandemia de Covid-19. Naquele ano, o encontro não foi realizado. Em 2021, houve uma reunião online.