Agricultura está pagando conta da Covid-19, diz CNA sobre alta nos alimentos
Superintendente técnico da entidade, Bruno Lucchi afirma que produtores rurais “não estão tirando vantagem sobre os outros elos da cadeia”
atualizado
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Diante da pressão do presidente Jair Bolsonaro pela redução nos preços de alimentos, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alega que o aumento ocorre devido ao elevado custo de produção gerado pela pandemia do novo coronavírus.
Segundo o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, os produtores rurais “não estão tirando vantagem sobre os outros elos da cadeia”. Para ele, o setor da agricultura está “pagando a conta da Covid agora”.
“Podemos afirmar que a maioria das atividades agropecuárias recuperou os preços dos seus produtos. No entanto, esses aumentos têm sido acompanhados pela alta no custo de produção, o que demonstra que o produtor não está tirando vantagem sobre os outros elos da cadeia. Muitos produtores têm trabalhado com margens negativas, mas não pararam de trabalhar, mesmo na pandemia”, disse Lucchi em entrevista divulgada no site oficial da CNA.
Lucchi argumentou, ainda, que os lucros do setor agropecuário são “reinvestidos na própria fazenda para ter mais ganhos em produção e produtividade”, o que, para ele, assegura a oferta de alimentos ao país.
Na última sexta-feira (4/9), o presidente Jair Bolsonaro pediu patriotismo ao dizer que tem buscado associações de supermercados para tentar baixar os custos de produtos que compõem a cesta básica.
Ele indicou que a iniciativa é motivada pelo receio do risco de inflação. “Estou pedindo um sacrifício, patriotismo para os grandes donos de supermercados para manter na menor margem de lucro”, declarou o presidente durante viagem a São Paulo.
Ao portal da CNA, Lucchi afirma que o setor da agricultura está “pagando a conta da Covid agora”. “Não apenas o produtor, mas todos os elos da cadeia produtiva. Por isso, medidas como a retirada do imposto de importação para alguns alimentos pode afetar a oferta de alimentos no médio e no longo prazo”, disse.
“Seria uma intervenção artificial que nesse momento pode gerar desestímulo a intensificação do processo produtivo, comprometendo o aumento da produção tanto dos produtos agrícolas quanto da pecuária. É uma visão imediatista que pode comprometer seriamente a produção de alimentos”, avaliou.
Para ele, os preços irão se adequar assim que houver regularização de oferta através de novos estímulos a produção. “Na pecuária bovina, por exemplo, a oferta de animais para abate provavelmente aumentará a partir do último trimestre do ano em função da melhoria do maior processo de intensificação e devido a melhoria das condições das pastagens”, afirmou.
“A produção de leite, uma das mais afetadas pela pandemia, deve ter a produção acelerada em setembro em algumas regiões também em função do início das chuvas e melhor remuneração do produto. Tudo isso pode sinalizar redução dos preços aos consumidores, pois teremos aumento na oferta desses produtos.”
Lucchi também disse que, apesar do aumento da demanda internacional, acredita que a elevação dos preços internamente não está necessariamente ligada às exportações. “O mercado interno consome a grande parte do que produzimos. O que vai para fora são os excedentes”, alegou.
Inflação
Com a forte demanda da China por alimentos, a consolidação do câmbio no patamar de R$ 5,30 está pressionando os preços dos alimentos para os brasileiros. Como mostrou o Estadão, isso já faz os economistas revisarem para cima as projeções de inflação do ano e provoca uma queda de braço entre supermercados e fornecedores para tentar frear os repasses.
“A minha expectativa era de que a inflação ao consumidor ficasse até abaixo de 2%. Agora estou revendo para 2,3%, estou chegando no piso da meta”, disse o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas. Já o economista Fabio Silveira, sócio da MacroSector, que antes projetava inflação do ano em 2,7%, está revendo para 3,3% por causa da alta da comida.