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É possível se proteger de ataques como o de Suzano? Sim, dizem experts

Com base em normas dos EUA, especialistas dão curso em Atibaia (SP) sobre o comportamento a ser adotado diante de “atiradores ativos”

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1 de 1 dia de acolhimento suzano7 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Desde o dia 13 de março, quando dois ex-alunos invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), e promoveram uma chacina que resultou na morte de oito pessoas – além dos assassinos –, órgãos de Segurança Pública de todo o país passaram a receber alertas sobre ameaças de novos ataques do tipo. Estudantes, educadores e pais entraram em pânico. Suzano foi o sexto massacre com atiradores e múltiplas vítimas ocorrido no Brasil.  

Sobram medo e dúvidas. Faltam informações sobre como prevenir novos casos, proteger a comunidade escolar e detectar as mentes criminosas antes que elas ponham em marcha algum plano macabro que ameace dezenas de vidas inocentes. 

Para contribuir com o debate sobre como evitar tragédias assim, o Metrópoles entrevistou especialistas nas áreas de segurança pública, proteção à pessoa e psicologia forense. A reportagem foi até Atibaia, no interior paulista, para acompanhar o curso Projeto Policial, que explica as atitudes a serem adotadas por policiais, gestores de locais públicos – como escolas e shoppings – e população diante das chamadas situações com active shooters: ou seja, quando estiverem sob a ameaça de atiradores em massa. 

O projeto em Atibaia é desenvolvido pelo delegado Paulo Bilynskyj, do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo. Treinado nos Estados Unidos, ele é especialista em criminologia, política criminal e segurança pública, e trouxe para o Brasil as técnicas aprendidas com as forças de segurança norte-americanas. Segundo o delegado, apesar desse tipo de ataque não ser novidade no Brasil, o país ainda não está preparado para lidar plenamente com a situação. 

O especialista lembra dos casos de Realengo (RJ), em 2011, quando um rapaz entrou armado numa escola e assassinou a tiros 12 adolescentes com idades entre 13 e 16 anos; do homem que ateou fogo em crianças em uma creche em Janaúba (MG), em 2017, matando nove alunos e uma professora; e de outro que assassinou quatro pessoas a tiros dentro da Catedral Metropolitana de Campinas (SP), ano passado, matando-se em seguida.

Para o delegado, mesmo sendo difícil prever uma ocorrência do tipo, há, sim, maneiras de evitar que os criminosos façam múltiplas vítimas. Do contrário, mães, ao terem filhos ameaçados, não desenvolveriam espontaneamente um comportamento agressivo capaz de protegê-los. Uma reação natural que, segundo o expert, pode ser aprendida.

“[Nós, brasileiros] Não desenvolvemos essa mentalidade de luta, que é uma mentalidade humana de preservação. Mas existe, sim, algo que pode ser feito: treinamento. Você tem que agir”, destaca Bilynskyj.

Também ministra o curso no interior paulista, o presidente do Movimento Viva Brasil, Benedito Barbosa – escritor, analista de segurança pública e especialista em armas e munições. Ele acrescenta que, em situações extremas como as citadas pelo delegado, a ação da polícia deve ser imediata, pois, quanto mais tempo demorar a tomada de decisão, mais inocentes podem morrer.

“Quem executa um ataque assim não tem intenção de fazer reféns e negociar com as autoridades”, afirma Benedito Barbosa. “Tempo significa vida”, acrescenta Bilynskyj. Combinar a ação individual com o rápido acionamento das autoridades é o ideal para sobreviver, afirmam.

Confira como foi a conversa da dupla com o Metrópoles:

 

Nos Estados Unidos, a polícia mudou a forma de agir, tornando-se mais precisa e célere em interromper a atuação de atiradores, após o Massacre de Columbine, em 1999. Na ocasião, dois adolescentes entraram armados em uma escola, assassinando 11 pessoas. Enquanto os policiais montavam o cerco em volta do colégio, os atiradores executaram quantos inocentes quiseram até decidirem tirar a própria vida. Desde então, as ações das forças de segurança norte-americanas foram aprimoradas.

O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) criou um protocolo que orienta a população sobre o que fazer quando há atiradores ativos. As regras são as mesmas repassadas aos frequentadores do curso em Atibaia. Confira as dicas: 

Arte/Metrópoles

 

 

É preciso se preparar para o pior
Bilynskyj e Barbosa defendem que a população seja treinada, pois, quando um civil se vê em situações extremas, tende a paralisar de pânico. “O Brasil não tem a cultura de se preparar para o pior. As autoridades preferem trabalhar com a negação, mas não existe proteção na negação. Você tem que pensar nisso, pois uma hora acontece”, ressalta o presidente do Viva Brasil.

Para eles, equipes de instituições como escolas devem receber treinamento ou realizarem, ao menos, simulações para saber o que fazer durante um ataque. Segundo a dupla de especialistas, é possível, por exemplo, intervir de forma física para neutralizar a ameaça. “Isso os faria estar preparados mais mentalmente do que fisicamente para quando algo do tipo ocorresse”, completa Benedito Barbosa.

Se o caso envolver crianças pequenas, adverte o especialista, “faça o possível para deixar o local, pois uma criança não teria força física para parar um ataque”. Paulo Bilynskyj acrescenta que a sua principal estratégia é estudar o ambiente onde está inserido, entendendo o fluxo que irá atender, as entradas e as saídas do local. “Isso poderá fazer toda a diferença numa ocasião de vida ou morte”, observa.

Ele também esclarece que autores de atentados desse tipo não vão parar até serem neutralizados: “Não adianta levantar as mãos, ele irá atirar em você”.

Outro ponto levantado por Benedito Barbosa é o fato de que o ato em Suzano ocorreu mesmo com a restrição de acesso a armas existente no Brasil: uma delas tinha a numeração raspada; portanto, era ilegal. “Imaginar que uma legislação será obedecida por uma pessoa que está disposta a matar ou morrer é uma idiotice tremenda”, afirma o presidente do Viva Brasil, que também considera inócuo armar professores, como sugeriram até autoridades após a tragédia em Suzano. 

Por mais que doa ou seja terrível, devemos conversar sobre isso com nossos filhos. Esse é o mundo real. Quando paramos de pensar na realidade, as coisas sempre pioram

Benedito Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil e especialista em segurança

Como evitar o surgimento de atiradores
Os responsáveis pela chacina em Suzano tinham 25 e 17 anos. Um outro adolescente de 17 foi apreendido, sob a suspeita de ser o mentor do crime. Pós-graduada em ciência forense, a psicóloga Adriana Galvão de Moura tenta lançar luz sobre o que leva jovens a cometerem tal atrocidade e como evitar que o planejamento de um crime vire ação. 

Com 10 anos de atuação na área, a especialista destaca a importância da presença da família na formação da criança e do adolescente, e afirma que a liberdade deve ser oferecida com limite. 

“Todos esses indivíduos têm um desvio de conduta, um problema que precede a entrada em grupos extremistas que dão a eles o ‘lugar’ que precisam”, comenta. “Em Suzano, o que fez o atirador procurar grupos de ódio foi nutrido em casa. Ele colecionava armas brancas dentro de casa e ninguém viu. No quarto dele tinha um arsenal. O que via na internet o levou a fazer o que fez”, resume. 

Segundo a psicóloga, é preciso uma integração entre instituições e família para dar suporte a jovens com tendências violentas – e, em geral, suicidas –, evitando que sejam cooptados por extremistas e possam vir a planejar um ataque para o qual o desfecho seja pôr fim à própria vida. A orientação de um profissional especializado também é fundamental. 

“Não é qualquer profissional que pode atuar nesses casos, é preciso um profissional de psicologia com experiência nesse tipo de situação. E quando ele atuar, tem que trabalhar com a família, com a escola e com a criança ou o adolescente”, afirma. “Quando a família está tóxica, se o psicólogo não fizer esse viés com ela, não haverá tratamento efetivo”, completa. 

Armamento, seja ele de fogo ou arma branca, e jogos, violentos ou não, não danificam ninguém, não matam ninguém, não provocam chacinas. O problema está na pessoa que consome esses produtos. Crianças e jovens precisam de atividades livres, diálogo dentro de casa e limite. Do contrário, o traficante, o líder do grupo do ódio, é quem vai acolher essa criança

Adriana Galvão de Moura, psicóloga pós-graduada em ciência forense

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