“É comum que abusador culpe a vítima”, diz delegada sobre médico de GO
Ginecologista afirma que foi mal interpretado pelas pacientes. Segundo a Polícia, médico tentava estimular sexualmente as pacientes
atualizado
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Goiânia – “Mal interpretado“, assim se justificou o médico ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, após mais de 50 denúncias formais por algum tipo de abuso sexual. No entanto, segundo a delegada responsável pelo caso, Isabella Joy, da Delegacia da Mulher de Anápolis, a cerca de 55 km da capital goiana, o comportamento do médico é comum aos abusadores sexuais, que tentam amenizar as acusações.
À TV Anhanguera, na tarde desta quarta-feira (6/10), a investigadora afirmou que “é comum que agressores, abusadores e estupradores culpem a vítima“. A fala da delegada repercute a entrevista do médico para a emissora, na qual ele deu a entender que as pacientes se insinuavam para ele durante as consultas. De acordo com o médico, as mulheres iam ao consultório muito bem arrumadas, perfumadas e bronzeadas.
“Já aconteceram inúmeras situações estranhas no consultório de pacientes que vão muito bem arrumadas, perfumadas, com marquinha [de biquíni]. Entra no banheiro para trocar de roupa e fala: ‘Doutor, posso vestir ou posso ficar sem [camisola]?”, declarou o ginecologista.
Conforme investigação da Polícia Civil de Goiás, Nicodemos tentava estimular sexualmente as pacientes durante exames. Além disso, enviava mensagens de cunho sexual pelo celular. Ele é investigado por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.
“Até quem é leigo sabe que não existe isso, que com um toque normal a mulher vá se excitar. É comum que criminosos culpem as vítimas”, reforçou Isabella.
“Eu brinco”
Nicodemos ficou preso preventivamente por cinco dias, suspeito de assediar sexualmente pacientes durante procedimentos médicos, inclusive, mulheres grávidas. O Ministério Público de Goiás (MPGO) recorreu da decisão judicial que o soltou.
Em sua defesa, o médico afirmou que os comentários e conversas não passavam de brincadeiras. “É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes nisto, eu pequei realmente. Você brincar com algumas coisas, não foi meu objetivo”, disse ele.
“É até um erro meu, concordo, brinca por WhatsApp, faz alguma brincadeira, comenta alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que fiz isso e estou errado, mas nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com o objetivo de ter prazer sexual ou de fazer ela ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é um exame físico”, alegou o médico à TV.
Condenação e várias denúncias
Nicodemos chegou a ser condenado em primeira instância por importunação sexual em 2020 por um crime cometido em 2018. A condenação é do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
Segundo depoimento da vítima, que tinha 18 anos à época, o médico teria introduzido o dedo no órgão sexual dela enquanto encostava nela por trás. A jovem procurou a delegacia para denunciar o caso no mesmo dia. Ela fazia um exame de ultrassonografia intravaginal, em uma clínica no Samambaia (DF).
Uma outra paciente do Paraná chegou a denunciar o ginecologista, mas o caso foi arquivado. A investigação de Goiás começou com três casos de vítimas de Anápolis, mas depois que o profissional foi preso, 53 mulheres procuraram a polícia para denunciá-lo, até esta terça-feira (5/10).
Nicodemos saiu da prisão, mas segue monitorado com tornozeleira eletrônica, além de estar impedido judicialmente de sair de Anápolis ou realizar exames e consultas.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que está apurando a conduta do ginecologista e obstetra Nicodemos Júnior. A apuração tramita em sigilo.