“É absurdo número de vítimas de policiais”, diz porta-voz da PM do Rio
Em audiência do STF, Major Ivan Blaz, no entanto, negou que as ações das forças de segurança do estado tenham um viés racista
atualizado
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O porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, major Ivan Blaz, afirmou que é “muito absurdo” o número de vítimas das forças policiais no estado. No entanto, ele negou que a ação da PM tenha um viés racista. As declarações foram dadas durante audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (19/4).
O debate na Corte é sobre a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635, que discute a violência policial no Rio de Janeiro. Em junho, o ministro Edson Fachin, relator da ação, concedeu uma liminar restringindo operações policiais durante a pandemia de Covid-19 — a decisão foi posteriormente confirmada pelo plenário virtual da Corte.
Na sexta-feira (16/4), Fachin ouviu familiares de vítimas de violência policial e representantes de entidades de defesa dos direitos humanos.
Segundo Blaz, o fato de serem registradas mais de 1 mil mortes por intervenção de agentes do estado — classificação oficial dos assassinatos cometidos por policiais — “não é natural”. Contudo, ele atribuiu a criminosos a rotina de conflitos em comunidades e periferias do estado.
“Logicamente, quando falamos de letalidade policial, nós teremos, sim, um número que está em queda. Contudo, em termos de número absoluto ainda é algo muito absurdo. Termos um saldo ao término de um ano de 1 mil mortes não é algo natural, mas dizer que a corporação não faz programas que busquem a redução dessa letalidade não é verdade. Temos o Sistema Integrado de Metas que estabelece a letalidade violenta como um parâmetro real, material, que já é uma ferramenta para ser utilizada por vossas senhorias como controle externo”, argumentou.
Blaz também rebateu falas de especialistas ouvidos na audiência, que destacaram o viés racista na atuação das forças policiais do Rio. No Rio de Janeiro, aproximamente 80% das pessoas assassinadas são negras, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) — dado que inclui também as mortes cometidas por agentes de segurança pública.
Apesar disso, o porta-voz da PM afirma que a corporação não reproduz racismo estrutural por sempre ter sido pioneira em acolher negros em seus quadros, no oficialato e até mesmo no comando.
“Acusar a instituição que não conhece dentro de seus muros a diferença racial de racismo estrutural é uma injustiça que sentimos na pele, uma vez que sabedores da realidade do Rio de Janeiro não podemos ignorar a ação criminosa de marginais como protagonistas dessa realidade”, alegou.