Domingos Brazão chama investigação da PF de açodada: “Não fui ouvido”
O conselheiro do TCE-RJ é interrogado pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes sob a acusação de mandar matar Marielle e Anderson
atualizado
Compartilhar notícia
Logo após o deputado federal Chiquinho Brazão concluir seu depoimento em audiência do Supremo Tribunal Federal (STF) para ouvir os supostos mandantes do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, em 2018, foi a vez do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Inácio Brazão falar.
Preso há sete meses e investigado por homicídio qualificado e organização criminosa, o réu acusou integrantes da Polícia Federal de não terem conduzido bem o processo que levou à sua acusação.
Assim como seu irmão, Domingos Brazão negou conhecer Ronnie Lessa ou Élcio de Queiroz, assassinos confessos da vereadora e delatores do caso. “Nunca vi essa pessoa na minha vida”, disse sobre Lessa.
Domingos complementou que “nunca foi ouvido no caso”, e que, se tivesse sido, a situação dele hoje seria diferente. “Nunca fui ouvido. Tô aguardando essa oportunidade de falar desde que começou a sair meu nome na imprensa. Estou há sete meses num presídio federal. Se eu tivesse sido ouvido antes, teríamos economizado o tempo de todo mundo. Mas não houve interesse”, disse.
“Esse pequeno grupo que ficou responsável por essa investigação, não sei se de maneira açodada ou por empolgação, não nos foi dada a oportunidade de sermos ouvidos e de esclarecer”, complementou o conselheiro do TCE-RJ.
O réu ainda prosseguiu em sua defesa: “A busca da verdade deveria ser o principal. Se o senhor ministro Alexandre de Moraes tivesse me dado a oportunidade de ser ouvido, não estaria passando o que estou passando. O interesse não era em esclarecer”, acusou.
Questionado pelo juiz instrutor do gabinete de Moraes, Airton Vieira, sobre por que Lessa o teria apontado como mandante do assassinato de Marielle, Domingos Brazão disse acreditar que Lessa estava “encurralado” após a delação de Élcio. Para Domingos, Lessa queria os benefícios da delação. “A única parte real da história de Lessa é que ele matou Marielle. Só”, disse.
“Nunca tive contato com Lessa”
Em dois dias de depoimento, com a conclusão nesta terça-feira (22/10), Chiquinho Brazão teve falas parecidas com as do irmão. “Nunca tive contato com Ronnie Lessa. As pessoas são anônimas para você muitas das vezes. Não tenho dúvida de que ele poderia me conhecer, mas eu nunca na vida tenho lembrança de ter estado com essa pessoa”, disse, ao responder pergunta do juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, Airton Vieira.
O parlamentar ainda completou: “Meu irmão não sabia nem da existência da vereadora. Quando houve o crime em si, o meu irmão comentou: ‘O que tão sério fez essa jovem para um crime tão grave?’. Ele não conhecia, não sabia da existência dela. Não conhecia, com certeza”, afirmou Chiquinho.
Chiquinho ressaltou que tinha excelente relação com Marielle e que ela tinha “um futuro brilhante”. “Ela era uma vereadora muito amável”, alegou.
O parlamentar, preso desde março acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle, emocionou-se durante o depoimento. Ele chorou copiosamente ao falar da família, do neto e da filha. Chorou ao lembrar das idas à igreja e da rotina que tinha antes de ser preso. Lembrou ainda que a família sempre trabalhou com as comunidades, em especial a de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Acusações de Lessa
Embora Chiquinho tenha dito que não conhecia Lessa, o assassino confesso de Marielle afirmou, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que fechou um acordo de US$ 10 milhões com os irmãos Brazão. Lessa é apontado como o atirador responsável pela morte da vereadora Marielle e do motorista Anderson, em 2018.
Segundo Lessa, Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), ofereceram um loteamento no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste carioca. “Não é uma empreitada para você chegar ali, matar uma pessoa e ganhar um dinheirinho. Não”, alegou Lessa aos policiais.
Ronnie Lessa contou, em delação premiada, que Chiquinho e Domingos Brazão são os mandantes da morte de Marielle Franco. Ainda de acordo com o ex-policial, os irmãos Brazão teriam oferecido para ele e para Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, um loteamento clandestino na zona oeste do Rio, que valeria milhões de reais no futuro.
“Era muito dinheiro envolvido. Na época ele falou em R$ 100 milhões e, realmente, as contas batem. [O valor de] R$ 100 milhões [refere-se a]o lucro dos dois loteamentos. São 500 lotes de cada lado”, enfatizou Lessa.
“Ninguém recebe uma proposta de US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa assim, impactante”, complementou.
Depoimentos
O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a ouvir, nesta segunda-feira (21/10), cinco réus acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Os depoimentos devem ocorrem até sexta-feira (25/10). O caso é conduzido pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, no Supremo.
Até agora foram ouvidos o deputado federal João Francisco Inácio Brazão, conhecido como Chiquinho Brazão. O irmão dele Domingos Brazão começou a ser interrogado nesta terça.
Ainda serão ouvidos o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior; e o policial militar Ronald Paulo de Alves Pereira. Eles são réus por homicídio qualificado no caso de Marielle e Anderson e por tentativa de homicídio no caso de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro no momento do ataque.
Além disso, Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, responde por organização criminosa e também participará da oitiva. Todos se tornaram réus por decisão da Primeira Turma do STF, sob a suspeita de planejarem o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.