Dólar e juros altos pressionam governo Lula na reta final do ano
O pacote de contenção de gastos apresentado pelo governo foi considerado insuficiente e gerou incertezas em torno da política fiscal
atualizado
Compartilhar notícia
A reta final do segundo ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é marcada pela disparada do dólar e pelo aumento da taxa básica de juros, a Selic. Nas últimas semanas, a moeda americana tem apresentado sucessivas altas e chegou a bater R$ 6,20 na tarde dessa terça-feira (17/12).
A escalada acontece mesmo com os esforços do Banco Central (BC), que tem promovido leilões com o objetivo de reduzir a cotação. No entanto, as incertezas do mercado sobre a política fiscal do governo impulsionam a alta. O pacote de contenção de gastos apresentado em novembro pela equipe econômica de Lula foi considerado insuficiente.
A expectativa do governo é economizar R$ 327 bilhões no período entre 2025 e 2030, sendo R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Mas a medida, além de ser vista como insatisfatória, esbarra na demora do Congresso Nacional e corre risco de ser desidratada. A Câmara dos Deputados iniciou a votação do pacote nessa terça, com estimativa de conclusão nesta quarta (18/12). As propostas ainda precisam passar pelo Senado antes de seguirem para sanção do presidente.
Na segunda-feira (16/12), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com Lula para tratar da pauta econômica do governo. Segundo o titular da pasta, o presidente pediu esforço para que as medidas anunciadas não sejam desidratadas.
“O apelo que ele está fazendo é para que as medidas fiscais não sejam desidratadas. Nós temos aí um conjunto de medidas que garantem a robustez do arcabouço fiscal. Estamos muito convencidos de que vamos continuar cumprindo as metas fiscais nos próximos anos”, disse o ministro a jornalistas.
Incertezas
Para analistas, a alta contínua do dólar segue refletindo o aumento das incertezas fiscais e a desconfiança na condução da política monetária no Brasil. Também há expectativa sobre a nova diretoria do BC, que tomará posse em janeiro de 2025, e pairam incertezas sobre o compromisso com o controle inflacionário.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, afirma que os investidores olham “com total atenção” os desdobramentos do pacote de corte de gastos antes do recesso parlamentar, que começa na segunda-feira (23/12), e seguem desconfiados quanto ao nível de desidratação da proposta, bem como sua efetiva aprovação, pontos esses que terão impacto direto em relação à percepção do risco fiscal.
Ele explica que, no cenário externo, o dólar segue fortalecido pela atratividade dos juros americanos. “Sem sinais claros de ajustes robustos, acredito que o real deve continuar pressionado”, afirma.
Também há análises que apontam que não há mais um teto para o câmbio, que deverá seguir aumentando. “Apesar das taxas de juros em patamares historicamente elevados, a incerteza continua dominando o cenário doméstico. Com investidores buscando ativos mais seguros, a pressão sobre o câmbio se intensifica, e o Ibovespa recua para 124 mil pontos, em um movimento que reforça a volatilidade do mercado brasileiro”, explica Felipe Vasconcellos, da Equus Capital.
Selic em alta
Outra medida que pressionou o cenário econômico do país foi a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. A expectativa é que nas próximas duas reuniões do órgão haja ajuste da mesma magnitude. Com isso, a Selic pode chegar a 14,25% ao ano em março de 2025.
Em ata divulgada nessa terça, o Copom informou que a decisão de elevar a taxa levou em consideração a reação dos agentes financeiros ao pacote fiscal do governo. Diante da expectativa de alta na inflação e na taxa de câmbio, o colegiado optou por adotar política monetária “mais contracionista”, ou seja, mais dura. A decisão foi unânime, acatada inclusive por membros da diretoria indicados por Lula.
“Nota-se que tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto as expectativas de inflação se elevaram no período, tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista. A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, diz a ata.