Dois terços dos vacinados contra a Covid ainda não receberam a 2ª dose
Com a doença avançando, necessidade de proteção aumenta. Nesta semana, ministro da Saúde reduziu pela 4ª vez a previsão de doses para março
atualizado
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Enfrentando dificuldades para manter os estoques da vacina contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Ministério da Saúde tem vivenciado o desafio de conseguir mais imunizantes para garantir a segunda dose e ampliar a vacinação no país.
Levantamento do Metrópoles, com base em dados do LocalizaSUS, plataforma do governo federal para prestação de contas referentes à pandemia, revela que somente 32,9% dos vacinados completaram a imunização, ou seja, receberam a primeira dose e o reforço.
Desde o começo da campanha, em janeiro, 11,5 milhões de pessoas foram convocadas para se vacinar. Ao todo, o público-alvo determinado pelo Ministério da Saúde conta com 77,2 milhões de indivíduos.
Já receberam a primeira dose 8,2 milhões de pessoas. O reforço foi aplicado em 2,7 milhões. Isso significa que 67% dos imunizados ainda precisam completar a imunização. Segundo o LocalizaSUS, o governo federal distribuiu até o momento 20 milhões de doses.
Internamente, técnicos do Ministério da Saúde admitem que o ritmo está aquém do necessário para o Brasil. Com mais de 11,2 milhões de casos e 272 mil mortes, o governo sabe que a vacina que é o caminho para tentar restabelecer com mais rapidez o cotidiano do brasileiro.
Públicos
Entre as pessoas que já receberam a proteção, estão os profissionais da saúde, pessoas com mais de 80 anos, indígenas, idosos de 60 anos ou mais que vivem em asilos e pessoas entre 65 e 79 anos.
Neste momento, a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a gigante farmacêutica chinesa Sinovac, foi aplicada em 72,9% do público alvo.
O imunobiológico desenvolvido pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca e produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi aplicado em 27,1% dos vacinados.
Negacionismo
Especialistas acreditam que as falhas no Brasil foram acentuadas por um planejamento ruim do Ministério da Saúde e pelo que classificam como negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O médico José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), critica, por exemplo, o trâmite das negociações do governo brasileiro com as fabricantes das vacinas.
“O negacionismo é uma marca do governo federal. Isso [a campanha de vacinação] não foi uma prioridade de verdade”, pondera.
Ele completa. “A velocidade é muitíssimo menor que a necessidade. A média de imunização está em 50 mil pessoas por dia. A capacidade do PNI [Programa Nacional de Imunizações] é de mais de 1 milhão de vacinas por dias”, salienta.
A médica infectologista e professora do Centro Universitário de Brasília (Ceub) Joana D’Arc também reconhece problemas na vacinação do Brasil, mas lembra da dificuldade mundial para conseguir doses do imunobiológico.
“Sabemos que é um problema mundial e que outros países têm dificuldades similares, com contratos que não foram efetuados ou cancelados”, acrescenta.
Compras reduzidas
Nesta semana, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, reduziu pela quarta vez a previsão de compra de vacinas para março. Inicialmente. eram esperadas 46 milhões de doses. Depois, 38 milhões, 30 milhões, 28 milhões, e agora são aguardadas 25 milhões de doses.
Pazuello encaminhou aos presidentes da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) o cronograma de vacinação. Para o ministro, mesmo com a redução, o plano original não foi alterado e se mantém “na forma e nos prazos”.