Dois presos morrem em confronto entre facções no presídio de Alcaçuz
A luta pelo domínio da penitenciária estadual, na Grande Natal (RN), superou 120 horas de duração
atualizado
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A luta pelo domínio da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal, superou nesta quinta-feira (19/1) 120 horas. A batalha campal travada por facções rivais resultou em mortes de dois detentos e tentativa de assassinato do diretor da cadeia. À noite, a Tropa de Choque entrou na prisão para tentar criar uma “parede” que separasse os internos ligados ao Sindicato do Crime (SDC) dos filiados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ao longo do dia, o ponto em disputa era o pavilhão 3 da unidade, antes ocupado por detentos considerados neutros e também por aqueles ligados ao SDC. Perto dali, integrantes do PCC, que ganharam força desde o massacre de sábado, quando mataram 26, queriam avançar ainda mais no território e conquistar mais um pavilhão — além do 5, o 4 já havia passado para a organização de origem paulista. Essa disputa, travada com armas artesanais, entre lanças e escudos, e com os pés na areia, representou o confronto mais intenso entre as partes na cadeia desde o início da semana.
Transferência
A transferência foi apontada como um dos fatores que desencadearam a nova briga. Isso porque as duas centenas de presidiários retirados da unidade eram ligados ao Sindicato, o que enfraqueceu a resistência contra o PCC, que optou por avançar. Do alto dos muros, o barulho dos disparos de armamento não letal efetuados por PMs e agentes penitenciários ecoava na região, além das explosões de bombas de efeito moral. A corporação queria evitar à bala a aproximação dos grupos criminosos.
No meio da manhã, a tensão aumentou e os ataques se sucederam com pedras, paus, lanças e até com disparos de arma de fogo. No momento de maior conflagração, o diretor da unidade, Ivo Freire, subiu em uma das guaritas e virou alvo dos presos. Um tiro de arma de fogo disparado em sua direção com intenção de matá-lo atingiu a parede da guarita, esfarelando o cimento atrás dele. No presídio, o cenário visto desde o domingo passado continuava: bandeiras hasteadas e falta de controle sobre a circulação dos presos. Vários detentos feridos foram retirados por colegas.
Era possível para pedestres ver o confronto do alto de um morro vizinho ao presídio. Foi para lá que se deslocaram dezenas de familiares de presos, sob sol forte e temperatura acima dos 30ºC. A cozinheira Luciana Cirilo, de 41 anos, se desesperava com a condição do filho de 22, preso há dois anos por tráfico de drogas. “Quero meu filho vivo. Ele já está pagando pelo crime que cometeu. Não é justo pagar com a vida.”
Intervenção
À tarde, o clima de relativa tranquilidade, em comparação à manhã, só foi rompido por um incêndio no pavilhão 3 que espalhou uma fumaça negra pela unidade. Pouco depois, às 17h, agentes do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Grupo de Operações Especiais (GOE), dos agentes penitenciários, entraram na unidade com objetivo de cessar a livre circulação e a ameaça de confronto entre os presos.
Às 20h, a maior parte do efetivo já havia deixado o local, substituído por atendimento médico. Oito ambulâncias passaram pelo local no intervalo de uma hora para socorrer presos feridos no confronto da manhã. Socorristas aguardavam no hall de entrada, pois não havia condição de segurança para que os profissionais fossem até mais próximo da área das celas. Um número não revelado de detentos foi levado para o pronto-socorro do Hospital Walfredo Gurgel, no bairro de Tirol.