Dois militares tinham acesso às joias guardadas por Bolsonaro em fazenda de Piquet
Um coronel e um tenente, escalados por Bolsonaro, tinham acesso exclusivo ao acervo armazenado em fazenda do ex-piloto Nelson Piquet
atualizado
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Dois militares tinham acesso exclusivo ao acervo pessoal de Jair Bolsonaro (PL), armazenado na fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. O coronel da reserva do Exército Marcelo Costa Câmara e o tenente Osmar Crivalatti tiveram a função, inclusive, de remover dois dos três kits de joias recebidos por Bolsonaro em viagens à Arábia Saudita, desde 2019, a fim de cumprir decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
As informações sobre o acesso às joias sauditas foram divulgadas pelo colunista do UOL Aguirre Talento. O jornal teve acesso ao depoimento dos militares à Polícia Federal nas investigações sobre irregularidades na entrada dos presentes no país, além de apurar se houve interferência de Bolsonaro para incorporar itens milionários ao patrimônio pessoal.
No depoimento, os militares ressaltaram que somente eles tinham acesso ao acervo armazenado em um espaço de aproximadamente 200 m³. Explicaram que os itens contendo uma caixa com um relógio Rolex, uma caneta Chopard, abotoaduras, anel e uma espécie de rosário árabe estavam em espaço separado dos outros 9 mil itens que estão no local.
Os militares foram avisados pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) — responsável por identificar itens recebidos na Presidência da República e informar, por exemplo, se são objetos de caráter personalíssimo — que esses dois estojos estavam separados no galpão de Piquet por serem de interesse do ex-presidente.
Assim, os dois militares sabiam o que buscar quando foram até a fazenda para recolher as joias e devolver ao Poder Público, conforme determinou o TCU.
Fazenda de Piquet
Os presentes que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu ao longo do mandato e que quis manter como patrimônio pessoal foram guardados em uma fazenda de Nelson Piquet. Entre os 9 mil itens lá armazenados estão presentes recebidos por Bolsonaro.
Até março, quando a defesa de Bolsonaro entregou, em Brasília, as joias e armas à Caixa Econômica Federal e à Polícia Federal, os materiais ainda estavam na fazenda.
A fazenda do tri-campeão mundial de Formula 1 Nelson Piquet fica em Brasília, no Lago Sul, bairro nobre da capital. Segundo afirmou o ex-ministro e advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, em coletiva no dia do depoimento de Bolsonaro à PF, assim que outro local arejado e com tamanho adequado for encontrado, todos os materiais serão removidos de lá.
Terceiro kit
Um terceiro kit de joias, apreendido pela Receita Federal, não foi para a fazenda de Nelson Piquet.
Essas joias, no valor de R$ 16,5 milhões, chegaram ao Brasil, em outubro de 2021, com uma comitiva do Ministério de Minas e Energia. Ao chegar ao país, com o pacote, a Receita Federal apreendeu o conjunto que estava com o ajudante de ordens do ex-ministro Bento Albuquerque, o militar Marcos André dos Santos Soeiro.
Depois da apreensão, o governo Bolsonaro teria tentado reaver o pacote de joias pelo menos quatro vezes, por meio dos ministérios da Economia, de Minas e Energia e de Relações Exteriores.
Em uma quarta movimentação para recuperar os objetos, realizada a três dias de Bolsonaro deixar o governo, um funcionário público utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar a Guarulhos, em São Paulo.