Doações respondem por 43% das receitas de campanhas municipais
Até 14/10, o TSE contabilizava R$ 504 milhões arrecadados, dos quais R$ 114,5 milhões de pessoas físicas e R$ 98,9 milhões de autodoações
atualizado
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Com o fim de doações de pessoas jurídicas para campanhas políticas, candidatos passaram a buscar as pessoas físicas como uma fonte de receitas. O sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já registra R$ 114,5 milhões de doações desse tipo. O valor é superior ao de autodoações, que até o momento é de R$ 98,9 milhões.
Os números estão de forma bruta no repositório de dados do TSE, que é atualizado diariamente. Por isso, os números descritos aqui podem conter defasagens em relação aos de campanhas específicas. Eles foram analisados pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles. As informações levam em conta apenas candidaturas que receberam algum tipo de doação privada.
A principal fonte de recursos para campanhas eleitorais é o fundo eleitoral, que repassará mais de R$ 2 bilhões para candidaturas neste ano. Até o momento, o TSE registra quase R$ 300 milhões dessa fonte. O segundo lugar é das doações de pessoas físicas. O gráfico a seguir mostra quanto de cada fonte já foi declarado à justiça eleitoral.
Em números absolutos, são os candidatos do MDB que mais receberam doações, com R$ 23,7 milhões. A sigla é a que mais tem candidatos, sustenta a assessoria de imprensa do partido. Na análise de arrecadação média por candidato, quem se destaca é o Novo, com R$ 127,2 mil em média para candidatos a prefeito e R$ 12,8 mil para vereador
Vereadora pelo Novo em São Paulo, Janaína Lima tenta um segundo mandato no legislativo da cidade. Ela é a candidata a vereadora do partido que mais arrecadou recursos por doação. Até agora, já foram R$ 301 mil em recursos declarados ao TSE.
“Eu tive um mandato com participação cidadã bem ativa”, explica. Ela lista três iniciativas que a teriam aproximado de pessoas que acabaram doando para sua campanha. Um conselho de especialistas consultado sob demanda a depender do projeto analisado, o fórum de empreendedores de São Paulo e uma rede de voluntários chamada Embaixadores da Mudança.
“Se não foram pessoas [que participaram de alguma dessas iniciativas], foram indicadas por elas. Não quero somente o recurso do doador, quero o engajamento dele, que ele faça parte da estrutura de participação”, ponderou.
O trabalho também começa muito antes do período eleitoral para quem não tem um mandato eletivo. Samuel Emílio (PSB), candidato a vereador em São Paulo, é outro que está conseguindo obter recursos a partir de doações de pessoas físicas. De acordo com o TSE, são R$ 85 mil arrecadados até o momento.
“Alguns meses atrás eu montei uma planilha com mais de 100 possíveis doadores. São pessoas que tinha conhecido ou que sabia que alguém da minha rede poderia me apresentar. A gente começou a criar maneiras de acessar essas pessoas para conseguir doações delas”, explicou. “Não adianta agora, faltando 30 dias, tentar captar recurso do zero. É muito difícil. Precisa construir relacionamento.”
Os dois casos se baseiam em pulverizar a base de doadores para conseguir mais recursos. Enquanto Lima tem 28 doadores listados no TSE, Emílio tem cinco além do financiamento coletivo. Essa não é, entretanto, a realidade de todas as candidaturas. Das 426 campanhas com mais de R$ 50 mil em recursos privados recebidos, apenas 248 tem mais de quatro doadores.
O gráfico a seguir mostra a relação entre o volume arrecadado e a quantidade de doadores dessas campanhas. Ao passar o mouse por cima de cada bola, é possível saber qual o partido do candidato, quanto ele recebeu e quantos doadores deram dinheiro para ele.
Financiamento coletivo
Uma alternativa às grandes doações para os candidatos conseguirem arrecadar dinheiro é o financiamento coletivo. São 24 empresas cadastradas no TSE que podem realizar o serviço nas eleições de 2020. Apesar de ter um baixo volume em comparação às outras fontes de recurso, essa modalidade representa pelo menos um quinto da receita de 565 campanhas.
O chefe de operações do Quero Apoiar – uma das empresas que realiza o serviço – , Bernardo Guido, explica que doar para campanha política “ainda não está na cultura do brasileiro”, mas que com o “movimento recente das pessoas se interessarem por política, cada vez vai ter mais espaço”.
A plataforma já repassou aproximadamente R$ 1,7 milhão em cerca de 11 mil doações para quase 1,8 mil candidatos. ” As figuras mais tradicionais não usam ainda essa forma de financiamento”, apontou.
“O financiamento coletivo é ótimo, mas traz muito trabalho na prestação de contas porque tem série de requisitos legais que tem de ser cumpridos. Para o político mais tradicional, que tem acesso ao fundo [eleitoral], não vai compensar essa dor de cabeça para valor que não vai ser comparativamente tão alto”, continuou Guido.
De acordo com ele, há partidos, como o Novo e PSol, que atraem muita mobilização. Já candidaturas identificadas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “trazem muito volume, mas menos doação”. ” O financiamento direto é uma forma direta de se relacionar com campanha e também do candidato de demonstrar capacidade de engajamento”, concluiu.