Do Val diz que versões contraditórias sobre reunião com Bolsonaro foram propositais
Ele acusou o ex-presidente de um suposto plano golpista, mas posteriormente deu versões contraditórias sobre o episódio
atualizado
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O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou nesta terça-feira (7/2) que a denúncia feita por ele sobre a tentativa de grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi “estratégica”. Do Val ainda confirmou que esteve “manipulando” a imprensa com informações contraditórias de maneira intencional.
Na última semana, o senador disse ter participado de uma reunião onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um plano de golpe de Estado para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas redes sociais, Do Val afirmou que recusou a proposta e denunciou o episódio. O senador não especificou quando ocorreu a coação, nem a quem ele delatou a tentativa golpista.
A declaração do parlamentar sobre as várias versões dadas ao noticiário foi registrada pelo youtuber Ronny Teles, que compartilhou o vídeo nas redes sociais. As imagens mostram o senador sendo questionado sobre a denúncia envolvendo o ex-presidente.
Em resposta, Do Val afirma que “é tudo estratégico” e é rebatido pelo ativista que diz que a “Justiça não está tratando muito bem essa estratégia”. Em seguida, o senador afirma que “o resultado está dando certo”.
“Com o tempo vocês vão saber qual é. Vocês podem ter certeza que com o tempo vocês vão saber qual é. O objetivo foi atingido, e é claro que eu fiz essa manipulação de notícias desencontradas, mas um dia vocês podem entender isso daí. Com o tempo vocês vão ver o que vai acontecer e ficarão muito felizes”, disse o senador.
Veja:
As contradições de Marcos do Val
Em entrevista à revista Veja, concedida antes da posse da nova legislatura do Senado e Câmara dos Deputados, o senador afirmou ter ouvido diretamente do então presidente detalhes do plano para gravar Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Numa segunda versão, o parlamentar afirma que Bolsonaro teria ficado calado e que coube a Daniel Silveira repassar os detalhes o esquema.
Como mostrou um áudio publicado pela revista, Marcos do Val é perguntado se o próprio Bolsonaro pediu para que a gravação ilegal fosse feita.
“Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, explicou na gravação.
Em live transmitida na madrugada de quinta, Marcos do Val revelou o caso. Na ocasião, ele disse ter ocorrido uma “tentativa de Bolsonaro” de “coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”.
Veja a cronologia da contradição:
- Entrevista à revista Veja (antes da posse de deputados e senadores eleitos, em 1°/2): Marcos do Val afirma que Bolsonaro teria participação direta no plano para gravar Alexandre de Moraes;
- Live realizada na madrugada de quinta-feira (2/2), após a posse de parlamentares: “Eu ficava p*to quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem, que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na [revista] Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”;
- Entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (2/2): Marcos do Val entra em contradição e diz que o ex-presidente teria ficado calado durante toda a reunião. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes;
- Declaração após depoimento à PF, na noite de quinta-feira (2/2): Do Val mantém a versão anterior de que Bolsonaro ficou calado durante encontro em que Silveira teria detalhado plano para gravar Moraes.