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Distribuição de remédios do “kit intubação” subiu até 2.302% em março

Analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares usados para intubação de pacientes com Covid-19 chegaram a “nível crítico” em parte do país

atualizado

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paciente de covid na UTI do Hospital Santa Bárbara em goiania
1 de 1 paciente de covid na UTI do Hospital Santa Bárbara em goiania - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A distribuição pelo Ministério da Saúde de alguns medicamentos do chamado kit intubação aos estados registrou alta de até 2.302% nas primeiras semanas de março, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus no país.

E não tem sido suficiente. Hospitais, associações e gestores alertam sobre a potencial falta desses analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares, usados para intubar pacientes diagnosticados com a Covid-19 em leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs).

Segundo dados do Ministério da Saúde analisados pelo Metrópoles, a quantidade de propofol distribuído pela pasta foi de 679,5 mil em março deste ano, o equivalente a uma alta de 1.553% em relação a fevereiro (41,1 mil).

O medicamento, que faz parte da classe dos anestésicos, é indicado para deixar o paciente inconsciente ou sedado.

Já o atracúrio, indicado para facilitar a intubação e relaxar a musculatura, teve crescimento de 2.302% em março, quando foram distribuídas 399,3 mil unidades do fármaco, ante 16,6 mil em fevereiro.

“Usamos as duas drogas associadas. Uma vai fazer com que o paciente perca a consciência, que é o propofol, e a outra faz o paciente relaxar, que é o atracúrio”, explica a médica intensivista Adele Vasconcelos, do Hospital Santa Marta, de Brasília.

A distribuição de medicamentos registrada nas primeiras semanas de março é menor, se comparada à ocorrida nos meses de julho e agosto, após o auge da chamada “primeira onda” da pandemia de Covid-19.

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A fila de espera por leitos de UTI da Covid-19 já foi significativa em Goiás
Estado de Goiás viveu o colapso do sistema de saúde em março e abril, nas redes pública e privada
Internação de paciente com Covid em Goiânia
Pronto-socorro do hospital Santa Bárbara, em Goiânia, onde a frequência de pacientes com Covid-19 aumentou nas últimas semanas
Paciente interno em UTI Covid em Goiás
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Paciente internado em Goiânia

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Paciente interno em UTI Covid em Goiás

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O pneumologista Carlos Carvalho, diretor da UTI Respiratória do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), explica que a distribuição desses remédios está associada ao aumento de intubações.

“Há um consumo muito grande dessa medicação. Entre 80% e 90% dos pacientes em UTI Covid são intubados. Então, se o número de internações dobrou em um período, o número de intubações também vai dobrar nessa mesma faixa”, assinala o especialista.

Em ofício encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao Ministério da Saúde, 13 governadores cobraram do governo federal providências para a aquisição imediata dos medicamentos do kit intubação.

De acordo com levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) feito entre 7 e 13 de março, 11 medicamentos estão em falta ou em baixa cobertura (estoque de 0 a 20 dias) em mais de 10 estados. Já em relação a bloqueadores musculares, 18 unidades federativas apresentam dificuldades.

O atracúrio, por exemplo, está escasso ou em baixa cobertura em 21 estados, e o propofol, em 19.

Após cobranças de governadores e prefeitos, o Ministério da Saúde requisitou das indústrias farmacêuticas, somente na última quarta-feira (17/3), 665,5 mil medicamentos de intubação orotraqueal.

A escassez de alguns dos medicamentos do kit intubação também pode ser solucionada com a aplicação de outros remédios que têm finalidade semelhante. A situação se complica porque vários deles estão em falta.

A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte, por exemplo, informou usar a noraepinefrina para substituir a dopamina, que está em processo de aquisição pela pasta.

Em São Leopoldo (RS), os médicos e enfermeiros precisaram “regredir” por causa da escassez desses medicamentos.

Com o desabastecimento “intermitente” do kit intubação, o médico intensivista Rodrigo Guimarães, do Hospital Centenário, relata ter recorrido à morfina durante o tratamento de pacientes com Covid-19 na cidade.

“Estamos tendo que utilizar morfina, um analgésico que não se usa mais hoje em dia. Embora não seja o ideal, é o que a gente está fazendo. Há um déficit muito grande nos sedativos, a gente procura usar outras drogas”, frisa o profissional.

“Isso ainda não aconteceu, mas infelizmente alguém pode morrer por falta de sedativo. Quando se tem um tubo de 30 centímetros na garganta, o paciente precisa ficar confortável para o ventilador assumir a respiração”, enfatiza Guimarães.

Na quinta-feira (18/3), a Prefeitura de São Leopoldo requisitou a farmácias e clínicas veterinárias uma série de medicamentos usados para sedação de pacientes.

Segundo apurou o Metrópoles na Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, o Ministério da Saúde entregou, nesta semana, quantidade “muito aquém da necessária” para o estado. Lá, os estoques estão “críticos”, e os hospitais do estado relatam dificuldades na aquisição.

“A quantidade das duas apresentações de atracúrio enviada foi suficiente apenas para cobertura de três dias e com possibilidade de distribuição somente para os hospitais com leitos de UTI que estavam com estoque zero”, ressalta a secretaria.

O Ministério Público Federal (MPF) enviou, na sexta-feira (19/3), ofício ao Ministério da Saúde requisitando informações urgentes sobre a disponibilidade de remédios do kit intubação e as providências adotadas pela pasta para evitar a falta das substâncias em hospitais de todo o país.

O documento, encaminhado ao ministro Eduardo Pazuello, pede esclarecimentos a respeito de medidas recentes para evitar desabastecimento de 22 medicamentos, além de querer saber se houve ações para requisição administrativa desses produtos, compras internacionais ou outras formas de aquisição dos remédios.

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