Disputa no Senado engaja bolsonaristas, mas não anima a esquerda
Militância de Bolsonaro trata eleição de Rogério Marinho no Senado como espécie de batalha final. Esquerda dá apoio tímido a Pacheco
atualizado
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A militância ligada ao grupo político de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas últimas eleições, está tratando a disputa pela presidência do Senado quase como uma espécie de “terceiro turno”, com a esperança de se fortalecer como oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já os apoiadores do presidente petista estão dando muito menos bola para a eleição legislativa, ainda que o candidato à reeleição no Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tenha o apoio explícito do governo federal e sua manutenção no cargo seja determinante para a governabilidade do país.
A expectativa em Brasília é que Pacheco seja reeleito para a presidência do Senado nesta quarta-feira (1º/2), mas a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) não é considerada “café com leite” (que é o que acontece com Eduardo Girão, do Podemos). O mundo político está de olho no placar, que deverá ilustrar o tamanho do bolsonarismo na legislatura que assume.
“A perda de poder, fruto da derrota eleitoral, é uma situação complicada. O novo governo é radicalmente diferente do anterior e tudo mudou. Com isso, essa eleição do Senado se tornou algo como última boia para os ocupantes de um barco que afundou”, compara o cientista político André Cesar.
“Então, apesar de ser altamente improvável que Marinho possa ganhar, cada voto a mais de 30 que ele conseguir será importante para mostrar musculatura, mostrar que esse grupo político está vivo”, complementa ele.
Militantes
A novidade nessa disputa com tão poucos eleitores (os 81 senadores) é um engajamento forte da militância. Após um período de desorganização após a derrota e – principalmente – com Bolsonaro se retirando do debate político cotidiano, os apoiadores do ex-presidente encontraram na disputa pelo Senado a ocasião de se unir em torno de uma pauta.
Há semanas, os influenciadores digitais bolsonaristas estão engajados na promoção da candidatura de Marinho (ex-ministro de Bolsonaro), num movimento que inclui a pressão intensa em cima de senadores indecisos ou apoiadores de Pacheco e a criação de sites com placares.
Veja manifestações de militantes (que não são parlamentares) nas redes sociais e grupos de WhatsApp acompanhados pela reportagem:
Atos presenciais contra Pacheco
Na última semana, a mobilização de bolsonaristas contra a reeleição de Pacheco ganhou o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou relevância na política brasileira ao promover grandes atos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
A entidade criou um site destinado a pressionar os senadores a votar em Marinho e pagou para promover postagens nas redes associando Pacheco a Lula. Além disso, promove nesta quarta atos presenciais contra Pacheco em Brasília e nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Mato Grosso.
Campanha por Pacheco é silenciosa
Enquanto a campanha por Rogério Marinho é baseada no barulho das redes sociais, o candidato favorito articula principalmente nos bastidores. Apesar do ruído causado pela resistência de um grupo de senadores a reforçar o poder de Davi Alcolumbre (União-AP) ao votar em Pacheco, os aliados do mineiro chegam confiantes ao dia da eleição graças a negociações prévias com a maioria dos senadores.
O apoio explícito de Bolsonaro a Marinho veio com uma ligação do ex-presidente para falar com aliados dele em jantar promovido pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na última terça (30/1). Já o apoio explícito de Lula a Pacheco (e à reeleição de Arthur Lira na Câmara) se dá com a liberação de todos os senadores e deputados que ocupam cargos no Executivo para voltarem por um dia ao Legislativo e votar nos favoritos do Planalto.
Fora do mundo político, porém, a candidatura de Pacheco não goza de mobilização parecida com a que está sendo feita em prol de Marinho. A maioria dos influenciadores digitais identificados com a esquerda sequer tocou no assunto até o início desta semana, quando perfis como o do youtuber Felipe Neto e do ator e humorista Gregorio Duvivier iniciaram uma campanha que é mais contra Marinho do que em favor de Pacheco.
Veja exemplos da (pouca) mobilização da esquerda nas redes: