Discutir política no trabalho é um erro? Saiba quais cuidados tomar
Brasil tem visto casos de discussões políticas se transformarem em tragédias. Saiba como abordar o tema no ambiente profissional
atualizado
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Em tempos de polarização política, o clima tenso por discordâncias sobre o tema se tornou comum. Mas o problema tem piorado: casos recentes de discussões e divergências políticas que resultaram em fins trágicos, com violência e morte, provam que o cuidado deve ser redobrado em ano de eleições. O que fazer, então, quando o assunto chega ao ambiente profissional?
É inevitável que, em algum momento, um colega de trabalho comente sobre a temática. Especialistas ressaltam que se envolver em conversa sobre política não é um erro — desde que seja feita de forma equilibrada, objetiva e respeitosa.
“O ambiente de trabalho é, talvez, onde mais vivemos a política. Abordar esse tema no trabalho não é um erro, mas é preciso uma boa leitura do quanto o espaço está seguro para isso. Falo de segurança psicológica e física também”, indica Ana Tomazelli, psicanalista e especialista em gestão de pessoas.
Tomazelli defende que discussões têm tudo para ser saudáveis em qualquer ambiente, desde que o objetivo da conversa esteja claro e se preste atenção em alguns pontos fundamentais.
Como discutir de forma saudável?
É possível, sim, ter uma discussão agradável sobre política. A psicanalista lista pontos que ajudam a conduzir a conversa: “Primeiro, é importante ouvir com o vazio de si e tentar compreender o que você não sabe, no sentido de ter uma curiosidade genuína para descobrir como aquela outra pessoa pensa e qual é a história que a leva até ali.”
A partir da escuta, observe o que o próprio corpo sente e os pensamentos que vêm à mente. “Por que será que algo te provoca uma reação como irritação, impaciência, êxtase ou contentamento, por exemplo?”, levanta Tomazelli.
Falar com calma e propriedade talvez seja uma das principais chaves, aponta a especialista. “Perguntas são mais bem-vindas do que respostas. E posicionamentos podem ser expostos sem atacar o que é contrário.”
Carolina Martins, especialista em recursos humanos, reforça a importância de respeitar opiniões diferentes e saber a hora de encerrar a conversa. “Ao conversar sobre o tema, é importante focar em ideias e ideais e não em partidos/candidatos”, complementa.
Não ceder às provocações
Antes de iniciar um debate sobre política, é preciso saber quais são os próprios limites em relação à saúde mental. Carolina Martins aconselha exercitar o autocontrole para que as discussões não afetem as relações profissionais e o clima organizacional. “Não ceder às provocações, apesar de desafiador, é a melhor atitude a ser tomada.”
E quando a provocação vem de um chefe? Nesse caso, Tomazelli sugere buscar dispositivos internos de reclamação e denúncia. “Obviamente, figuras hierárquicas superiores exercem o poder de definir o seu futuro. Se você não sente segurança em se posicionar, encontre quem tem o mesmo tamanho e força que a pessoa para se aliar e pedir ajuda”, aponta.
Violência política
Em 8 de setembro, uma briga por motivação política entre funcionários da mesma empresa em Confresa (MT) chocou pelas proporções que tomou. O bolsonarista Rafael Silva de Oliveira matou o próprio colega de trabalho com 17 facadas após divergências. A vítima era defensora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e quase foi decapitada com golpes de machado.
Outro episódio terminou em morte em Foz do Iguaçu (PR), em 9 de julho. O guarda municipal Marcelo Arruda comemorava 50 anos de vida, em uma festa com a temática do PT, quando o policial penal federal Jorge Guaranho invadiu o espaço e o assassinou a tiros, após gritar “Aqui é Bolsonaro!”.
Pesquisa do Instituto Datafolha dessa quinta (16/9) mostra que cerca de 3,2% da população afirmam que foram ameaçados, nos últimos 30 dias, em razão da escolha partidária ou política. Além disso, dois em cada três brasileiros (67,5%) têm medo de agressão física pelo mesmo motivo.
Abordar temas políticos é sempre delicado, e, quanto mais as eleições se aproximam, mais acalorados ficam os ânimos. “Preferencias políticas extremistas podem gerar conflitos e colocar o trabalho e o próprio profissional em risco, por isso, o melhor a se fazer é evitar expor opiniões partidárias no ambiente de trabalho”, reitera Carolina Martins.