Diretor-geral da PF vira alvo de representação após nota contra Moro
Nota da corporação adotou tom pouco usual e disse que pré-candidato “mente, desconhece a PF e negou conhecê-la quando teve a chance”
atualizado
Compartilhar notícia
Paulo Maiurino, diretor-geral da Polícia Federal (PF), virou alvo de representação depois de nota da corporação que criticou diretamente o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência da República, chamando-o de mentiroso. O delegado Alexandre Saraiva, antigo superintendente da PF no Amazonas e autor da ação, argumenta que as atitudes de Maiurino tiveram “cunho eleitoral, conduta gravíssima”.
“A publicação oficial da PF foi muito além do simples desmentido”, diz Saraiva. De acordo com o delegado, que foi afastado após desentendimentos com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o texto só foi publicado com a anuência do diretor da PF, mesmo que a nota não tenha sua assinatura.
Moro minimizou o teor da nota, nesta quarta-feira (16/2), ao dizer que não é um posicionamento da PF como um todo, mas apenas da atual direção. “Essa nota não é da PF. É da atual direção da PF. A direção atual não representa o que pensam as pessoas que compõem a instituição”, frisou.
O ex-juiz declarou que a corporação não prende “grandes tubarões”.
“Não é só uma questão de quantidade, mas de quem está sendo preso. Prendeu o bagrinho da corrupção? Isso sempre teve. Prendeu lá um funcionário público que cobrou propina para conceder uma licença, um guarda que deixa de aplicar uma multa. Isso tem. Agora grande corrupção, os grandes tubarões… Não está tendo prisão nenhuma. A gente não ouve falar nada sobre isso”, pontuou.
Relembre o caso
A Polícia Federal, por meio de nota enviada à imprensa, rebateu o que classificou como “ataques descabidos” de Moro à corporação, feitos durante sua participação em entrevista concedida à Jovem Pan.
A PF inicia a nota afirmando que “Moro mente quando diz que ‘hoje não tem ninguém no Brasil sendo investigado e preso por grande corrupção’”. “A Polícia Federal efetuou mais de mil prisões, apenas por crimes de corrupção, nos últimos três anos”, reagiu.
A corporação também defendeu que o presidenciável “fez ilações” ao associar um eventual enfraquecimento no combate à corrupção com o afastamento de superintendentes”, que, de acordo com Moro, “apenas estavam fazendo o trabalho deles”.
“O ex-ministro não aponta qual fato ou crime tenha conhecimento e que a PF estaria se omitindo a investigar. Tampouco qual inquérito policial em andamento tenha sido alvo de ingerência política ou da administração. Vale ressaltar que a Polícia Federal vai muito além da repressão aos crimes de corrupção. Em 2021, bateu recorde de operações. No total, foram quase dez mil ações, aumento de 34% em relação ao ano anterior”, prosseguiu a PF.
“Moro desconhece a Polícia Federal e negou conhecê-la quando teve a chance. Enquanto ministro da Justiça não participou dos principais debates que envolviam assuntos de interesse da PF e de seus servidores”, dispara a corporação.
A PF encerra a manifestação afirmando que repudia a afirmação feita pelo pré-candidato Moro de que a corporação não tem autonomia e que “mantém-se firme no combate ao crime organizado”. “[A PF] não deve ser usada como trampolim para projetos eleitorais”, completa.