Diretor da Anvisa: AGU atua com obscurantismo sobre vacinação infantil
Alex Machado Campos, diretor da agência, considerou a ação da AGU “um obscurantismo institucional” e um “golpe à vacinação infantil”
atualizado
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Membros da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criticaram duramente a petição enviada pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (18/1).
No documento, a AGU alega que aproximadamente 20 mil crianças foram vacinadas contra Covid-19 de maneira irregular nos estados e municípios brasileiros. A pasta ainda pede a suspensão de campanhas de imunização que estejam em desacordo com as diretrizes do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra o coronavírus.
Após receber o documento da AGU, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinou que estados e Distrito Federal se manifestem sobre as supostas irregularidades. No entanto, o magistrado determinou que as unidades estaduais do Ministério Público “empreendam medidas necessárias” para garantir vacinação adequada ao público infantil.
Nesta quinta-feira (20/1), o quinto diretor da Anvisa, Alex Machado Campos, afirmou que a petição da AGU causou “estranheza”, e que os dados poderiam ser utilizados para ampliar o debate sobre o aperfeiçoamento da vacinação. Na visão do gestor, as informações da AGU foram utilizadas para criar uma “contenda entre estados e municípios”.
“Ao levantar e alegar um conjunto de dados que, até então, não foram aventados no conjunto das políticas que têm sido discutidas no país, a petição surge como uma forma de desafiar o Sistema Único de Saúde (SUS), pondo em dúvida a qualificação de uma estrutura que é respeitada no mundo todo por vários anos”, disse o diretor.
Campos continuou: “Aquelas informações que constam na petição serviriam para um grande impacto nacional de debate e de aperfeiçoamento, e não para criar uma contenda com estados e municípios no início da vacinação das crianças”.
O diretor considerou a petição da AGU “uma espécie de obscurantismo institucional, e de golpe à vacinação das crianças”. “Pôr em dúvida a capacidade dos nossos enfermeiros, dos nossos profissionais de saúde nas salas de vacinar crianças? Começamos a vacinar nossos filhos nesses mesmos postos, com esses mesmos profissionais. Fazemos isso com a maior segurança. Pôr em dúvida isso agora é um golpe, um desrespeito ao SUS”, criticou.
Após a fala de Alex Campos, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, afirmou ter um “sentimento de surpresa diante dos documentos referentes à AGU”. A crítica à União também foi endossada por Rômisson Rodrigues Mota, quarto diretor da agência.
Covid-19: o que se sabe até agora sobre a vacinação de crianças:
Reação
Em reação aos comentários da Diretoria Colegiada da Anvisa, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Bruno Bianco, afirmou que a AGU “não prevarica diante dos seus deveres fundamentais”. Ele também chamou o discurso do diretor Alex Campos de “mentiroso”.
“Passo aqui hoje, por mim e pela AGU, para repor a verdade em relação à providência jurídica tomada pela AGU no caso da vacinação de crianças, e acabar de uma vez por todas com a mentira que está sendo dita por um diretor da Anvisa, essa instituição tão respeitada, e que está sendo usada para promoção pessoal desse sujeito”, disse.
A declaração de Bianco foi publicada nas redes sociais do ministro. Veja:
Aqui mentira não prospera e promoção pessoal não tem espaço! A @AdvocaciaGeral não prevarica diante dos seus deveres funcionais. Sempre defenderei a Lei, a verdade e a saúde! pic.twitter.com/56Jr2sQhup
— Bruno Bianco Leal (@brunobiancoleal) January 20, 2022