“Diretas Já” completa 40 anos. Saiba o que foi o movimento
No dia 25 de abril de 1984 foi rejeitada a emenda Dante de Oliveira, fato que motivou os comícios pelas “Diretas Já”
atualizado
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Em 1983, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pelo deputado federal Dante de Oliveira foi entregue ao Congresso Nacional, com o intuito de retomar a democracia por meio das eleições diretas. A partir da proposição, as lideranças políticas da época iniciaram a organização das “Diretas Já”. Apesar dos esforços, em 25 de abril de 1984 a emenda foi rejeitada.
Porém, o movimento popular, com comícios espalhados por todo o Brasil, já estava consolidado, e o anseio da população pelas eleições diretas não poderia mais ser ignorado. Foi assim que as Diretas Já se transformaram em uma das maiores manifestações populares da história do país.
Os comícios em prol das Diretas Já tiveram início em março de 1983, mas antes disso, em junho, uma frente ampla reuniu os governadores Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, Franco Montoro, de São Paulo, e então presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros líderes políticos que também participaram da construção do movimento.
Engajaram-se na mobilização a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), assim como múltiplos setores da sociedade.
As Diretas Já levaram milhares de pessoas nos cerca de 30 comícios organizados entre os anos de 1983 e 1984 às ruas.
Lideranças
O deputado pelo PMDB à época Roberto Freire relembrou alguns fatos da época. “No dia da manifestação da Candelária, no comício mesmo, foi decidido que os partidos ilegais não poderiam falar no palanque, mas se um deputado eleito assumisse a liderança do partido, poderia. Me ligaram de Brasília, eu peguei o avião e fui discursar em nome do Partido Comunista Brasileiro (PCB)”, relatou. “Brizola achava que, se colocasse dirigentes de partidos ilegais, atrapalharia o movimento. Aquela campanha estava desfraudando todas as bandeiras. As nossas bandeiras também: da foice e do martelo, em alguns momentos criando problema. Bombas, atentados, preocupação com as manifestações das bandeiras vermelhas, mas aquilo tudo não causaria mais retrocesso. Era algo incontrolável. E, ainda bem, sentia-se isso.”
Roberto Freire rememorou os passos do campo democrático, após a derrota na votação da emenda. “Perdemos na votação da Emenda Dante de Oliveira, por 22 votos, mas começamos a nos articular para a eleição indireta à Presidência. E, mesmo com a frustração do momento, de imediato veio o novo entusiasmo de novas manifestações, agora voltadas para a campanha do Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, afinal vitoriosa. Foi um momento realmente marcante, porque ao mesmo tempo mostrou à sociedade a força que nós tínhamos.”
O ex-parlamentar lembrou da promulgação da Constituição Federal e das eleições diretas para presidente como marcos do início da redemocratização no país. “É importante destacar que é o maior período democrático do Brasil e precisa ser valorizado. Claro que a vitória da democracia é muito importante, principalmente em um país que tem um histórico de retrocessos institucionais e democráticos. O que aconteceu em 2023 foi mais uma tentativa de golpe malsucedida, pois a democracia segue prosperando com a marca das Diretas Já”, finalizou Freire.
Eduardo Suplicy (PT-SP), que era deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores no período, relembrou que sua participação mais intensa na política nacional e nos movimentos pró-democracia se iniciou em agosto de 1976. “Conheci o presidente Lula em uma palestra minha e expliquei a ele por que a economia brasileira estava crescendo rapidamente e de forma concentrada”, disse. “No fim, Lula levantou a mão e fez um discurso bastante profundo sobre o tema, que gerou medo nos responsáveis pela faculdade, o que levou ele a sair e me esperar no pátio. Foi, então que, de fato, me engajei na política nacional.”
Suplicy destacou que se tornou “um dos organizadores do primeiro comício das Diretas Já em São Paulo, evento que levou 300 mil pessoas [em janeiro, na Praça da Sé], o que consideramos um grande feito. O Comício da Praça da Sé foi muito animador. O da Candelária [em abril], onde mais de 1 milhão de pessoas compareceram, mostrou que a marca do movimento já estava construída. Eu estive presente e me senti esperançoso pela democracia no Brasil”.
Assim como Freire, Suplicy destaca que, mesmo “após essas enormes participações pelas Diretas Já, infelizmente a emenda Dante de Oliveira, em que votei a favor, perdeu por 22 votos. Mas, mesmo perdendo, as Diretas Já já tinham criado um ambiente em que os votos diretos não poderiam mais ser evitados, era um ambiente que pedia pela democracia, que foi concretizada com os constituintes”.
“Eu acho que é sempre bom recordar esses momentos de defesa democrática, ainda mais depois do que assistimos [acontecer] no país ano passado. Sempre é bom recordar a nossa história e os momentos importantes, como os comícios da Candelária e de Pacaembu, pois isso mostra como os anseios pela democracia no Brasil são muito fortes. Nós resistimos mais uma vez, a democracia venceu”, concluiu.