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“Fora do armário”: em livro, homossexuais católicos narram suas histórias

Disponível gratuitamente em e-book, publicação contém depoimentos de abandonos e reconciliações de gays no universo religioso

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Grupos Católicos LGBTs
1 de 1 Grupos Católicos LGBTs - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Na grande maioria dos casos, o exercício da fé e a convivência no ambiente religioso significam para as pessoas homossexuais um motivo de conflito. Essa tensão não se dá apenas em relação ao casamento, até hoje um “sacramento” só permitido aos casais formados por homem e mulher, mas também no dia a dia, na freqüência em missas e cultos, na convivência em grupos de jovens e nas pastorais. Na contramão de todos essas valores tradicionais da Igreja, grupos católicos LGBTs brasileiros espalhados por todo país se juntaram e publicaram um livro com depoimentos de integrantes desses coletivos nas igrejas.

A publicação intitulada “Testemunhos da Diversidade: histórias de fé, amor e comunhão” (Metanoia Editora) está disponível gratuitamente em e-book e pode ser acessada por meio do link https://linktr.ee/redecatolicoslgbt

A obra é composta por 21 relatos de pessoas ligadas a coletivos leigos que se colocam como “espaços seguros de acolhimento respeitoso” dos gays na Igreja.

Para o menino que foi “coroinha” (criança que auxilia o padre nas celebrações) aos sete anos, o livro foi uma oportunidade de contar seu afastamento e sua reconciliação mais tarde, já como mulher, com o exercício da fé em sua comunidade.

“Fui criada pela minha avó desde recém-nascida. Muito religiosa, ela me levava à missa toda semana. Aos 7 anos fui coroinha, responsável por ajudar nas missas e pregações das celebrações”, relata CJ, 35 anos, mulher trans com orientação sexual não informada, moradora de Sumaré (SP).

“Fiz catequese e primeira Eucaristia algum tempo depois, na adolescência. Quando percebi minha identidade de gênero e descobri minha necessidade de me descobrir como mulher, rezei muito a Deus e a Nossa Senhora Aparecida para que eu tomasse o caminho correto e verdadeiro. Me afastei da comunidade”, complementa.

“Voltei depois de alguns anos, ao conhecer meu pároco. Ele veio fazer uma visita para minha avó, que se encontrava acamada. Naquele momento, senti uma presença muito grande do Espírito Santo. Eu já era uma mulher trans. Mesmo estando tímida e com vergonha, o padre me abraçou e me convidou para ir à missa. E aqui estou até hoje, com muito amor e carinho”, contou a paulista, que coordena um grupo no interior de São Paulo.

Os grupos de católicos LGBT brasileiros são coletivos leigos. Atualmente, 20 grupos formalizados fazem parte da organização. Eles se definem como “espaços para cada um florescer na diversidade” por meio de encontro regulares, de troca, de reflexão e escuta.

Amor incondicional

O abandono da Igreja também está presente em relatos da mãe de uma adolescente lésbica que hoje coordena o Mamis (Mães de Amor Incondicional), que atua no acolhimento de famílias LGBTI. “Seu principal objetivo é mostrar para a sociedade que a diversidade sexual faz parte da natureza humana e, sendo assim, é parte do projeto criador de Deus”, destaca SK, 51 anos, mulher, cisgênero, hétero, moradora de Curitiba (PR).

“Aos poucos fui sendo deixada de lado, não servia mais para catequista. Chegaram a pensar que eu iria monitorar o grupo de adolescentes levando a bandeira gay e transformando a homossexualidade em propaganda”, relatou.

Segundo ela, sua filha foi excluída do grupo de que ela participava. “Fomos jogadas à margem. Tudo o que fazíamos de bom deixou de ter valor. A partir daquele momento, só importava a orientação sexual da minha filha. Isso foi usado para nos condenar e excluir”, contou.

“Nos afastamos da comunidade, mas não cortamos completamente os laços. Naquele momento eu só pensava que estava do lado certo e que, de alguma maneira, eu voltaria e aquele povo entenderia o nosso posicionamento. O que Jesus faria se estivesse diante daquela situação? Em que momento da vida de Jesus de Nazaré ele condenou a homossexualidade?”, questionou.

Publicação recolhida

A formação da rede já tem seis anos e, apesar de não ter o apoio formal da Igreja, conta hoje com a simpatia da Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Embora a entidade nada tenha a ver com a publicação dos relatos, em alguns momentos acatou sugestões de membros da rede em outras publicações da Igreja que acabavam discriminando homossexuais.

Em um caso específico, alertada por integrantes da rede, a CNBB mandou tirar de circulação uma publicação que havia claro conteúdo homofóbico.

Isso ocorreu com um livreto destinado a jovens da campanha da fraternidade deste ano. Alertada por integrantes da rede, a entidade mandou recolher a publicação na qual constava um depoimento polêmico de uma mulher dizendo que era lésbica e que vivia a promiscuidade.

Ela relatava que, após encontrar um convento, se converteu e se libertou da homossexualidade. No depoimento, ela também falava sobre ter se libertado, por meio da religião, das drogas.

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