1 de 1 Indigenista Bruno Araújo Pereira
- Foto: Funai/Arquivo/Divulgação
Como justificativas para seu pedido de licença da Fundação Nacional do Índio (Funai), em dezembro de 2019, o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira relatou um clima de tensão e de fragilidade no órgão, além de ter citado a necessidade de cuidar de sua família. O Metrópoles teve acesso ao memorando por meio do qual o indigenista pleiteou afastamento do órgão.
A licença foi solicitada logo após Bruno Pereira ser exonerado da função de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Assinada pelo então secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Pontel de Souza, a dispensa ocorreu em outubro de 2019.
A decisão ocorreu também na esteira do assassinato do indigenista Maxciel Pereira, em setembro de 2019, e de ataques a uma base da Funai no Vale do Javari.
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Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da Amazônia
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Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultados
Divulgação
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No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca
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Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal
Arquivo pessoal
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Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crime
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Mulheres realizam manifestação após morte de Bruno e Dom na Amazônia
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Bruno e Dom foram interceptados em rio e executados
Material cedido ao Metrópoles
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Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e Bruno
Redes sociais/reprodução
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A tentativa de ocultação, porém, não teria dado certo. Jeferson e Amarildo retornaram no dia seguinte, esquartejaram os corpos e os enterraram em um buraco escavado. A distância entre o local em que os pertences foram escondidos e onde os corpos foram enterrados é de 3,1 km
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Depois de fazer uma reconstituição do caso junto a Amarildo, a força-tarefa anuncia ter encontrado “remanescentes humanos” que, mais tarde, se confirmariam como os corpos de Dom e Bruno
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Em 16 de junho, os corpos de Dom e Bruno chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade
Igo Estrela/Metrópoles
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Em 19 de junho, a polícia informou ter identificado outros cinco suspeitos que teriam atuado na ocultação dos cadáveres. Segundo a PF, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”
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Exame médico-legal indicou que morte de Dom Phillips foi causada por disparo de arma de fogo
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A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”
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Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. Ele dedicou a carreira à proteção dos povos indígenas. Nascido no Recife, tinha 41 anos. Ele deixa esposa e três filhos
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Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposa
No memorando, Bruno Pereira afirma que a solicitação é “motivada pela necessidade deste servidor, sobretudo para poder dar suporte e zelar por sua família”.
Na ocasião, o indigenista era pai de duas crianças, uma de 14 anos – que morava com a mãe, em Manaus (AM) – e outra de 16 meses. Ele esperava uma terceira filha – a segunda criança fruto da relação com Beatriz Matos.
“A iminência do nascimento do seu segundo filho, a idade tenra no filho mais velho (16 meses) e a ausência de outros familiares (avós, avôs, tios, prima e primos) por perto, que possam ajudar o casal nessa missão de cuidar e educar seus filhos na presença de ambos os pais, foram fatores preponderantes para decisão do servidor e de sua companheira”, escreveu o servidor.
Segundo Bruno, o tipo de trabalho executado por ele exigia a permanência em campo durante longos períodos, com comunicação rarefeita com a família.
“Mais recentemente, o clima de tensão imposta aos servidores pelo assassinato do colaborador da FPEVJ [Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari], Maxciel Pereira, em setembro 2019, e os ataques consecutivos com arma de fogo contra a estrutura da Bape [Base de Proteção Etnoambiental] Ituí tornaram ainda mais tensas e ansiosas as perspectivas de trabalho e vida do servidor e sua família”, acrescentou ele.
Diante dessas circunstâncias, o casal decidiu estar o mais junto possível na primeira infância dos filhos.
O indigenista destacou também a fragilidade do órgão, “com o seu defasado quadro de servidores”.
Confira a seguir a íntegra do memorando, obtido pelo Metrópoles: