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Carta em que Bruno pediu para sair da Funai fala em “clima de tensão”

Em documento obtido pelo Metrópoles, indigenista relatou a fragilidade do órgão, sobretudo diante do quadro defasado de funcionários

atualizado

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Funai/Arquivo/Divulgação
Indigenista Bruno Araújo Pereira
1 de 1 Indigenista Bruno Araújo Pereira - Foto: Funai/Arquivo/Divulgação

Como justificativas para seu pedido de licença da Fundação Nacional do Índio (Funai), em dezembro de 2019, o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira relatou um clima de tensão e de fragilidade no órgão, além de ter citado a necessidade de cuidar de sua família. O Metrópoles teve acesso ao memorando por meio do qual o indigenista pleiteou afastamento do órgão.

A licença foi solicitada logo após Bruno Pereira ser exonerado da função de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Assinada pelo então secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Pontel de Souza, a dispensa ocorreu em outubro de 2019.

A decisão ocorreu também na esteira do assassinato do indigenista Maxciel Pereira, em setembro de 2019, e de ataques a uma base da Funai no Vale do Javari.

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Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultados
No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca
Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal 
Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crime
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Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da Amazônia

Photo by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
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Arquivo pessoal
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Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultados

Divulgação
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No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca

Reprodução/Redes sociais
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Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal 

Arquivo pessoal
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Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crime

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Mulheres realizam manifestação após morte de Bruno e Dom na Amazônia

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Bruno e Dom foram interceptados em rio e executados

Material cedido ao Metrópoles
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Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e Bruno

Redes sociais/reprodução
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A tentativa de ocultação, porém, não teria dado certo. Jeferson e Amarildo retornaram no dia seguinte, esquartejaram os corpos e os enterraram em um buraco escavado. A distância entre o local em que os pertences foram escondidos e onde os corpos foram enterrados é de 3,1 km

Divulgação/Polícia Federal
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Depois de fazer uma reconstituição do caso junto a Amarildo, a força-tarefa anuncia ter encontrado “remanescentes humanos” que, mais tarde, se confirmariam como os corpos de Dom e Bruno

Reprodução/Redes sociais
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Em 16 de junho, os corpos de Dom e Bruno chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade

Igo Estrela/Metrópoles
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Em 19 de junho, a polícia informou ter identificado outros cinco suspeitos que teriam atuado na ocultação dos cadáveres. Segundo a PF, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”

Reprodução/Twitter/@andersongtorres
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Exame médico-legal indicou que morte de Dom Phillips foi causada por disparo de arma de fogo

Photo by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
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A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”

Funai/Divulgação
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Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. Ele dedicou a carreira à proteção dos povos indígenas. Nascido no Recife, tinha 41 anos. Ele deixa esposa e três filhos

Reprodução
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Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposa

Twitter/Reprodução

Cerca de dois anos e meio depois, o indigenista e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados durante uma viagem ao Vale do Javari. O crime ocorreu no último dia 5 de junho. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou três homens pelos homicídios.

Zelo pela família e tensão no Vale do Javari

No memorando, Bruno Pereira afirma que a solicitação é “motivada pela necessidade deste servidor, sobretudo para poder dar suporte e zelar por sua família”.

Na ocasião, o indigenista era pai de duas crianças, uma de 14 anos – que morava com a mãe, em Manaus (AM) – e outra de 16 meses. Ele esperava uma terceira filha – a segunda criança fruto da relação com Beatriz Matos.

“A iminência do nascimento do seu segundo filho, a idade tenra no filho mais velho (16 meses) e a ausência de outros familiares (avós, avôs, tios, prima e primos) por perto, que possam ajudar o casal nessa missão de cuidar e educar seus filhos na presença de ambos os pais, foram fatores preponderantes para decisão do servidor e de sua companheira”, escreveu o servidor.

Segundo Bruno, o tipo de trabalho executado por ele exigia a permanência em campo durante longos períodos, com comunicação rarefeita com a família.

“Mais recentemente, o clima de tensão imposta aos servidores pelo assassinato do colaborador da FPEVJ [Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari], Maxciel Pereira, em setembro 2019, e os ataques consecutivos com arma de fogo contra a estrutura da Bape [Base de Proteção Etnoambiental] Ituí tornaram ainda mais tensas e ansiosas as perspectivas de trabalho e vida do servidor e sua família”, acrescentou ele.

Diante dessas circunstâncias, o casal decidiu estar o mais junto possível na primeira infância dos filhos.

O indigenista destacou também a fragilidade do órgão, “com o seu defasado quadro de servidores”.

Confira a seguir a íntegra do memorando, obtido pelo Metrópoles:

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