Ato pelo Dia Nacional da Consciência Negra ocupa a frente do antigo Dops no Rio
A manifestação foi organizada pela campanha Ocupa Dops e pelo Coletivo RJ, Memória, Verdade e Justiça
atualizado
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Um ato pelo Dia Nacional da Consciência Negra ocorreu nesta quinta (19/11) em frente ao prédio onde funcionou o antigo Departamento de Ordem Pública e Social (Dops), no centro do Rio. O local foi ocupado por integrantes de movimentos sociais. A manifestação foi organizada pela campanha Ocupa Dops e pelo Coletivo RJ, Memória, Verdade e Justiça.
O evento começou com uma roda de capoeira e seguiu com apresentações artísticas de música e poesia. A psicóloga Vera Vital Brasil, integrante do Coletivo e do projeto Clínica de Testemunhos, disse que o prédio, além de ter sido local de torturas e de desrespeito aos direitos humanos, durante a ditadura, guardou material de perseguição aos negros no Rio de Janeiro.
“É preciso conhecer o processo de repressão para que as pessoas possam entender que é preciso não repetir a repressão em relação àqueles que foram opositores ao regime militar e também aos negros, que foram altamente combatidos e colocados em condições miseráveis aqui dentro”, afirmou.
Vera Vital Brasil disse também que o encontro era um ato político, com intenção de homenagear todas as pessoas que sofreram violações por parte do Estado por serem negras e também contra o racismo de todos que sofrem preconceito.
A psicóloga afirmou que ainda hoje os setores que são responsáveis pelo suporte ao direito à cidadania cometem crimes contra a humanidade. “A grande mortandade hoje, por parte da polícia, é de negros, jovens pobres, moradores de periferias das comunidades, que têm sido atingidos diretamente pela truculência policial. Temos diversos exemplos no Rio de Janeiro”.
Para o poeta e militante de direitos humanos Deley de Acari, a manifestação é importante para mostrar que o prédio do antigo Dops não serviu apenas para o encarceramento de presos políticos no período da ditadura. “Para nós tem um simbolismo participar do Ocupa Dops. Amanhã é 20 de novembro. É importante lembrar isso e que o processo de encarceramento do povo negro e pobre vem sendo levado à frente”, disse.
A programação do evento incluiu o debate Do Navio Negreiro ao Camburão. A museóloga Pamela de Oliveira, que é mestranda em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), disse que tem se dedicado ao tema e defendeu a preservação do material recolhido com os negros nas primeiras décadas do século 20.
“A polícia apreendia os objetos de cultos de matriz de religiões afro-brasileiras e organizou esse material em uma instituição que foi conhecida como Museu do Crime, que tinha o intuito de formar os policiais para eles entenderem que objetos deveriam apreender quando estivessem nas ruas”, informou.
De acordo com Pamela, a coleção é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo o primeiro tombamento etnográfico feito pelo órgão. Ela [a coleção] não está exposta no prédio que não está em funcionamento, porque precisou passar por reformas para fortalecimento das estruturas, e agora está em um prédio ao lado que pertence à Polícia Civil do Rio.
“Segundo um representante da polícia, a coleção está guardada em reserva técnica em um prédio anexo ao antigo prédio do Dops”, disse. “A importância desta coleção é que ela conta a história dos grupos que foram reprimidos”, acrescentou.
O ato desta quinta-feira relembrou a campanha para a transformação do prédio no Espaço de Memória da Resistência, para ser uma referência aos direitos humanos.