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ABC do batuque: educador do DF cria método que ensina o alfabeto com instrumentos de percussão

Além de alfabetizar as crianças, o professor ajuda a quebrar preconceitos enraizados na sociedade

atualizado

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O professor Ricardo Costa tem um método lúdico de ensinar o bê-a-bá. Ele utiliza a música produzida por instrumentos de percussão para alfabetizar crianças a partir de quatro anos. O baiano de 37 anos, nascido em Salvador, mora no DF há cinco e, além de ensinar a ler e escrever, utiliza os instrumentos para quebrar estereótipos associados à cultura afrodescendente.

“A música está presente no modelo de educação brasileira, mas as escolas só costumam ensinar instrumentos clássicos e nobres. O tambor só fica em evidência próximo ao Dia da Consciência Negra. Meu objetivo é oferecer mais espaço a essa faceta da nossa cultura”, destaca Ricardo.

Para facilitar a compreensão do alfabeto pelas crianças, Ricardo insere as letras em melodias de capoeira. Também ensina os pequenos a batucarem no instrumento, garantindo a diversão durante a aula. “As crianças aprendem brincando e assimilam o conteúdo muito mais rápido”, garante. Agora, ele desenvolve novas formas de misturar outros aspectos da gramática com o batuque do tambor.

Aprendizados da vida
Mesmo com a criatividade, o baiano, que está prestes a se formar em pedagogia, enfrentou dificuldades na capital. Ele veio rumo ao DF para participar de um projeto de percussão que não deu certo. Desde então, teve que viver na rua por alguns dias e dependeu da ajuda de amigos para dar a volta por cima. Hoje, divide os aprendizados que conquistou ao ensinar os pequenos.

Aprendi a ser mais paciente e percebi que as nossas crianças precisam de mais atenção do que o que temos oferecido

Ricardo Costa

Resistência
Apesar da aprovação dos alunos, Ricardo assume que também teve que lidar com a resistência na utilização do método por professores que ainda guardavam visões preconceituosas.

“As pessoas ainda têm preconceitos com as religiões afro-brasileiras e associam os instrumentos de percussão a esse cultos. Lidei com uma professora que inicialmente rejeitou o método porque disse que não queria macumba na escola dela”, lembra Ricardo.

Candomblecista, Ricardo pratica sua religião, mas em sala de aula o método de ensino é laico. O objetivo é exatamente desvincular os instrumentos da imagem negativa carregada por séculos de preconceito.

Hoje, muitos têm vergonha de seguir as religiões africanas devido a ideias espalhadas de forma equivocada. Precisamos discutir mais esses cultos.

Ricardo Costa

E não são só as religiões que precisam de mais visibilidade, de acordo com o educador. “Ainda não vejo muitos negros em posição de destaque. Na escola em que trabalho, de 80 professores só três têm a mesma cor que eu. Reconheço que tivemos alguns avanços, mas ainda é preciso fazer muito mais. O negro não pode ser respeitado só no Dia da Consciência Negra, isso tem que ocorrer o ano inteiro”, conclui.

(Com reportagem de Pedro Alves)

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