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Desmonte coloca em risco força-tarefa da Zelotes

A operação que, já contou com quatro procuradores, conta somente com um, que está nos Estados Unidos fazendo mestrado

atualizado

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1 de 1 PF - Foto: Ednilson Aguiar/O Livre

Deflagrada em 2015 para investigar esquema de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a Operação Zelotes enfrenta um desmonte que “pode prejudicar gravemente todo o trabalho”, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. O alerta é do chefe em exercício da Procuradoria da República do Distrito Federal, Cláudio Drewes, que viu em poucos dias a força-tarefa que atua no caso se dissolver. A opinião dele é compartilhada por outro colega que acaba de ser retirado da operação. “Temo muito sobre o que vai acontecer”, disse o procurador Alexandre Ismail.

A operação chegou a ter quatro procuradores. Hoje, conta apenas com um, que está nos Estados Unidos, onde faz um mestrado. O trabalho remoto impede Frederico Paiva de participar de audiências. O último a sair foi Ismail, que acaba de ser transferido para Roraima, seu Estado de origem. E contra sua vontade.

Como resultado, nas duas últimas semanas ao menos seis audiências – como interrogatório de réus e de testemunhas – foram feitas por procuradores que não estão familiarizados com a operação. Isso em um momento em que mais de 20 processos considerados complexos estão sob instrução e ainda há investigações em andamento.

Em quatro anos de investigação, a Operação Zelotes já apresentou 20 denúncias criminais contra 113 réus, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista foi acusado de tráfico de influência e lavagem de dinheiro nas negociações que levaram à compra de 36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro – caso revelado pelo Estado em 2015. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes é um dos investigados. Ele teria recebido propina para beneficiar uma empresa. O que nega.

Saída

A decisão de devolver o procurador Alexandre Ismail para Roraima, onde está lotado, é da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ele atuava na operação há um ano. Seu pedido para permanecer no caso foi negado no último dia 11 e, até agora, um substituto não foi designado.

Procurada, a assessoria de Dodge nega o esvaziamento da operação e justifica que a saída se deu a pedido da Procuradoria da República de Roraima, onde Ismail é lotado. Afirmou, ainda, que um novo nome pode ser indicado para compor a equipe.

A força-tarefa diz que tenta, há um mês, uma audiência com Dodge, mas sem sucesso. “Eu sinceramente ainda estou tentando entender. Passamos mais de um mês buscando marcar reunião com ela. Até agora, estamos tentando digerir”, disse Ismail.

“Pareceu irônico quando a gente viu na terça-feira (dia 16) que ela (Raquel Dodge) se reuniu com a Lava Jato e manifestou que estava os apoiando”, complementou o procurador. Ele faz coro com o chefe da Procuradoria no DF sobre o futuro da operação: “A Zelotes é uma operação que já estava atuando sem estrutura necessária e agora vai ter ainda mais dificuldade para andar. Isso em um momento em que era necessário dar um gás para finalizar procedimentos. Obviamente se perde o fio da meada”, disse.

Crítica

A nota do procurador Claudio Drewes com crítica nominal a Dodge causou desconforto na Procuradoria-Geral da República e, nesta segunda-feira, 22, acabou removida do site da Procuradoria da República do Distrito Federal. No texto, Drewes alerta para o “encerramento da força-tarefa”, para a perda de “memória do conjunto investigado e a integridade na linha investigativa” e para o “dano ao trabalho ora desenvolvido e ao que está por desenvolver”.

A ordem para retirar a crítica da página teria partido da procuradora-chefe titular, Ana Carolina Alves Araújo Roman. O jornal tentou contato com ela, mas foi informado que está de férias. Drewes considerou que a medida “passou por cima de sua decisão e feriu a sua independência funcional”.

Interlocutores de Raquel, por sua vez, afirmam que a nota tinha natureza política e que o retorno de Ismail a Roraima se deve ao fato de a unidade em que está lotado não ter dado a anuência necessária para a continuidade dele em Brasília.

A Procuradoria da República em Roraima justificou que a medida foi necessária devido ao crescimento na demanda diante da migração de venezuelanos.

Apesar de a posição da unidade original do procurador ter sido respeitada, há precedentes em que isso não ocorreu. A própria Dodge não teria ouvido a posição da Procuradoria da República de Guarulhos ao convocar uma procuradora para trabalhar em Brasília em abril. A unidade foi contra e acionou o Conselho Nacional do Ministério Público para ter a servidora de volta. A PGR não comenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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