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Desemprego ampliado no Brasil é de 21%, quase o dobro da taxa oficial

O índice inclui quem faz bico por falta de opção e trabalha menos do que poderia ou desistiu de procurar emprego

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
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1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A deterioração do mercado de trabalho no Brasil é mais profunda do que indicam as pesquisas tradicionais. Segundo estudo comparativo do banco Credit Suisse, o Brasil está entre os recordistas globais do chamado desemprego ampliado. O levantamento indica que o país tem a sexta maior taxa, 21,2%, entre 31 países desenvolvidos e emergentes que foram avaliados.

Em síntese, a taxa de desemprego tradicional considera apenas quem procura trabalho e não encontra. Já a taxa ampliada usa uma métrica mais complexa: inclui quem faz bico por falta de opção e trabalha menos do que poderia ou desistiu de procurar trabalho — sofre do chamado desalento.

De acordo com os dados mais recentes, do terceiro trimestre de 2016, a taxa de desemprego ampliada do Brasil (21,2%) representa quase o dobro do desemprego oficial, que nesse período alcançou 11,8%. Por esse critério, perto de 23 milhões de brasileiros estariam desempregados ou subutilizados.

Numa comparação internacional, a taxa de desemprego ampliado do Brasil está bem acima da média dos países analisados, que é de 16,1%. Também fica acima da taxa de países com renda comparável à do Brasil, como México (18,3%) e Turquia (15,9%).

O Brasil está atrás apenas de países profundamente afetados pela crise internacional: Grécia (o recordista, com 31,2% de desemprego ampliado), Espanha (29,75%), Itália (24,6%), Croácia (24,6%) e Chipre (23,8%).

Alternativas
O paulistano Tiago de Oliveira Souza, 32 anos, é um exemplo da sutileza da nova estatística. Ele não engrossa a taxa de desemprego tradicional, pois tem uma ocupação: é motorista do Uber. Mas preenche os requisitos para compor a taxa de desemprego ampliado porque é subutilizado. Souza trabalha menos horas do que poderia.

“Tento fazer 8 horas por dia, mas nem sempre consigo, porque tem concorrência. A demanda oscila, tudo é muito imprevisível”, diz.

Tiago também está numa atividade abaixo de suas qualificações. Fala, lê e escreve em inglês com facilidade. Tem, na sua definição, nível “intermediário avançado”. Apenas 5% dos brasileiros têm esse domínio do idioma. De 2004 a 2014, foi metalúrgico na Mercedes-Benz Caminhões, em São Bernardo do Campo (SP). Foi de montador a inspetor de qualidade.

Aderiu a um programa de demissão voluntária pois achou que poderia fazer carreira em outra atividade. Ocorre que, naquele momento, a crise chegou e as suas possibilidades foram se estreitando. Souza, que toca guitarra e violão, foi ser vendedor numa loja de instrumentos musicais, mas não se adaptou. “As metas eram altas e as vendas caíam”, diz.

Decidiu, então, trabalhar num bar de jazz, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo). “Em maio do ano passado, o bar não resistiu e fechou”, diz ele. Por quatro meses, distribuiu currículos, sem sucesso. Sobrou ser motorista. “O Uber era para complementar renda e virou atividade principal. Ainda bem que eu tenho isso.”

Critérios
O economista Sérgio Firpo, professor e pesquisador do Insper, lembra que há muitos critérios para medir o desemprego. Historicamente, o desemprego do IBGE foi inferior ao do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“O que importa é que haja padronização”, diz Firpo. Nesse caso, o desemprego ampliado é um refinamento nas estatísticas que aperfeiçoa a análise do mercado de trabalho.

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