metropoles.com

Desembargador proíbe PF de investigar cúpula da Funai de Bolsonaro

Ex-presidente e ex-vice-presidente da Funai chegaram a ser indiciados no caso Dom e Bruno, mas Judiciário travou a investigação

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Valter Campanato/Agência Brasil
Presidente da Funai, Marcelo Xavier
1 de 1 Presidente da Funai, Marcelo Xavier - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Duas decisões do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) impedem a Polícia Federal (PF) de continuar a investigação contra a cúpula da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), no caso do assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira.

A primeira decisão, do desembargador Ney Bello, é de 27 de novembro do ano passado e impede a continuidade da investigação contra o delegado da PF Marcelo Xavier, que foi presidente da Funai entre 2019 e 2022.

Já uma segunda decisão de 19 de dezembro de 2023, assinada pelo mesmo desembargador, veta a continuidade da investigação do ex-vice-presidente da Funai, o delegado aposentado Alcir Amaral. As duas decisões são provisórias.

Marcelo e Alcir chegaram a ser indiciados por homicídio com dolo eventual (assumir risco das mortes) no inquérito que apura os assassinatos de Dom e Bruno. As investigações sobre a responsabilidade dos dirigentes da Funai ainda estavam em andamento, mas foram paralisadas por causa das duas decisões monocráticas.

Suspensão das investigações

Para o desembargador Ney Bello, Marcelo e Alcir não podem ser responsabilizados pelos homicídios por conta da omissão quanto ao dever de proteção dos servidores e da falta de adoção de providências diante de denúncias.

“O simples dever genérico de proteção e de zelo pelo quadro de servidores de determinada fundação de direito público não pode servir de justa causa para responsabilizar criminalmente o seu gestor pelos dois crimes de homicídio”, escreveu o desembargador na decisão.

Usando o mesmo argumento nos casos de Marcelo e Alcir, Ney Bello determina a suspensão das investigações, em relação aos dois dirigentes da Funai.

Veja as decisões na íntegra:

Omissão

A investigação da PF seguia em sigilo e apontava omissão da direção da Funai diante das ameaças de morte e perigos vivenciados por servidores na região em que o crime aconteceu.

Um dos documentos anexados na investigação era a ata de uma reunião de outubro de 2019, um mês após o assassinato do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, na mesma região em que Bruno e Dom foram mortos em 2022. O documento foi revelado pelo Globo em março do ano passado e confirmado pelo Metrópoles.

Segundo o texto da ata, durante a reunião, Alcir disse que as denúncias de ameaça dos servidores não tinham materialidade e que uma investigação sobre as ameaças não traria resultado. Para a PF, esse documento é um forte indício de dolo eventual.

5 imagens
Dom e Bruno: jornalista e indigenista assassinados no Amazonas
Em 16 de junho, os corpos de Dom e Bruno chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade
Viúvas de Bruno e Dom, Beatriz Matos e Alessandra Sampaio
Bruno e Dom foram interceptados em rio e executados
1 de 5

Exame médico-legal indicou que morte de Dom Phillips foi causada por disparo de arma de fogo

Photo by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
2 de 5

Dom e Bruno: jornalista e indigenista assassinados no Amazonas

Reprodução/Redes sociais
3 de 5

Em 16 de junho, os corpos de Dom e Bruno chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade

Igo Estrela/Metrópoles
4 de 5

Viúvas de Bruno e Dom, Beatriz Matos e Alessandra Sampaio

Marcelo Camargo / Agência Brasil
5 de 5

Bruno e Dom foram interceptados em rio e executados

Material cedido ao Metrópoles

As decisões do desembargador para suspensão das investigações foram tomadas em resposta a dois habeas corpus dos advogados de Marcelo e Alcir. Os casos devem passar por análise do colegiado com votação de três desembargadores. A previsão é que isso ocorra em fevereiro.

Além de Ney Bello, que é o relator, devem votar os desembargadores Maria do Carmo Cardoso e Wilson Alves de Souza.

Advogado defende decisão

Em nota ao Metrópoles, o advogado Bernardo Fenelon, que representa o ex-presidente da Funai, defendeu que a decisão do TRF-1 é incontestável e que o desembargador Ney Bello reverteu uma ilegalidade.

“A tentativa de investigar o delegado Marcelo Xavier surgiu sob o aspecto de dizer que à época, ele também, por ser presidente da Funai, teria alguma culpa por não ter tentado prevenir o crime. Conforme explicitamente apontado na decisão, o Ministério Público Federal, a Força Nacional de Segurança e a Polícia Federal estavam cientes dos problemas da região”, escreveu o advogado na nota.

Relembre o caso

Dom e Bruno foram assassinados em junho de 2022 na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, município do Amazonas. Bruno era servidor da Funai e servia de guia do jornalista. Ele sofria ameaças por causa de sua atuação contra a pesca ilegal.

Segundo as investigações, o mandante do crime foi Rubem Dario da Silva Villar, o “Colômbia”. Além dele, três pessoas foram indiciadas e presas por homicídio e ocultação de cadáver. Um segurança particular da “Colômbia” foi preso em dezembro do ano passado.

A parte da investigação que não envolve os dirigentes da Funai continua. Os investigadores apuram mais ligações do grupo criminoso comandado por “Colômbia”.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?