Deputado bolsonarista “não busca homenagear Marielle”, diz viúva
Rodrigo Amorim (PSL), que quebrou placa da vereadora assassinada, quer criação de uma casa de acolhimento a mulheres com o nome dela no Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – A vereadora Monica Benicio (PSol-RJ), viúva de Marielle Franco, assassinada em 2018, reagiu à nova proposta do deputado estadual bolsonarista Rodrigo Amorim, do PSL. Ele quer que o governador Cláudio Castro, do PL, crie uma casa de acolhimento a mulheres em situação de vulnerabilidade, na Vila Mimosa, Praça da Bandeira, zona norte, famosa área de prostituição da cidade.
“É evidente que o deputado não busca homenagear Marielle, até porque trata-se da mesma pessoa que durante a campanha quebrou a placa de minha companheira, e depois a emoldurou para pendurá-la como forma de troféu em seu gabinete. Isso depois que ela havia sido barbaramente assassinada, num atentado para o qual o Estado ainda não apresentou resposta”, diz a viúva em trecho de nota enviada ao Metrópoles.
Amorim encaminhou a indicação 6490/2021 com o pedido ao governador na Assembleia Legislativa (Alerj) em 27 de setembro. Em outubro de 2018, o parlamentar, ao lado do deputado federal Daniel Silveira, do PSL, quebrou a placa com o nome de Marielle. Silveira está preso desde de fevereiro por ataques antidemocráticos ao Supremo Tribunal Federal.
A homenagem à vereadora, assassinada junto com o motorista Anderson Gomes a tiros, tinha sido colocada por manifestantes sobre a placa que indicava a Praça Marechal Floriano, em frente à Câmara de Vereadores do Rio, no Centro.
Monica Benicio chamou Amorim de “medieval” e o comparou a uma nuvem que pode ser interpretada como um animal, mas alegou que ainda não conseguiu decifrá-lo.
Ela apoia a construção de acolhimento, como garantia de direitos, mas é enfática: “Minha conclusão: esse deputado bolsonarista não é digno de propor tal iniciativa. Toda essa truculência, seu ódio e falsidade vão terminar por levá-lo à cadeia, onde seu parceiro no quebramento da placa já se encontra”, alega em outro trecho a viúva da parlamentar.
Leia a nota na íntegra:
“Tem uma figurinha do WhatsApp que eu gosto muito, ela diz o seguinte: tem gente que é igual a nuvem, você olha e vê um animal. Eis que um deputado bolsonarista indicou a implementação de uma casa de acolhimento a mulheres em situação de vulnerabilidade na Vila Mimosa, batizando-a de Marielle Franco.
Num texto que navega entre a ignorância e a hipocrisia, ele justificou: ‘Sabe-se que uma das pautas da vereadora e seus séquitos é aplicação dos Direitos Humanos nas mais situações inusitadas, sempre em defesa daqueles que, inclusive, vivem à margem da lei. Nesse sentido, visando homenagear a citada vereadora, implantar uma casa de acolhimento num dos redutos de prostituição da cidade do Rio de Janeiro, é tentar preservar as mulheres que ali estão expostas, proporcionando mais dignidade’.
É evidente que o deputado não busca homenagear Marielle, até porque trata-se da mesma pessoa que durante a campanha quebrou a placa de minha companheira, e depois a emoldurou para pendurá-la como forma de troféu em seu gabinete. Isso depois que ela havia sido barbaramente assassinada, num atentado para o qual o Estado ainda não apresentou resposta. Ou seja, o pensamento do deputado bolsonarista é tão medieval que em pleno século XXI ele se comporta como uma nuvem. Eu olho e tento decifrar.
A despeito da evidente desfaçatez desse parlamentar, posso garantir que para Marielle, pra mim, e pra todas as pessoas que lutam por um mundo melhor, as casas de acolhimento são fundamentais para a garantia de direitos. Sejam elas construídas em qualquer lugar da cidade, desde que atendam às pessoas que mais precisam, sobretudo numa sociedade capitalista patriarcal, extremamente violenta, como a que ele defende. Minha conclusão: esse deputado bolsonarista não é digno de propor tal iniciativa. Toda essa truculência, seu ódio e falsidade vão terminar por levá-lo à cadeia, onde seu parceiro no quebramento da placa já se encontra.
Ao contrário desse deputado, as prostitutas e todas as mulheres são dignas e muitas delas carecem de casas de acolhimentos, de modo que batizar uma delas com o nome de Marielle Franco é, sim, uma PUTA homenagem. Eu posso garantir: com muito orgulho, que em frente a essa casa, ao lado dessas mulheres que são cotidianamente violentadas, mais uma vez levantaremos nosso punhos e gritaremos por Justiça. E parafraseando Marielle, Nós não seremos interrompidas! Nenhuma de nós! Nenhuma a menos!
22 de Outubro de 2021. 1318 dias. 43 meses sem resposta.
#QuemMandouMatarMarielle
#JustiçaParaMarielleEAnderson”