Delegados preveem “apagão” na PF após racha com Bolsonaro
Retaliação seria resposta ao governo por ter apoiado a manutenção das polícias na PEC que proíbe aumento de salários e contratações
atualizado
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Após subirem o tom contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), integrantes da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) enviaram um ofício às superintendências regionais anunciando um “apagão” no trabalho da corporação.
A reação vem após a base aliada do governo na Câmara votar contra um emenda que retirava as forças de segurança da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial, que prevê congelamento de salários e suspensão de contratações.
Nesta quarta-feira (10/3), a União dos Policiais do Brasil (UPB), que reúne mais de 20 entidades, manifestou indignação e preocupação com o que consideraram uma traição do governo.
“A situação pode levar a categoria a um ‘apagão’ nas próximas horas. Solicito, em nome da ADPF, que sejam os porta-vozes dessa gravidade junto ao diretor-geral da Polícia Federal e que juntos levem essa situação ao presidente da República e defendam a Polícia Federal neste momento de gravidade”, destaca trecho do documento.
O texto ainda ressalta: “A segurança pública não parou e está na linha de frente contra a pandemia, portanto, não pode ser tratada dessa forma desrespeitosa pelo governo federal”, conclui.
Nos bastidores, as categorias farão reuniões para discutir alguma forma de greve ou paralização. O resultado da articulação deve ocorrer nesta quinta-feira (11/3).
Críticas a Bolsonaro
Um dos principais grupos de apoio ao presidente Bolsonaro na eleição de 2018, as forças policiais sacramentaram uma ruptura com o chefe do Palácio do Planalto. Se na campanha eleitoral a categoria foi, ao lado de evangélicos e conservadores, uma força motriz para a vitória nas urnas, hoje, a relação anda estremecida.
Edvandir Paiva, presidente da Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal (ADPF), afirmou que os policiais continuaram trabalhando mesmo durante a pandemia. Em um balanço, Jurandir disse que a Polícia Federal realizou seis mil operações e recuperou R$ 9,6 bilhões.
“A PEC traz dispositivos desproporcionais. Não é adequado congelar contratações por 15 anos. Neste período, teremos aumento de população, de criminalidade. Como vamos atrair profissionais com congelamento de progressões? Desde 2016 não há reajuste de salários”, criticou.
Resposta a Mourão
O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), também saiu na defesa da PEC e pediu a “cota de sacrifício” das carreiras policiais na aprovação da matéria.
Marcelo Azevedo, diretor Jurídico da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), afirmou que declarações como a do vice-presidente causam reações nas bases policiais.
“Uma declaração como essa que causa nas bases sesse tipo de reação. Na PEC da Previdência, não vimos o vice-presidente exigir o sacrifico das Forças Armadas. Vimos arrocho dos policiais”, rebateu.
Os prejuízos para a categoria, na prática, se a PEC for aprovada, envolvem o congelamento de salário, proibição de ascensão de carreira e, sempre que houver decretação de estado de calamidade, a impossibilidade de novas contratações.