Delegados da PF ameaçam fazer paralisação antes das Olimpíadas
Serviços como a autorização de entrada de estrangeiros no país serão afetados caso os policiais entrem em greve. Operações e grandes investigações conduzidas pelos servidores também podem ser prejudicadas
atualizado
Compartilhar notícia
Os policiais federais estão insatisfeitos. As queixas sobre as condições de trabalho são muitas e, inconformados, os delegados ameaçam fazer greve mesmo antes das Olimpíadas, que começam em 5 de agosto. Não bastasse a transferência de integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR), considerada por muitos como um episódio “mal explicado”, a categoria teme se tornar a única entre as que integram as carreiras típicas de Estado a não ter o projeto de lei que prevê a recomposição inflacionária enviado ao Congresso Nacional.
O último reajuste foi de 15,8%, concedido em 2012. Caso a paralisação ocorra, serviços como a autorização de entrada de estrangeiros no país podem ser afetados. Operações e grandes investigações conduzidas pelos servidores também serão prejudicadas.Em outubro de 2015, o diretor-geral enviou um comunicado, via intranet, para os servidores afirmando que a categoria teria o mesmo tratamento dado aos servidores da Advocacia Geral da União (AGU) e da Receita Federal com relação às negociações salariais. Contudo, alguns delegados ouvidos pela reportagem contaram que a nota, hoje, causa ainda mais desgaste pois a garantia não foi cumprida.
Os policiais têm cobrado ações mais enérgicas do diretor-geral, Leandro Daiello — que está na função desde o início de 2011, nomeado pela presidente Dilma Rousseff –, para que as demandas trabalhistas sejam resolvidas com celeridade. Assembleias estão marcadas para os próximos dias.
O Metrópoles apurou, no entanto, que, informalmente, grande parte da classe se mostrou favorável à suspensão dos serviços. A tensão tem aumentado até na própria cúpula da PF. Segundo informações obtidas, alguns diretores sequer conseguem ser recebidos por Daiello.
Reivindicações
Entre as principais bandeiras levantadas pelos delegados da PF está a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 412/2009 (PEC 412), que prevê a autonomia funcional e administrativa da categoria. A proposta ainda precisa ter a admissibilidade aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados e, depois, ser aprovada, em dois turnos, por três quintos dos deputados e dos senadores.
Outra demanda é a realização de concurso para delegados de polícia para repor as vagas em aberto, estimadas em 500. Além disso, há muitas aposentadorias previstas. Entre os que estão na ativa, dois foram alvo de polêmica na última semana após deixarem a força-tarefa da Lava Jato: Eduardo Mauat e Duílio Mocelin.
Para o conselho de diretores da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), a medida gera atrasos e prejuízos que poderiam ser evitados por meio da simples manutenção do grupo atual de trabalho.
Mauat gravou um vídeo na última semana no qual expressa sua inconformação com a substituição forçada. Ele diz que seu planejamento era ficar na operação até agosto e revela preocupação com as condições de trabalho dos investigadores.
“Devemos permanecer vigilantes para que sejam fornecidas as condições necessárias às pessoas que trabalham na atividade fim para que realizem seu trabalho e as pessoas que atuam na parte logística, que efetivamente façam o seu trabalho, com eficiência, independência e profissionalismo”, afirmou.
Os delegados lutam, ainda, para que o presidente em exercício, Michel Temer, acate a lista tríplice elaborada pela categoria para escolher um novo nome para ocupar o cargo máximo da PF.
Procurada, a Polícia Federal não se manifestou sobre o caso até a publicação desta reportagem.