Delegada vítima de racismo poderia ter dado voz de prisão
Anna Nery, delegada responsável pelo caso, disse que a colega de profissão, Ana Paula Barroso, ficou “em choque” com a situação
atualizado
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A delegada Ana Paula Barroso, que denuncia um caso de racismo em uma loja da Zara, em Fortaleza, é diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Ceará. Ela acusa o estabelecimento de não permitir que ela entrasse por “questões de segurança”.
O inquérito policial que investiga o suposto crime está sendo analisado pela delegada Anna Nery, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza. Ela conta que a vítima registrou um Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOE) no mesmo dia do acontecimento.
De acordo com o jornal Diário do Nordeste, Ana Paula relatou que chegou ao estabelecimento por volta de 21h20, consumindo um sorvete. Ao tentar entrar na loja, entretanto, foi barrada pelo segurança da Zara. A delegada questionou se o motivo seria o sorvete, mas não obteve explicação.
Nery conta que o homem “já foi retirando, impedindo o ingresso na loja. Ela foi colocada para fora da loja”. Fora da Zara, Ana Paula questionou um segurança do shopping se o sorvete seria o motivo de ser impedida de adentrar a loja. O homem disse que não e solicitou a presença do chefe de segurança no local.
Contudo, o novo agente reconheceu a delegada, uma vez que já havia trabalhado com ela em outra oportunidade.
“Pelas imagens do shopping, de forma notória ela está abalada e conversando, tentando entender o que está ocorrendo. Ela fica tentando indagar”, relata Anna Nery.
Ana Paula foi conduzida ao estabelecimento novamente, acompanhada pelos outros dois seguranças. O funcionário que impediu a entrada da vítima adotou uma postura defensiva quando avistou os três.
“Ele já foi logo dizendo que não tinha nenhum preconceito, que tinha várias amizades gays, lésbicas e trans. Quando ele fala isso, de forma velada, já mostra que tem preconceito. Essas declarações foram dadas no BOE e ratificadas pelo chefe da segurança. Depois, ele pediu desculpa e ela saiu da loja extremamente abalada”, explica Anna Nery.
“Quero deixar claro que, em nenhum momento, ela se identificou. Ela poderia inclusive ter dado voz de prisão em flagrante por sua autoridade policial, mas, em razão de ter ficado extremamente consternada pela situação, de ter ficado em choque por precisar passar por uma situação dessas em pleno século XXI, não deu voz de prisão”, conta a delega Anna Nery.
Nery também aponta que, nos dois primeiros ofícios enviados à Zara para a requisição das imagens do circuito interno, a administração alegou que teria de consultar a assessoria jurídica. “Tentamos sensibilizar sobre a necessidade de preservar essas imagens sob pena de a loja responder por fraude processual. Ainda assim, não adiantou. O terceiro meio foi a busca e a apreensão”, relata.
Em contrapartida, a administração do shopping cedeu as imagens “sem nenhum problema”.
Material será investigado
Os vídeos foram enviados à Perícia Forense, que também checará possíveis adulterações. A delegada Anna Nery afirmou que os laudos devem sair entre 15 e 20 dias.
Outros dois seguranças do shopping, uma cliente que estava na loja e presenciou o caso e o funcionário envolvido devem ser ouvidos enquanto o material é investigado.
Retorno negado
A Polícia Civil do Ceará afirmou, em nota divulgada no domingo (19/9), que a apreensão das imagens só foi necessária após a recusa da Zara em fornecer o material requisitado.
As imagens do circuito de segurança foram pedidas inicialmente com as apurações em andamento. Entretanto, o retorno foi negado. Dessa forma, a representação pelo mandado de busca e apreensão junto ao Poder Judiciário foi realizada.
Os equipamentos apreendidos serão utilizados para subsidiar as investigações em andamento.