Delegada vítima de racismo afirma que vai levar o caso “até o fim”
Ana Paula Barroso foi impedida de entrar em loja da Zara e conta que o cargo que ocupa não permite “deixar passar um caso como esse”
atualizado
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A delegada Ana Paula Barroso, que foi impedida de entrar na loja Zara de um shopping em Fortaleza, afirmou que pretende levar a denúncia até o fim. O cargo que ocupa, como diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil, colabora com esse objetivo.
Em entrevista ao O Globo, ela afirmou que “é uma pauta honrosa, que preciso levar adiante, até pelo cargo que ocupo. Uma delegada que trabalha com grupos vulneráveis não pode deixar passar um caso como esse”.
Ana Paula foi barrada na loja na última terça-feira (14/9), sendo abordada por um funcionário assim que adentrou o estabelecimento. O homem dizia que ela deveria sair do local por “questões de segurança”. A Delegacia de Defesa da Mulher em Fortaleza apura se houve racismo contra a delegada.
“Achei que fosse um vendedor, que ele fosse me apresentar as roupas. Mas ele só me orientava a sair da loja por questão de segurança. Ele foi enfático, então, acatei a ordem e procurei o chefe de segurança do shopping, que me falou que a abordagem foi indevida”, relata a vítima.
Ana Paula voltou à loja acompanhada do chefe de segurança. Ela conta que o atendente foi questionado sobre o motivo que impedia a entrada da delegada no estabelecimento e “ficou sem justificativa plausível”.
“Ele se desculpou, tentou justificar que tem amigos negros, amigos transexuais, disse que não tem preconceito. Eu respondi que aceitava as desculpas, mas o chefe de segurança me falou que precisava fazer um relatório, no qual constaria que o atendente confirmou minha versão. Só depois desse relatório e de falar com amigos e família que ficou clara a situação de racismo na minha cabeça”, explica Ana Paula.
Racismo velado
A delegada lembra que esse comportamento é “tão velado, tão sutil, que é difícil de perceber no momento. É tão impactante que, sozinha, você não consegue ser combativa na hora que acontece”.
Um inquérito foi instaurado para investigar o que aconteceu na loja. Entretanto, o estabelecimento foi resistente a entregar as imagens das câmeras de segurança solicitadas pelas autoridades policiais. Dessa forma, os vídeos só foram obtidos depois da judicialização.
Na segunda-feira (20/9), um mandado de busca e apreensão foi cumprido na Zara. A perícia checará agora se os vídeos recolhidos foram adulterados, além de tentar reconstituir o episódio.
“É um dissabor, um trauma, gera cansaço, mas vou levar até o fim. Senão, daqui a pouco vão querer se isentar, dizer que se equivocaram, vir com essas evasivas do dia a dia. Porque o racismo muitas vezes não é verbalizado, a pessoa não diz que você não vai entrar porque é negra. Então, é importante levar o caso adiante para mostrar que houve racismo na situação que passei”, reitera a delegada.
O boletim de ocorrência registrado por Ana Paula relata que ela chegou à loja tomando um sorvete. A Zara se manifestou sobre o caso e alegou que a delegada foi impedida de entrar porque não estava usando máscara e que não tolera discriminações.