De vendedor de chip a gigante das redes: quem está por trás do Choquei
O Metrópoles entrevistou o criador da página Choquei, que nasceu como uma brincadeira e acabou virando protagonista das eleições
atualizado
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Às 19h58 da noite do dia 30 de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgava o resultado da eleição presidencial mais acirrada da história. Mas nas redes, cerca de 50 minutos antes, o Choquei já cravava: “URGENTE: Luiz Inácio Lula da Silva é eleito nas urnas o 39º Presidente do Brasil!”. Não era oficial, mas foi o suficiente para render mais de 350 mil interações no Twitter e 1 milhão no Instagram.
Os números refletem o fenômeno da conta que começou como uma brincadeira e virou um dos perfis de notícias mais relevantes das eleições. Adotando uma linha lulista, o Choquei furou a bolha dos fofoqueiros de Instagram e bateu de frente com o engajamento do influencer Felipe Neto e do deputado federal André Janones, principal nome da campanha de Lula nas redes.
O meme do “correspondente do Choquei” não é por acaso. Basta visitar a página que você encontra fatos sobre celebridades, política brasileira, economia, saúde e cobertura internacional. O perfil fala sobre tudo, em todo lugar, e ao mesmo tempo, como se tivesse um representante em cada canto do mundo.
Por trás da página, no entanto, quem faz a máquina rodar são sete pessoas: três funcionários para o Twitter e três para o Instagram se revezando para produzir conteúdo de manhã, tarde e noite. À frente de tudo está o goiano Raphael Sousa Oliveira, de 28 anos.
Ele conta que o negócio começou sem muita pretensão de viralizar, como uma brincadeira, em 2014, já no início do Instagram no Brasil. Na época, viu que a rede social era uma promessa para o futuro da internet e decidiu criar a conta. Em pouco tempo, alcançou um milhão de seguidores. Foi quando começaram a chegar as propostas de publicidade.
“Vários lojistas e influenciadores que queriam migrar do Facebook para o Instagram pagavam um preço simbólico para fazer publicidade no perfil, crescer a conta, divulgar a loja etc.”, detalha.
Quando começou o negócio, Raphal trabalhava como vendedor de chip de uma operadora de telefone. Antes, tinha sido menor aprendiz. O rapaz, que não tinha experiência nenhuma com redes sociais, foi aprendendo “na marra” como lidar com o mundo digital.
Furando a bolha
Nos últimos anos, o fenômeno dos perfis de fofoca se espalhou pela internet, principalmente no Instagram, e hoje reúne milhões de seguidores. São contas especializadas em cobrir briga de celebridades, reality shows, separações, novos casais, virais, e outras variedades.
Em fevereiro deste ano, no entanto, a Choquei que até então fazia parte dessa bolha, entrou na cobertura sobre a guerra da Ucrânia, o que gerou uma onda de críticas nas redes. As falas diziam respeito, principalmente, às fontes usadas nas informações que eram replicadas.
“O pessoal comparava bastante todos os outros portais com o nosso, mas a gente tinha fonte e era confiável. Todas as nossas fontes eram jornais ingleses, pessoas verificadas, jornalistas”, justifica Raphael.
“Essas críticas são construtivas porque a gente acaba melhorando nesses aspectos. Agora, toda vez que vamos noticiar uma coisa que vemos que o pessoal vai duvidar, a gente coloca a fonte.”
Relação com Lula
Apesar do alvoroço em torno da cobertura da guerra da Ucrânia, Raphael diz que não existem filtros sobre o pode ou não ser postado na página. “A própria equipe já sabe o que rende, o que não rende, o que é legal noticiar, o que não é, o que tem relevância e o que não. Isso não parte de mim”, conta.
O único conteúdo que até então era vetado, caiu recentemente: política. O Choquei entrou de cabeça na cobertura de eleições e terminou o segundo turno como um dos perfis líderes de engajamento, sobretudo entre os apoiadores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
“Um dos administradores [das páginas] me convenceu que o pessoal ia se adaptar com esse tipo de conteúdo e a gente começou a retirar o filtro”, disse.
Durante as eleições, o Choquei adotou uma postura abertamente a favor do ex-presidente. O criador garante que a decisão de apoiar o petista aconteceu de forma orgânica e se deu muito mais em função da postura do adversário, Jair Bolsonaro (PL), em relação à pandemia de Covid-19 e o atraso na compra das vacinas do que em admiração a Lula.
“Enquanto milhares de amigos, familiares, das pessoas estavam morrendo e ele [Bolsonaro] fazia piadinha”, lembra. “Aquilo me chateou bastante e me fez ficar contra a reeleição. Obviamente, o candidato que fosse bater de frente com ele teria meu voto, independente se fosse o Lula, se fosse fulano ou ciclano.”
Raphael diz que a relação que guarda com Lula e a futura primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, é estritamente profissional. Ele tem acesso direto aos dois, mas só os aciona para confirmar uma ou outra informação. “Na maioria das vezes a galera acha que eu sou PT. Mas não é essa a verdade.”
Futuro
Após as eleições, o Choquei bateu 2 milhões de seguidores no Twitter e soma quase 18 milhões no Instagram. Raphael avalia que o período foi um “divisor de águas” no tipo de conteúdo que as páginas produzem na internet.
“Eu não acho que é necessário se posicionar, mas que não deixe de noticiar”, pontua. “Acho que abriu portas pra todo mundo. Se falar de política era o medo, agora tá liberado.”
Os próximos passos, segundo o criador, é a criação de um site para apostar na produção de conteúdo mais exclusivo. O novo braço do Choquei deve chegar no início do ano.