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De HIV a gravidez: laboratório é acusado de erros em testes há 10 anos

Envolvido em caso de transplantes contaminados com HIV, laboratório do Rio de Janeiro já foi acusado de erros em outros exames

atualizado

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Reprodução/ PCS
Montagem com fotos coloridas do interior do Laboratório Saleme - Metrópoles
1 de 1 Montagem com fotos coloridas do interior do Laboratório Saleme - Metrópoles - Foto: Reprodução/ PCS

O PCS Lab Saleme, laboratório interditado no caso dos órgãos transplantados contaminados com HIV, tem pelo menos seis processos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que envolvem acusações de erros no resultado de exames.

Entre os exames que os pacientes denunciaram erros, há dois casos de exames de gravidez, um de HPV, um de fator RH, um de colesterol e um de HIV. Os processos abrangem casos de mais de 10 anos atrás.

No caso do HIV, a paciente recebeu um teste falso positivo na unidade do laboratório de Belford Roxo (RJ) em 2010. Ela só descobriu o engano depois de dois meses. A paciente fechou um acordo de R$ 20 mil com os sócios do PCS Lab em julho de 2023, depois de ganhar o caso na Justiça.

Montagem com fotos de donos do PCS Lab Rio de Janeiro - Metrópoles
Pai e filho: Walter Vieira e Matheus Sales são donos do laboratório interditado após transplante com HIV

Troca de exames de gravidez

Já uma jovem de Belford Roxo procurou o laboratório em janeiro de 2022 para confirmar uma gravidez. Ela chegou a comemorar o resultado positivo do exame, que recebeu pela internet. Mas quando chegou para pegar a versão impressa do exame, foi informada de que houve um erro no sistema e que ela não estava grávida.

Um mês depois passou mal e fez uma ultrassonografia em outro laboratório, descobrindo que estava sim grávida.

“Não se trata de falso positivo do exame de gravidez, mas de erro quando da impressão e entrega do resultado dos exames”, escreveu a defesa da jovem no processo.

Uma outra jovem da mesma cidade passou por algo parecido em janeiro de 2019. Ela procurou o laboratório PCS Lab porque suspeitou que estava grávida. O resultado do exame foi negativo, mas ela continuou a sentir os sintomas de gravidez.

Acabou descobrindo que esperava um bebê quando fez uma ultrassonografia quatro meses depois. Nesse meio tempo, tomou chás caseiros que colocavam a gravidez em risco, por achar que estava com algum problema intestinal.

Os dois casos de acusação de erro em testes de gravidez ainda não têm sentenças e tramitam na 1ª Vara Cível de Belford Roxo.

Outros exames com erro

Uma jovem grávida de Nova Iguaçu (RJ) fez um exame de Fator RH em 2022 e o resultado foi O Negativo. Preocupada com a necessidade de tomar uma injeção de imunoglobulina, foi surpreendida quando sua mãe informou que ela, desde criança, era RH O Positivo. A versão da mãe foi confirmada em novos exames em outros laboratórios. O caso ainda não teve sentença e segue em tramitação no TJRJ.

Já uma jovem de Mesquita (RJ) relatou ter passado por grande constrangimento após um diagnóstico errado de câncer do colo do útero causado por HPV, doença sexualmente transmissível. O caso é de 2017. A paciente já tinha começado a realizar o tratamento, quando procurou um novo laboratório e descobriu que não tinha a doença.

A Vara Cível de Mesquita condenou o laboratório a pagar uma indenização de R$ 3 mil por danos morais, em sentença de outubro de 2021. A jovem pediu uma alteração do valor para R$ 30 mil, mas o tribunal não aceitou.

Há também um processo de 2018 de uma mulher que processou o laboratório porque o filho recebeu um exame trocado, mostrando vários resultados alterados e alto índice do colesterol. O erro foi constatado após novo exame em outro laboratório. A mãe desconfia que houve uma troca de resultado do exame, já que o nome do médico solicitante no exame impresso estava errado.

O Juizado Especial Cível de Nova Iguaçu extinguiu o processo em julho de 2018 por falta de perícia, que não teria sido possível por causa do perfil do tribunal.

A reportagem entrou em contrato com o PCS Lab e questionou sobre as acusações de erro médico anteriores ao caso de transplante com HIV, mas não houve retorno até a publicação da matéria. O espaço segue aberto.

Transplantes com HIV

O PCS Lab está no centro de um grave escândalo no Rio de Janeiro, após seis pacientes da rede estadual terem sido contaminados com HIV devido ao transplante de órgãos infectados. O laboratório foi responsável pela realização dos testes sorológicos nos doadores.

Com a descoberta da contaminação, o laboratório foi interditado, e os contratos para a realização de exames para o Governo do Estado suspensos. A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro classificou o caso como intolerável, anunciando a instauração de uma investigação formal para apurar responsabilidades.

Uma comissão multidisciplinar também foi criada com o objetivo de oferecer suporte psicológico e médico aos pacientes afetados. O Ministério da Saúde, por sua vez, anunciou que fará uma auditoria e determinou novos testes em doadores.

O PCS Lab, que opera há mais de 50 anos na região da Baixada Fluminense, destaca em seu site a realização de exames a preços acessíveis. Dois dos três sócios do laboratório têm vínculos familiares com o deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ), ex-secretário de Saúde do Estado. Walter Vieira e Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, tio e primo do parlamentar, respectivamente, são sócios da empresa.

O deputado negou qualquer envolvimento na escolha do laboratório e se posicionou a favor de punições rigorosas aos responsáveis pela contaminação. Matheus Sales não respondeu aos pedidos de entrevista, mas a assessoria do laboratório informou, por meio de nota, que uma sindicância interna está em andamento e que a assistência aos pacientes contaminados está sendo prestada. A empresa também destacou que segue os protocolos da Anvisa e do Ministério da Saúde na realização de exames.

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